Após uma semana de paralisação dos órgãos federais nos Estados Unidos, empresários em apuros, cidadãos exasperados e até alguns políticos juntaram forças para protagonizar atos de desafio, grandes ou pequenos, em várias partes do país.

Reabrindo monumentos, escalando barricadas em parques ou contratando advogados, indivíduos e instituições mostram que já estão cansados de esperar um acordo entre o Executivo e o Congresso para liberar o orçamento relativo ao ano fiscal que começou em 1º de outubro. Enquanto isso não ocorre, vários órgãos públicos tiveram de fechar as portas.

Na Carolina do Norte, o empresário hoteleiro Bruce O’Connell chamou a atenção do país ao reabrir o Pisgah Inn, pitoresco albergue de montanha no Blue Ridge Parkway. Na semana passada, o Serviço Nacional de Parques determinou o fechamento da estalagem, por se tratar de um terreno federal.

Confrontado pelas autoridades, O’Connell voltou a fechar o albergue, mas contratou um advogado para solicitar uma liminar federal que permita a reabertura do estabelecimento de cem funcionários, na época mais movimentada do ano. “Não vamos desistir”, disse O’Connell na terça-feira. “Estamos lutando cada vez mais fortemente, a cada minuto que passa.”

Muitos outros americanos também resistem às consequências do impasse – o que inclui uma licença não-remunerada para centenas de milhares de funcionários públicos, a paralisação de programas educacionais em seis Estados, o fechamento de parques nacionais e atrasos no pagamento de benefícios para parentes de militares mortos no exterior.

A oposição republicana condiciona a aprovação do orçamento a cortes nos gastos públicos, incluindo o adiamento parcial da entrada de vigor do programa de saúde pública conhecido como Obamacare.

Até alguns órgãos públicos estaduais estão desafiando a paralisação. Em Wisconsin, um Estado de governo republicano, o Departamento de Recursos Naturais decidiu ignorar uma portaria federal que determinava o fechamento de sete parques estaduais que recebem verbas federais. O Estado alega que só 18 por cento da verba usada nos parques, ou cerca de 700 mil dólares, vêm do governo federal.

“Dissemos de forma firme, mas respeitosa, que vamos continuar abertos”, disse Cathy Stepp, secretária de Recursos Naturais do Estado. “Temos gente que vem aqui do país inteiro para ver as cores do outono, para ver as aves migratórias, para caçar patos. Estamos abertos.”

Para veteranos militares que tinham visitas programadas a monumentos, as barreiras acabaram sendo derrubadas com a ajuda do próprio serviço de parques. Cerca de 25 veteranos da Segunda Guerra Mundial e da Guerra da Coreia, vindos principalmente da região de St. Louis, foram autorizados na terça-feira a visitarem o Memorial Nacional da Segunda Guerra, em Washington.

Os funcionários retiraram as barricadas e conduziram os grupos, citando direitos assegurados na primeira emenda constitucional, que trata de liberdade de expressão e reunião. Os senadores Roy Blunt e Clair e McCaskill participaram da visita com os veteranos, que estiveram
também no Memorial dos Veteranos da Guerra da Coreia e no Cemitério Nacional de Arlington.

Na segunda-feira, cerca de mil pessoas, a pé e em bicicletas, furaram os bloqueios no Parque Nacional Acadia, no Maine, segundo a imprensa local. Alguns poucos guardas que foram mantidos no local emitiram advertências a alguns dos visitantes que continuavam acampados no parque ou entrando no local com veículos, segundo o jornal Portland Press Herald.

Na Flórida, dezenas de guias de pesca planejam um protesto na quarta-feira nos arredores do parque nacional Everglades, onde o cancelamento de atividades com visitantes causou prejuízos de dezenas de milhares de dólares para os guias. O capitão de embarcação Matt Bellinger disse esperar a presença de cem barcos no protesto pelo fechamento do Everglades e da baía da Flórida.