Alta rotatividade em pleno emprego é injustificável, diz presidente da CUT

Em visita a Campo Grande, o presidente nacional da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Vagner Freitas, concedeu entrevista exclusiva ao Midiamax sobre as relações de trabalho no Brasil e as principais lutas dos trabalhadores. Uma delas é a busca pelo trabalho formal, com carteira assinada e garantias trabalhistas. Vagner alerta que 40% da mão-de-obra no […]

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Em visita a Campo Grande, o presidente nacional da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Vagner Freitas, concedeu entrevista exclusiva ao Midiamax sobre as relações de trabalho no Brasil e as principais lutas dos trabalhadores. Uma delas é a busca pelo trabalho formal, com carteira assinada e garantias trabalhistas.

Vagner alerta que 40% da mão-de-obra no país vivem na informalidade. Outro dado alarmante é quanto à rotatividade de trabalhadores pela falta de legislação que incentive o empregador a mantê-lo. “É injustificável no dito ‘pleno emprego’ que o Governo Federal gaste R$ 35 bilhões/ano com a manutenção do salário-desemprego”, diz Vagner.

Confira a entrevista completa abaixo realizada no dia 17 de maio, antes da cerimônia de posse do novo presidente da diretoria regional da CUT em Mato Grosso do Sul,  Genilson Duarte.

Midiamax – Explique, de uma forma geral, qual é a atuação da CUT?

Vagner – A CUT é uma central de sindicatos mantidos por trabalhadores. Então, no Brasil, a CUT fundamentalmente existe para defender os interesses dos trabalhadores, para construir uma sociedade diferente. Nós achamos que fazer sindicalismo é conscientizar o trabalhador, dos direitos que ele tem, para que ele consiga ter identidade de classe e poder para transformar a sociedade a partir dos conhecimentos adquiridos na classe enquanto trabalhador.

A CUT nasceu em 1984 contra a Ditadura Militar e para ter um país mais justo. Somos uma organização da sociedade civil para que em um país tão grande quanto o Brasil consiga ajudar a diminuir as diferenças sociais em cima da valorização do trabalho. Não existe sociedade que não valorize o trabalho. Então defendemos os trabalhadores e a CUT é classista, tem um lado: o dos trabalhadores e sua defesa social.

Defendemos os interesses iguais entre homens, mulheres, índios, brancos, negros, sem preconceitos raciais sociais e sem o poder econômico mandando no Estado e que tenhamos políticas públicas.

Midiamax – Você pode citar quais foram as principais lutas nos últimos anos?

Vagner – Nos últimos 30 anos não aconteceu nada sem a participação da CUT. A queda da Ditadura teve a CUT envolvida. A volta da democracia tem a ver com a ação sindical dos cutistas. A volta da democracia, com a queda do [Fernando] Collor. Eleição do primeiro trabalhador a presidir o Brasil, o Lula, fundador da CUT e também agora a eleição da primeira mulher, a presidenta Dilma [Rousseff], tem a ver com a participação cutista. As alterações da Constituição de 1988, importantíssimas, têm a ver com nossas lutas sindicais trabalhistas.

Às vezes, as pessoas falam do Brasil, mas por mais que tenhamos dificuldades, no ponto de vista sindical, nós somos muito mais desenvolvidos que a maioria dos países do mundo. A luta da política do salário mínimo, não há dúvidas, de que é a política mais importante.

Agora temos outras lutas, a da valorização do trabalho doméstico, a luta pelo trabalho decente, pelo direito de associação dos trabalhadores, pelo cumprimento da jornada de trabalho, luta contra o trabalho escravo, luta pela formalização profissional, cada vez mais se posicionando como a maior força sindical. Não é à toa que fomos reconhecidos pela ONU [Organização das Nações Unidas] como a única central sindical do planeta capaz de mudar a realidade do trabalhador. Estamos fazendo um sindicalismo de transformação.

Midiamax – Você pode comentar sobre a luta mais recente, da PEC das Domésticas, que foi uma das últimas conquistas trabalhistas?

Vagner – No país temos uma quantidade muito grande de trabalhadores domésticos e sem regulamentação de trabalho, porque geralmente é um contrato individual de trabalho e não tem uma regulamentação de classe, organizada por um sindicato. Então essa luta é para dar regulamentação baseada na contratação do trabalhador comum, como se insere na luta geral da formalização.

Isso foi muito importante, porque não tenha dúvidas de que se já há exploração no trabalho em uma empresa, no trabalhador assalariado, você imagina a exploração dentro de uma casa, que se tem a relação direta do empregado com a patroa ou patrão. Isso é uma revolução extraordinária.

Quase 40% da mão-de-obra no Brasil vivem na informalidade. Então precisamos de uma legislação que diminua isso, essa defasagem, queremos trabalhadores de maneira formal, com garantias trabalhistas. Temos uma falta de emprego para mulher, jovens, negros e índios. Tem uma concentração de emprego para homens brancos.

Midiamax – E quanto ao pleno emprego?

Vagner – Dizem que o país está caminhando para o pleno emprego, mas a CUT tem uma ideia um pouco diferente: queremos empregos de qualidade, emprego decente. Não adianta pleno emprego com o que acontece muito, por exemplo, que você demite um trabalhador que ganha R$ 2 mil por mês na indústria e admite outro trabalhador que ganha R$ 400 em um serviço com 30% das garantias que o outro tinha. Não é igual. É diferente. Então nossa luta é essa, para que tenhamos empregos decentes.

É uma certa exacerbação falar que você tem pleno emprego no Brasil como se não tivesse dificuldade com emprego, isso não é verdade. Você tem uma alta taxa de rotatividade, que é injustificável no pleno emprego, em que o Governo Federal gaste R$ 35 bilhões/ano com a manutenção do salário-desemprego.

Isso porque uma grande parte do empresariado brasileiro é inescrupuloso, demite o trabalhador X, que tem determinada formação e salário e contrata outro trabalhador Y, com metade dos direitos, metade do salário e depois quer demonstrar que tem o pleno emprego. É isso que temos alertado a presidenta, que para o Brasil isso é ruim.

Você demitir para o Brasil é mais caro que manter o trabalhador contratado. Para o governo sai mais caro. Queremos fazer uma campanha para sensibilizar disso o empresário que demite de maneira alucinada. Para isso temos que ter uma legislação que garanta a luta contra a demissão desmotivada, a luta contra a rotatividade, a luta contra o trabalho escravo.

Midiamax – Quer citar algo sobre Mato Grosso do Sul?

Vagner – A CUT, aqui em Mato Grosso do Sul, estamos precisando construir uma alternativa socialista para que você consiga com que os benefícios não fiquem só concentrados nas mãos do agronegócio e dos empresários, mas também aos trabalhadores. O Centro-Oeste é uma das regiões que mais cresce no país, mas entre crescer a região e crescer a distribuição de renda entre os trabalhadores há uma distância enorme. Esse é o papel da CUT.

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