Após “chute na porta” e “dedo-duro”, Mancini se firma sem prazo de validade

Quatro vitórias, dois empates e demissão. Nem mesmo os bons resultados foram capazes de permitir a convivência entre o temperamental Vagner Mancini e o ingovernável Paulo Pelaipe, respectivamente treinador e diretor de futebol no Grêmio em 2008. Emblemático na carreira de Mancini, o episódio ilustra um traço fiel do talentoso treinador que levou o Atlético-PR […]

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Quatro vitórias, dois empates e demissão. Nem mesmo os bons resultados foram capazes de permitir a convivência entre o temperamental Vagner Mancini e o ingovernável Paulo Pelaipe, respectivamente treinador e diretor de futebol no Grêmio em 2008. Emblemático na carreira de Mancini, o episódio ilustra um traço fiel do talentoso treinador que levou o Atlético-PR até a decisão da Copa do Brasil. A conquista do torneio com o Paulista de Jundiaí, em 2005, marca sua carreira.

Na noite desta quarta-feira, a final da mesma Copa do Brasil contra o Flamengo se inicia em Curitiba. Mancini e Pelaipe, hoje o homem forte do futebol flamenguista, estarão de lados opostos. Há quem diga que os dois deixaram de lado as desavenças que explodiram em Jaciara, no Mato Grosso. Naquele dia, o dirigente chutou até porta no vestiário por discordâncias sobre a escalação gremista, e o rompimento foi inevitável.

O Atlético-PR de 2013 é o décimo trabalho de Vagner Mancini desde a saída do Grêmio. Só agora o treinador, 47 anos, parece mais maduro para se firmar entre os principais do País na sua função. De 2008 para cá, Mancini se acostumou a chegar aos clubes, impor seu estilo, colher resultados muito bons, arrumar confusões e sair em baixa. Como no Vitória, por exemplo.

“Ele chegou muito bem. De cara ele conseguiu motivar a equipe, mas depois de dois meses começou a brigar com todo mundo”, conta um dirigente do clube baiano. “O time começa a ir bem e ele acha que tem poder demais. Briga com os melhores jogadores, como ocorreu aqui com o Ramon, e ele mesmo começa a arrumar confusão. Com as porradas que tomou, acho que amadureceu”, explica. Em 2008, o Vitória chegou a brigar pelo G-4, mas acabou o Brasileiro em 13º.

Não foi o único caso desse gênero na trajetória de Vagner Mancini. Vice-campeão paulista pelo Santos na sequência, efetivamente revelou Neymar e PH Ganso, e o trabalho rapidamente degringolou. Um dos pontos decisivos foi um possível “dedo-duro” no grupo de jogadores que abastecia jornalistas.

“As informações vazam e estou na caça desse sem-vergonha”, chegou a declarar o treinador em entrevista coletiva durante sua passagem de cinco meses pelo Santos. Na época, o treinador teve desavença com outro então diretor de futebol, Ocimar Bolicenho. A pedido de Vagner Mancini, o presidente Marcelo Teixeira demitiu Bolicenho durante as finais do Paulista, mas mesmo assim o técnico durou pouco tempo na Vila Belmiro.

Depois de uma volta relâmpago para o Vitória, Mancini assumiu o Vasco e experimentou mais do mesmo. Em seu terceiro jogo, janeiro de 2010, aplicou 6 a 0 sobre o Botafogo e virou sensação, mas em março já havia sido demitido. No meio do processo, trocou farpas públicas com o presidente Roberto Dinamite.

Rebaixado com o Guarani na sequência, Mancini ainda participou das quedas do Ceará e do Sport, além de evitar o descenso do Cruzeiro no meio do caminho. Entretanto, demitido pelo Náutico após uma passagem de só 14 jogos, parecia no fundo do poço quando foi convidado pelo Atlético-PR. Antes promissora, a carreira descia por água abaixo e sua chegada encontrou resistências.

Embora tenha prometido um treinador de peso aos torcedores, a direção atleticana apostou em Mancini e lucrou alto. Ele estreou no cargo em 17 de julho, tirou o time da ameaça ao rebaixamento e deixou, por enquanto, na vice-liderança do Campeonato Brasileiro e na final da Copa do Brasil. São 18 vitórias, 11 empates, sete derrotas e, até onde se tem registro, nenhuma desavença significativa.

“A vida é assim. Os dias vão passando e você agrega coisas que não tinha”, conta o preparador físico Flávio de Oliveira. Ele é amigo de Mancini desde 1983, quando jogaram juntos na base do Guarani, e integrou sua comissão técnica no Santos, no Cruzeiro, no Grêmio e no Vasco. “O Vagner, como todo profissional do meio, já teve esse momento. Quando as coisas não dão certo, deve se refletir sobre o que aconteceu”, acredita Flávio .

Descrito pelo amigo como um treinador “antenado e estudioso”, Mancini impôs no Atlético-PR sua característica de times arrojados ofensivamente, velozes e com inversões pouco comuns entre as equipes brasileiras. Seu espelho, desde os tempos de Grêmio, é a França, vice-campeã da Copa do Mundo de 2006 e que ajudou a disseminar o sistema 4-2-3-1.

É assim que joga a equipe atleticana, um time com a cara de Vagner Mancini. Que em alguns momentos alterna o posicionamento do lateral Juninho com o volante Zezinho, ou do ponteiro Dellatorre com o centroavante Ederson. Este lance, por sinal, gerou o gol que leva o time à final da Copa do Brasil. Uma campanha que deve permitir a Mancini seu trabalho mais vitorioso – e possivelmente longo – em oito anos.

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