Três acusados pela morte de Celso Daniel afirmam que foram torturados para assumir o crime

Os três réus interrogados no julgamento da morte de Celso Daniel (PT), ex-prefeito de Santo André, negaram participação no crime durante sessão nesta quinta-feira (10) no Fórum de Itapecerica da Serra (Grande São Paulo). O ex-prefeito foi morto a tiros em janeiro de 2002, e seu corpo encontrado em uma estrada de terra no município […]

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Os três réus interrogados no julgamento da morte de Celso Daniel (PT), ex-prefeito de Santo André, negaram participação no crime durante sessão nesta quinta-feira (10) no Fórum de Itapecerica da Serra (Grande São Paulo). O ex-prefeito foi morto a tiros em janeiro de 2002, e seu corpo encontrado em uma estrada de terra no município de Juquitiba, vizinho a Itapecerica. As circunstâncias do crime até hoje não foram totalmente esclarecidas.
Hoje seriam julgados cinco réus acusados de cometer o crime, mas dois advogados se retiraram do plenário, o que adiou o julgamento de seus clientes.
O primeiro a falar, Ivan Rodrigues da Silva, conhecido como “Monstro” e apontado pela Polícia Civil e pelo Ministério Público (MP) como líder da quadrilha da favela Pantanal, que matou Daniel, negou qualquer participação no sequestro e no homicídio do ex-prefeito de Santo André (SP). 
O réu disse que estava no Paraná nos dias do crime. Ivan afirmou também que conhecia os outros integrantes da quadrilha porque “jogava bola [futebol] com eles”. Questionado pelo juiz sobre as confissões feitas em juízo e em depoimentos anteriores à polícia e ao MP, Ivan disse que não teve direito de defesa e sofreu pressão de promotores e delegados para assumir o crime. 
O acusado afirmou ainda que logo após ter sido preso, em junho de 2002, foi levado ao DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa), onde teria sofrido pressões do advogado do PT e ex-deputado federal Luiz Eduardo Greenhalgh para assumir o assassinato.
Segundo a falar, o réu José Edison da Silva foi interrogado por cerca de 25 minutos e também negou a participação no crime. Ele afirmou que estava morando na Bahia na época da morte e que confessou o crime sob tortura no DHPP. “Recebi choques na boca, na mão e nos pés”, afirmou. O acusado também disse que Greenhalgh estava acompanhando os interrogatórios no DHPP.
O depoimento de José Edison contradisse o do Ivan: enquanto Ivan disse que conheceu José Edison no Butantã, zona oeste de São Paulo, onde Edison morava, antes da morte de Celso Daniel, Edison afirmou que conheceu o outro réu na cadeia, depois de ser preso pela morte.
O terceiro réu, Rodolfo Rodrigo dos Santos, também disse que foi torturado para confessar o crime. “Assinei vários papéis sem ter lido.” O réu disse ainda que foi pressionado e agredido por Greenhalgh dentro do departamento de homicídios. 
A reportagem está tentando contato com Greenhalgh para comentar as acusações. 
em testemunhas
Não haverá nenhuma testemunha no julgamento. Ao todo, 13 pessoas haviam sido chamadas, todas pelos advogados de defesa. Cinco foram solicitadas pelos advogados que abandonaram o júri e foram dispensadas. Das oito que sobraram, três foram dispensadas (um investigador, um delegado e um perito) e outras cinco não compareceram. O júri é formado por quatro homens e três mulheres.
O julgamento começou por volta das 11h30, com duas horas de atraso após os advogados de defesa de dois dos cinco acusados se retiraram do caso na manhã desta quinta-feira. Com isso, passou para três o número de réus que começam a ser julgados hoje. Os outros dois serão julgados em agosto.
Todos faziam parte da quadrilha da favela Pantanal, na divisa de São Paulo com Diadema, que sequestrou e matou Celso Daniel.
Os três réus que estão sendo julgados hoje serão acusados por homicídio duplamente qualificado –efetuado para recebimento de recompensa e com emprego de recursos que impossibilitaram a defesa da vítima– e podem pegar entre 12 e 30 anos de prisão.
O único condenado pelo crime até agora foi Marcos Bispo dos Santos, que recebeu pena de 18 anos de prisão no Tribunal do Júri em novembro de 2010. Ele foi julgado antes porque não apresentou recursos contra seu pronunciamento. O empresário Sérgio Gomes da Silva, “o Sombra”, amigo do ex-prefeito, apontado pelo MP-SP (Ministério Público de São Paulo) como o mandante do crime, deverá ir a júri ainda neste ano. Ele está em liberdade desde 2004, por decisão do STJ (Superior Tribunal de Justiça).

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