Brasileira relata cotidiano de instabilidade com prostestos na Tailândia

A brasileira Thais Pinheiro passeava com o filho de quatro anos em Bangcoc quando se deparou com crise política que assola a Tailândia nos últimos dias. Ela estava em um shopping de luxo, que acabou fechado ante o temor de ser atacado por manifestantes, que há dias pedem a renúncia da primeira-ministra Yingluck Shinawatra. “Foi […]

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A brasileira Thais Pinheiro passeava com o filho de quatro anos em Bangcoc quando se deparou com crise política que assola a Tailândia nos últimos dias. Ela estava em um shopping de luxo, que acabou fechado ante o temor de ser atacado por manifestantes, que há dias pedem a renúncia da primeira-ministra Yingluck Shinawatra.

“Foi um desespero. Um horror, todo mundo empurrando, correria, um assobio ensurdecedor. Peguei meu filho no colo e consegui fugir por muito pouco”, relatou por telefone.

As ruas de Bangcoc estão tomadas por protestos. Os manifestantes pedem a saída da primeira-ministra, a quem acusam de ser manipulada pelo irmão, o ex-primeiro-ministro Thaksin Shinawatra, derrubado em um golpe militar em 2006 e exilado desde então.

Nesta segunda-feira, Yingluck Shinawatra afirmou estar disposta a dialogar com a oposição. Ela se recusa, no entanto, a deixar o governo.

Governistas e oposicionistas têm entrado em confronto em Bangcoc. Visivelmente apreensiva, Thais conta que passou a estocar comida em casa. Ela diz que já sacou as economias do banco e pensa em deixar o país a qualquer momento.

“Meu marido já está na Europa e eu estou aqui sozinha com meu filho pequeno. Dá muito medo essa sensação de instabilidade”, diz.

Poucos minutosThais, que trabalha na indústria do turismo, conta que foi surpreendida pelo fechamento repentino do shopping, enquanto uma pequena multidão pedia a queda do governo do lado de fora. “Se tivesse ido ao banheiro a gente não conseguiria mais sair de lá”, diz.

Ela recorda que teve de deixar o shopping em meio à confusão, com a criança no colo, enquanto era empurrada sob o barulho “ensurdecedor” dos apitos. “Senti muito medo”, diz.

A brasileira finalmente conseguiu chegar a uma estação do metrô e retornar para a casa. Trabalhando no país há quatro anos, ela quer agora deixar a Tailândia. A embaixada brasileira em Bangcoc recomenda que se evite as áreas de protestos, mas não anunciou nenhuma medida para retirar brasileiros do país.

Protestos

Os protestos da oposição, que vinham ocorrendo pacificamente, se intensificaram no fim de semana. No sábado, a polícia utilizou gás lacrimogênio e balas de borracha para dispersar os embates entre oposicionistas e governistas.

Nos arredores do estádio de Rajamangala, o embate resultou na morte do estudante Thaweesak Phokaew, de 21 anos, de acordo com o jornal Bangkok Post. Outras duas mortes foram registradas em outras áreas.

O líder dos oposicionistas, Suthep Thaugsuban, deu no domingo (ontem) um ultimato de 48 horas para que a primeira ministra deixasse o poder. Eles alegam que ela é uma “marionete” do o ex-primeiro ministro desposto Thaksin Shinawatra.

No domingo, as forças militares entraram na capital para estabilizar a situação. Nesta segunda-feira, Yingluck veio a público desmentir sua saída alegando que entregar o poder a um “conselho popular” não eleito é “inconstitucional”.

“Quero fazer tudo o que estiver a meu alcance para fazer as pessoas felizes. Mas, como primeira-ministra, o que eu posso fazer tem de estar na Constituição”, disse Yingluck.

Amarelos x vermelhos

Na origem da discórdia recente está a lei de anistia, um projeto que o governo tentou aprovar mas teve de abrir mão.

Pela lei, o ex-primeiro ministro exilado desde 2006, irmão de Yingluck, poderia ser perdoado da acusação de corrupção e teria o direito de retornar ao país.

A primeira-ministra é apoiada pela ala popular da sociedade, os camisas vermelhas, e foi eleita após este mesmo grupo tomar as ruas em 2010, pedindo eleições.

Na época a situação era a facção contrária, os “camisas amarelas”, que agregam as camadas mais prósperas da sociedade.

Na ocasião, a ocupação durou várias semanas e resultou na morte de 90 pessoas, quando o Exército retomou a cidade.

Há rumores de trégua para os próximos dias, segundo residentes na Tailândia entrevistados pela reportagem, em respeito ao aniversário do rei Bhumibol Adulyadey, visto como uma força política de estabilidade e união.

Notícias no jornal The Nation, porém, sugerem que o conflito continuará com uma passeata dos oposicionistas ao Escritório da Polícia Metropolitana marcada para amanhã.

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