O bailarino russo Pavel Dmitrichenko foi condenado a seis anos de prisão, nesta terça-feira, pelo ataque com ácido que quase cegou o diretor artístico do Balé Bolshoi e maculou a reputação desse símbolo cultural russo.

Uma juíza de Moscou determinou que Dmitrichenko e dois outros réus são culpados pelo crime de lesão corporal dolosa contra Sergei Filin, que teve o rosto atingido por ácido atirado por um agressor mascarado na noite de 17 de janeiro.

Algemado numa jaula dentro da sala, ao lado dos outros réus, Dmitrichenko olhava impassivelmente por uma janela, demonstrando pouca emoção, enquanto a juíza Yelena Maximova lia o volumoso veredicto.

Os promotores pediram nove anos de prisão para Dmitrichenko, acusado de ser o mentor do ataque, dez anos para Yuri Zarutsky, acusado de realizá-lo, e seis anos para Andrei Lipatov, acusado de levar Zarutsky de carro até o local. Zaruski foi condenado a dez anos de prisão, e Lipatov a quatro anos.

O ataque, que deixou Filin se contorcendo na neve e prejudicou sua visão, revelou amargas rivalidades nos bastidores do Teatro Bolshoi. Dmitrichenko admitiu que queria dar um susto em Filin e que pediu isso a Zarutsky, mas não sabia que o cúmplice usaria ácido.

O dançarino, que entrou para o Bolshoi ainda quando adolescente, em 2002, ganhou fama interpretando vilões como o czar assassino do balé “Ivan, o Terrível”. Ele se declarou inocente.

Zarutsky, que confessou o crime, disse que foi sua a ideia de jogar ácido no rosto de Filin, e que não informou Dmitrichenko sobre esse plano.

A promotoria disse que Dmitrichenko agiu motivado por um conflito contra Filin, de 43 anos. Na semana passada, em depoimento ao tribunal, o famoso ex-bailarino do Bolshoi Nikolai Tsiskaridze disse que Filin negava papéis importantes a Dmitrichenko e à namorada dele, também bailarina.

O caso marca uma das piores crises na história do Teatro Bolshoi, que foi fundado em 1776 e fica perto da Praça Vermelha e do Kremlin.

Em julho, num esforço para encerrar o escândalo, o governo russo demitiu o diretor do teatro, Anatoly Iksanov, e o Bolshoi se recusou a renovar o contrato de Tsiskaridze, que havia se desentendido com Iksanov e Filin.

O julgamento, porém, atraiu os holofotes para as desavenças. Em uma acareação no tribunal, Filin disse que Dmitrichenko espalhou falsas acusações de que ele tinha favoritismos e mantinha relacionamentos amorosos com as bailarinas.

Testemunhas da defesa, por outro lado, descreveram Filin como um sujeito autoritário e esquentado, e Dmitrichenko como um defensor dos colegas que temiam prejudicar suas carreiras se insurgindo contra o poderoso diretor artístico.

Filin voltou ao Bolshoi em setembro, após meses de tratamento na Alemanha e mais de 20 cirurgias, mas sua visão continua prejudicada e ele precisa usar óculos escuros.