As marcas da violência sofrida pelo estudante de direito André Cardoso Gomes, 27 anos, são visíveis uma semana depois de ter sido espancado na esquina da avenida Henrique Schaumann com a rua Teodoro Sampaio, no bairro de Pinheiros, zona oeste da capital paulista. O olho direito roxo e ainda vermelho, além de hematomas na testa, protegidas por um curativo, dão um pouco da dimensão do que aconteceu. Porém, na cabeça do estudante, ainda não está claro o que houve com ele naquela noite, quando retornava para casa. “Eu tive medo de morrer”, resumiu.

“Até agora não consegui entender o que aconteceu e o que está acontecendo. Muitas vezes eu fui o cara que esteve na manifestação e agora eu sou a vítima. Não tenho noção da dimensão disso. Por mais que as pessoas tenham me mandado mensagens do País inteiro, é algo que ainda custa a entender”, disse ele.

Gomes acredita ter sido vítima de homofobia. Naquela noite, dois homens passaram devagar, em um carro, e começaram a ofendê-lo, segundo seu relato. Ao responder, iniciaram-se as agressões. Elas só cessaram quando alguns pedestres interviram, incluindo um frentista de um posto de gasolina das imediações. Os dois agressores foram indiciados por tentativa de homicídio e seguem presos.

“A ficha da violência cai na hora, principalmente para quem entende isso. É preciso rediscutir a homofobia. Embora seja uma discussão que a gente tenta travar a todo o momento, ela só acontece quando há violência. Isso é muito triste. Principalmente para quem sofre”, afirmou. De acordo com ele, o barulho dos homofóbicos infelizmente tem sido maior do que o da causa gay. “A luta deles é constante contra a gente. Nós só nos manifestamos quando há um ato de violência. É absurdo crimes de intolerância acontecerem ainda em 2012. E homofobia nem é considerada crime”, ressaltou ele.

O estudante conta que não quer excesso contra os seus agressores, mas que a Justiça precisa ser feita de forma exemplar. “Eu sou bastante crítico em relação ao sistema carcerário. Tenho críticas – como estudante de direito – ao sistema penal e eu acho que não é justo e seria muito hipócrita da minha parte virar agora e dizer que eu queria que eles tivessem uma pena de morte, ou uma prisão perpétua, que são coisas que eu não acredito”, disse.

Para Gomes, é preciso ficar atento porque se a sociedade não provoca a justiça, nada irá acontecer. Ele conta que ouviu do delegado a seguinte pergunta: “o que você acha que teria acontecido com você se a polícia não tivesse chegado na hora?” Como resposta, ele ouviu: “eu tive medo de morrer”. Foi o suficiente para que os dois agressores fossem indiciados por tentativa de homicídio.

Neste sábado, cerca de 100 manifestantes, incluindo Gomes, fizeram uma série de protestos contra a homofobia na região de Pinheiros. Houve uma oficina de cartazes, um “beijaço” e um pequeno churrasco no local da agressão. Para este sábado à noite, ainda está programado um debate na Universidade de São Paulo (USP) com a homofobia como tema.