Adversárias no segundo turno do Chile vão enfrentar a pressão das ruas
A socialista Michelle Bachelet obteve 47% dos votos no primeiro turno das eleições presidenciais do Chile. Foi quase o dobro dos 25% obtidos pela segunda colocada, Evelyn Matthei – ex-ministra e candidata do atual governo de direita do presidente Sebastian Piñera. Mas foi insuficiente para evitar o segundo turno, no próximo dia 15 de dezembro, […]
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A socialista Michelle Bachelet obteve 47% dos votos no primeiro turno das eleições presidenciais do Chile. Foi quase o dobro dos 25% obtidos pela segunda colocada, Evelyn Matthei – ex-ministra e candidata do atual governo de direita do presidente Sebastian Piñera. Mas foi insuficiente para evitar o segundo turno, no próximo dia 15 de dezembro, que era um dos objetivos de sua campanha.
“Não existem duas leituras. Ganhamos essa eleição com ampla maioria”, disse Bachelet, assim que soube que não tinha metade mais um dos votos e teria que continuar fazendo campanha. “Sabíamos que o desafio de ganhar no primeiro turno era complexo, tendo em vista a quantidade de candidatos e o desafio do voto voluntário”, acrescentou.
Essa eleição foi inédita porque nunca houve tantos candidatos à presidência (nove) e pela primeira vez o voto era opcional. Agora que a campanha vai se polarizar entre as duas alianças politicas tradicionais da política chilena – uma representando a centro-esquerda e a outra, a direita – Bachelet diz que a vitória está garantida.
A maior parte dos outros sete candidatos que disputavam a presidência defende propostas parecidas com as dela: educação gratuita e de qualidade para todos; reforma tributária para financiar programas sociais; e uma reforma da Constituição, herdada da ditadura militar (1973-1990).
Para o governo, o segundo turno foi visto como uma vitória – mesmo que Evelyn Matthei perca para Bachelet no dia 15 de dezembro. Pior teria sido uma derrota esmagadora no primeiro turno. “Temos grandes diferenças com a esquerda e elas vão sair à luz nos próximos 30 dias. Eles dizem que temos que derrubar tudo e partir do zero, com uma nova Constituição. Nós achamos que construímos um país sólido e que temos que melhorá-lo”, disse Evelyn Matthei.
Filhas de generais da Forca Aérea chilena, Michelle e Evelyn foram à mesma escola primária e brincavam juntas, quando eram crianças. Os pais eram amigos, até o golpe militar de 1973, liderado por Augusto Pinochet contra Salvador Allende – o primeiro socialista eleito presidente no mundo.
O pai de Bachelet era homem de confiança de Allende e morreu torturado na cadeia. O pai de Matthei estava no exterior na época, mas voltou para integrar a junta militar. Quarenta anos depois do golpe, as duas mulheres estão de lados opostos: Michelle quer acabar com os últimos resquícios da ditadura (que privatizou a educação e redigiu uma constituição limitando a atuação dos políticos), enquanto Evelyn continua defendendo a herança de Pinochet.
O maior desafio para quem quer que saia vitoriosa em dezembro será obter votos suficientes no Congresso para alterar a Constituição. Pelo atual sistema eleitoral, herdado de Pinochet, o governo só consegue maioria parlamentar se seus candidatos obtiverem o dobro dos votos da segunda legenda mais votada. “Foi um sistema criado para assegurar um empate entre as duas forças majoritárias e forcar uma solução negociada”, explicou a prefeita de Santiago, Carolina Toha, que apoia a candidatura de Bachelet.
A esperança de Bachelet é que desta vez a pressão social seja tão grande que obrigue a direita a aceitar mudanças mais profundas. O problema é que os chilenos estão cada vez mais intolerantes com a classe politica. No domingo, no meio da votação, um grupo de estudantes ocupou o comando da campanha de Bachelet.
“Nos despedimos deste governo com mobilizações nas ruas, porque não soube resolver nossos problemas. E vamos receber o próximo governo com mobilização nas ruas, até conseguirmos o que queremos”, disse Isabel Salgado, porta-voz dos estudantes de ensino médio que fizeram o protesto. Os protestos estudantis de 2011 e 2012 paralisaram o país e receberam o apoio da grande maioria dos chilenos: eles pedem ensino gratuito e de qualidade para todos.
No Chile, a ditadura privatizou a água, o cobre, a saúde e a educação. O país virou exemplo de economia que deu certo na América Latina: não tem inflação; reduziu a pobreza; atraiu investimentos e continua crescendo. Mas tem um dos maiores índices de desigualdade da região. E a principal preocupação da classe média emergente é reduzir a brecha social.
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