Alexandre Teodoro de Lima, 35 anos, e Marcio Nascimento Cunha, 41, se conheceram por meio de uma amiga há quase 15 anos. “Acho que você vai gostar dele”, disse ela a Márcio. Um com 20 anos, outro com 26, foi quase amor à primeira vista. Não deu seis meses já estavam morando juntos em Belford Roxo, na Baixada Fluminense, região metropolitana do Rio.

Márcio, costureiro por vocação e auxiliar de serviços gerais para pagar as contas, já havia sido casado dois anos com um mecânico que morreu. Foi o primeiro namorado de Alexandre, também auxiliar de serviços gerais, que deixou a casa da , evangélica, e até hoje descrente do casal, em prol do relacionamento.

Com as alianças já nas mãos, mas ainda sem os nomes gravados, eles se preparam para oficializar a união ao lado de outros 129 casais que participam da cerimônia coletiva de casamento civil homoafetivo que será realizada pelo Tribunal de Justiça do Rio neste domingo.

Alexandre não fazia muita questão – “a gente já é casado” -, mas Márcio insistiu. “Todo mundo morre algum dia. Se por acaso eu faltar, quero que ele tenha direitos”, explica o costureiro. E o que começou como uma forma de garantir o futuro um do outro cresceu e terminou em festa, de fazer inveja aos vizinhos, curiosos e inspirar os amigos.

Como inicialmente o casamento coletivo estava marcado para o dia 1º de setembro, um domingo, a festa foi programada para o sábado seguinte, no feriado do dia 7. “Desmarcaram novamente e remarcaram para dezembro. Porém, não tinha como mudar a festa e fizemos antes mesmo assim”, explica Márcio.

Os dois organizaram uma cerimônia para cerca de 60 pessoas em um salão perto de casa e chegaram de mãos dadas e smoking branco, causando comoção no bairro. “Ninguém nunca tinha visto nada assim. Parecia até que éramos artistas de tanta foto. Estamos no Facebook de todo mundo”, diz Márcio, ao lembrar que a vizinhança se amontoou na rua para vê-los.

A decoração colorida, com o tema arco-íris, repetido até no bolo, presente de uma tia, deu o que falar. Na hora da primeira fatia, mais quebra de protocolo. Alexandre cantou Prepara, da funkeira Anitta, e tirou Márcio para dançar. Depois os dois jogaram cada um uma rosa vermelha para as solteiras e solteiros entre a plateia. “Teve menina que brigou. Duas dividiram. Uma ficou com o cabo, outro com o botão”, diz Alexandre.

Até hoje há quem esbarre pelo casal e pergunte da festa. “Já tem gente no trabalho dizendo que vai copiar. Foi uma sensação”, diz Márcio.

Enquanto a família de Márcio foi em peso à festa, Alexandre teve apenas a companhia da irmã e do cunhado. “Talvez a mãe dele quisesse ele casado, com netos. Tem gente que não aceita”, reflete Márcio.

Para 2015 o casal, que divide a casa com um cachorro chamado Blecaute e uma gatinha de nove meses batizada de Aisha em homenagem a novela Salve Jorge, pensa em ampliar a família. “Sonho em adotar uma menina”, diz Márcio.

Apesar da troca de alianças, Márcio conta que os dois evitam andar de mãos dadas e se beijar em público. Apenas em 2012 foram registrados 9.982 casos de violações contra lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais, segundo dados da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República e Belford Roxo é considerada uma das cidades mais violentas da Baixada.

O Censo 2010 identificou 60 mil casais homoafetivos no país, número que, para o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística () ainda é aproximado, já que está foi a primeira vez que a pesquisa colocou a pergunta no questionário.

Márcio, no entanto, diverte-se ao pensar no que vai acontecer da próxima vez que tiver que preencher um formulário. “Antes a gente colocava solteiro, dizia que estava junto apenas se perguntassem. Quero ver a cara do funcionário quando eu escrever casado e o nome do Alexandre na parte do cônjuge.”