Brasileira presa na Rússia reencontra a família em Porto Alegre
Muito querida por parentes que aguardavam seu retorno a Porto Alegre com presentes, faixa e camisetas personalizadas, a bióloga gaúcha Ana Paula Maciel mesclou emoção e consciência ao finalmente regressar ao lar após mais de dois meses de prisão por ativismo ambiental na Rússia. “Se acontecer de novo, paciência”, disse, rindo, aos jornalistas, após ser […]
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Muito querida por parentes que aguardavam seu retorno a Porto Alegre com presentes, faixa e camisetas personalizadas, a bióloga gaúcha Ana Paula Maciel mesclou emoção e consciência ao finalmente regressar ao lar após mais de dois meses de prisão por ativismo ambiental na Rússia. “Se acontecer de novo, paciência”, disse, rindo, aos jornalistas, após ser abraçada por pai, mãe, irmã, parentes e colegas do Greenpeace, grupo pelo qual atua e em cuja missão ao Ártico foi presa, junto com outros 29 ativistas e jornalistas, ao tentar subir em uma plataforma da gigante do petróleo russo Gazprom.
Ana Paula pousou em Porto Alegre às 11h, vinda de São Paulo após escala em Frankfurt, na Alemanha. Ela saiu na sexta-feira de São Petersburgo, onde passou o período final de sua prisão e o período em que permaneceu em liberdade sob fiança com outros colegas do grupo. Seu pai, Jaires Maciel, a aguardava com a camiseta da foto da filha e com um presente em mãos – uma orca de pelúcia, em nome da paixão de Ana pelo animal. “O problema não foi a Rússia, foi a prisão. Mas eles sabem o que estão fazendo, são conscientes”, disse Jaires, com ar de tranquilidade.
Sua mãe, Rosângela, chegou pouco antes do voo da filha ao Aeroporto Internacional Salgado Filho, na capital gaúcha. “Coloquei ela no mundo para ela fazer o que quiser. Eu digo para ela: sempre há o cá e o lá. Quero que ela faça o que faz ela feliz, e o que ela faz não apenas deixa ela feliz, como também melhora o planeta”, contou a mãe. Segundo ela, a família vai comemorar a volta da filha com um churrasco. Depois, Ana Paula passará o final de ano em solo gaúcho com os familiares, mas os planos ainda não estão fechados. “Nem sei aonde vamos hoje”, falou, despreocupada e sorrindo, Rosângela.
Ana Paula Maciel e outros 28 ativistas e dois jornalistas foram presos no dia 19 de setembro durante um missão ao Ártico, em águas internacionais próximas à Rússia, quando tentaram subir em uma plataforma da gigante petrolífera Gazprom. Os “30 do Ártico”, como ficaram conhecidos, militam contra a exploração do óleo negro no norte do planeta, mas foram detidos sob as acusações de pirataria e, posteriormente, de vandalismo. Nesta semana, uma ampla anistia aprovada pelo Parlamento de Moscou determinou a libertação do grupo, e os 26 estrangeiros (quatro são russos) receberam autorização para deixar o país. Segundo o Greenpeace, somente um italiano ainda permance em São Petersburgo, mas deve rumar ao seu país em poucos dias.
“A Gazprom provavelmente está arrependida”, disse Ana Paula sobre a publicidade que o caso ganhou. “Isso nunca foi contra a Rússia, mas contra o lobby da indústria petrolífera. A gente precisa de força (para mudar isso). Já existe tecnologia bastante para usarmos energias renováveis. Nós não precisamos de mais petróleo. E sim: nossas ações vão continuar, enquanto não tivermos um santuário no Ártico, não vamos parar”, afirmou. Ela mais de uma vez qualificou os dois meses de prisão como o período mais difícil da sua vida, e ainda não tem planos imediatos, mas alertou que novos casos como esse não podem ser descartados. “Se acontecer de novo, paciência”, disse, em bom humor.
Enquanto os “30 do Ártico” passam o final de ano em seus países com suas famílias em novas viagens certas, o Greenpeace, no entanto, tem uma batalha jurídica em andamento. O Arctic Sunrise, navio no qual os ativistas viajavam quando foram presos na plataforma de Prirazlomnaya, segue detido no porto de Murmansk, primeira na cidade na qual os 30 ficaram presos antes de serem levados a São Petesburgo. O grupo batalha nas instâncias internacionais para retomar a embarcação.
Chegada ao Brasil
Mais cedo, ao chegar em território brasileiro, Ana Paula se mostrou muito contente e afirmou ter valido a pena ter ficado presa por 100 dias na Rússia. “Foram 12 horas no avião da minha liberdade”, comemorou a brasileira, que chegou no aeroporto de Guarulhos (SP) pouco depois das 7h deste sábado.
“Eu passei tantas vezes 12 horas na solitária, que 12 horas dentro do avião foi barbada dessa vez. A minha vida mudou, foi uma tremenda injustiça, uma tentativa frustrada de calar os protestos pacíficos e a liberdade de expressão”, disse Ana Paula.
Inocentada pela Justiça russa, a gaúcha e outros tripulantes do navio Arctic Sunrise, do Greenpeace, foram notificados na quarta-feira sobre o arquivamento do processo pelo qual tinham sido acusados de vandalismo.
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