As eleições de 7 de outubro na Venezuela vêm sendo vistas como as mais disputadas em mais de uma década.
Em jogo, estão outros seis anos no poder para o presidente Hugo Chávez, que assumiu em 1999, ou uma guinada rumo à oposição, liderada pelo candidato Henrique Capriles.
“Espero que o presidente Chávez ganhe as eleições, senão, provavelmente vão levar isso aqui embora e nós vamos todos sofrer”, afirmou a líder comunitária “chavista” Raiza Urbina, apontando para uma feira subsidiada, próxima a sua casa, em Caracas.
A feira vende produtos da cesta básica: carne, enlatados, ovos e queijo. Tudo a preços abaixo do mercado.
É apenas uma entre as muitas iniciativas na área social implementadas pelo presidente Chávez nos últimos 12 anos.
O auto-intitulado “defensor dos pobres” de fato trabalhou para aumentar o acesso da população mais pobre aos sistemas de saúde, educação e moradia.
“Eu sofro de câncer de mama. Antes, nem poderia ir a uma clínica, porque não tinha como pagar. Agora, o Estado me dá tratamento e medicamentos e continuo viva”, afirmou Urbina.
Nos meses que antecederam a campanha presidencial, Chávez aumentou investimentos públicos, inaugurando centenas de novos ônibus e distribuindo casas de graça.
O governo afirma ter construído 150 mil novas moradias em 2011, parte de um total de 3 milhões previsto para 2018.
Chávez diz que mais um mandato lhe permitira aprofundar a sua “revolução bolivariana” e aprimorar o socialismo na Venezuela.
Em um comício para milhares de pessoas em sua cidade natal, Sabaneta, em 1º de outubro, o presidente prometeu desenvolvimento.
“Sabaneta vai se transformar no epicentro de um grande projeto, dentro do principal plano industrial e agricultural para 2012-19”, afirmou.
Suspeitas do empresariado
No entanto, para muitos venezuelanos, o prospecto de mais seis anos de chavismo é preocupante.
Empresários afirmam que algumas das políticas de Chávez lhes dificultaram muito a vida.
Desapropriações de terras e de empresas também despertam suspeitas em investidores.
Além disso,a legislação criada para evitar fuga de capital do país é acusada de ter dificultado muito a importação e exportação.
Rígidas leis trabalhistas reduziram jornadas laborais, proibiram terceirização de mão-de-obra e fortaleceram os direitos trabalhistas, mas também causaram dores de cabeça aos patrões.
Regulo Moreno, dono de uma fábrica de móveis para escritório, diz estar prestes a deixar a Venezuela.
“Andei estudando a Colômbia”, afirmou. “Abrimos o mesmo negócio lá há um ano e meio, e agora sinto que a empresa pode crescer mais rapidamente lá do que aqui.”
As eleições venezuelanas não interessam apenas aos venezuelanos.
O sistema Petrocaribe criado por Chávez beneficia muitos países com acesso mais barato ao petróleo, entre eles Cuba e Nicarágua.
O líder também tem fortes laços com a presidente argentina, Cristina Fernandez de Kirchner, reiterados pelo apoio dado por Chávez na disputa pela soberania das ilhas Malvinas ou Falkland.
Mesmo fora da América Latina, Chávez é uma força reconhecida. O presidente sírio, Bashar al-Assad, disse considerá-lo um “humanista” e um “irmão”.
A Venezuela forneceu óleo diesel ao governo Assad durante o embargo imposto por outros países.
Sob o chavismo, o país também se tornou um atuante membro da Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo), o que ajudou a manter os preços do combustível em alta.
Os interesses são globais, mas o povo venezuelano é quem decidirá sobre o futuro de Chávez.
Essa votação é considerada a mais apertada desde a primeira que ele venceu, em 1998.