Situação indígena do Estado causa tristeza profunda em cacique Kalapalo
Cacique explicou que entende a situação e se entriste muito por seus parentes, mas que no Parque do Xingú não existe bebida, cigarro, droga ou violência
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Cacique explicou que entende a situação e se entriste muito por seus parentes, mas que no Parque do Xingú não existe bebida, cigarro, droga ou violência
O cacique, Faremá Kalapalo, da aldeia da Kunurijafütü, localizada no Parque Índigena do Xingú, declarou que a situação dos índios do Estado lhe causa profunda tristeza. Ele esteve presente na III Semana do Índio, organizada pela OAB-MS (Ordem dos advogados do Brasil, seccional Mato Grosso do Sul), onde tomou conhecimento da situação em que vivem seus parentes, por meio de relatos de líderes indígenas locais.
A presidente da Copai (Comissão Permanente de Assuntos Indígenas), Samia Roges Jordy Barbieri informou que o evento realizado pela Ordem visa reunir propostas que serão encaminhadas as autoridades políticas. Já a vice-presidente, Tatiana Ujacow, ressaltou a importância de estreitar laços com as comunidades indígenas e diferentes etnias.
Faremá contou que no Xingú os índios vivem da pesca, plantio, e que lá não bebem, e apenas o pajé fuma. “Vi os Guaranis e Terenas colocando as preocupações deles de tudo isso e me entristeceu muito mesmo a situação dos meus parentes, de ver como eles sofrem. Eu entendo o que é álcool, cigarro, droga, mas lá no Xingú não tem nada disso”, afirmou. O cacique destacou também a questão da violência. “No nosso grupo isso não acontece, não tem violência. Se alguém fica descontente ele se muda pra outro lugar ou conversa”, explicou.
O Parque Indígena do Xingú fica localizado ao norte do Estado de Mato Grosso, entre o Planalto Central e a floresta Amazônica. Foi criado em 1961, pelo presidente Jânio Quadros, tendo sido a primeira terra indígena homologada pela União. Os principais idealizadores foram os irmãos Villas Bôas (Orlando, Cláudio e Leonardo) e o projeto antropológico redigido por Darcy Ribeiro. Hoje a área de 2,8 milhões de hectares é habitada por cerca de dois mil índios, de nove etnias diferentes e 52 grupos étnicos.
Em suas andanças pelas aldeias no país, Faremá, disse que tem observado que hoje a cultura do branco está tomando conta da cultura indígena e citou a visita que fez a uma Aldeia Urbana, na Capital. “Fui na aldeia urbana, mas lá não é aldeia, é cidade. Senti estranho. Perguntei pro cacique e ele falou que não tem onde plantar. Ai foi que percebi que parente não tem terra aqui. Quando chegar no Xingú vou contar tudo o que vi”, lamentou.
Apesar de ter cultura preservada, doenças dos brancos já chegaram no Xingú
Segundo o cacique as doenças do homem branco já estão no Parque Indígena. Ele atentou para o fato de que antes a Funai (Fundação Nacional do Índio) disponibilizava médicos para atendimentos no Xingú e que agora o atendimento acabou. “A doença já está lá. A doença do câncer, tuberculose, coisas que não tinha antes”, explicou. Apesar da carência dos atendimentos, Faremá declarou que em casos mais graves uma aeronave fica a disposição para levá-los para Canarana (MT), que é a cidade mais próxima onde são examinados por uma equipe médica.
Índios do Xingú cursam universidade
Um número muito pequeno de índios do Xingú estuda o curso universitário hoje. A pesquisadora e artista plástica, Deusenid Félix, informou que os índios do Parque praticamente não saem, apenas os caciques, que viajam e voltam para contar o que viu aos demais. Mesmo assim, Faremá explicou que da aldeia dele, três pessoas fazem o curso universitário. “Tenho um sobrinho que faz universidade Federal em São Carlos, interior de São Paulo. É pouco que eu sei que estuda. Conheço três e a preferência deles é pela área de educação”, disse.
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