Ainda surpresos com a aliança entre a ex-senadora Marina Silva e o governador de Pernambuco e presidente do PSB, Eduardo Campos, para as eleições presidenciais, aliados do governo questionam a eficácia da dobradinha em unir os dois eleitorados, mas admitem riscos à reeleição da presidente Dilma Rouseff.

A incerteza sobre esse cenário eleitoral também envolve o governo, e a orientação da presidente a seus assessores é que falem o menos possível sobre a nova aliança para evitar avaliações antecipadas. “Qualquer coisa que se fale agora é chute”, disse nesta segunda-feira um auxiliar de Dilma à Reuters, que pediu anonimato.

Aliados da presidente no Congresso consideraram o anúncio da aliança um “gol de placa” de Campos. O governador é o quarto colocado nas pesquisas e conseguiu a adesão de Marina, que ocupa a segunda posição, e vinha sendo assediada por várias legendas para se candidatar à Presidência, depois da rejeição do registro pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) de sua Rede Sustentabilidade.

Esses mesmos aliados, no entanto, não acreditam que a decisão dos dois signifique uma união imediata dos eleitores que vinham demonstrando apoio a um ou a outro nas pesquisas. Com cerca de 20 milhões de votos na última eleição presidencial, quando concorreu pelo PV, Marina anunciou no sábado sua filiação ao PSB e a aliança com Campos.

“Eu acho que esse rebanho da Marina vai se dividir em três partes. Uma parte fica com ela, outra vai para o Aécio e outro tanto vai para a Dilma”, disse à Reuters o vice-presidente da Câmara dos Deputados, André Vargas (PT-PR).

Para o líder do governo no Senado, Eduardo Braga (PMDB-AM), é preciso esperar as primeiras pesquisas com esse cenário para que tudo fique mais claro, mas ele já vislumbra problemas para manter o formato mais provável da aliança, com Campos na cabeça de chapa e Marina como vice.

“Se as pesquisas vierem com cenários considerando a Marina e ele (Campos) candidatos contra Dilma e Aécio e apontarem que ela continua à frente dele por muito tempo, pode ser que o Eduardo (Campos) comece a conviver com um fantasma ao lado”, avaliou Braga.

O senador, aliás, aposta que um dos dois não vai figurar na chapa para dar espaço a outro partido ganhando mais tempo de TV. “Acho pouco provável uma chapa puro-sangue do PSB”, disse.

As diferenças entre Campos e Marina e os dois projetos para o país são reconhecidas pelo PSB. O líder do partido na Câmara, Beto Albuquerque (RS), disse que os dois estão conscientes de que não somam eleitorados imediatamente e que há propostas diferentes.

“Mas o importante é que ficou estabelecida uma terceira via. Agora temos que afinar a orquestra”, argumentou.

RISCOS

Apesar das dúvidas sobre o sucesso eleitoral da nova aliança, os dois aliados admitem que esse novo cenário também traz riscos para a reeleição.

Braga e Vargas dizem que com três candidatos a possibilidade de vitória de Dilma no primeiro turno volta a existir, desde que os adversários não tenham êxito em suas estratégias. Mas um segundo turno contra uma candidatura de terceira via é vista como um risco muito maior para Dilma.

“A Dilma precisa ter consciência de que depende muito dela o sucesso no primeiro turno”, disse Braga.

Vargas reconheceu precisarão trabalhar mais para sedimentar o eleitorado. “O eleitorado que acredita que o Brasil vai para frente”, disse.

No entorno do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a aliança entre os dois candidatos é vista com surpresa e também há a avaliação de que um segundo turno contra esses dois candidatos é muito mais difícil do que com o senador tucano Aécio Neves (MG).

No PSDB, a nova configuração da disputa também desperta sentimentos contraditórios. O ex-presidente do partido, deputado Sérgio Guerra (PE), avalia que Campos passou a ser um candidato competitivo. Segundo ele, o risco para a candidatura de Aécio depende do esforço do partido.

“O nosso sucesso depende da nossa capacidade. É muito cedo para falar sobre os efeitos desse acordo”, disse. Por outro lado, acredita que para o país é bom que não haja uma nova disputa polarizada entre PT e PSDB.

“Essa dicotomia não nos levaria à vitória”, disse.