Revitalização na área central cria desvantagem comercial, dizem lojistas

Comerciantes da área central reclamam que poder público cobra, mas não há contrapartida

Ouvir Notícia Pausar Notícia
Compartilhar

Comerciantes da área central reclamam que poder público cobra, mas não há contrapartida

“Chega dessa história do poder público ficar pensando em iniciativas isoladas. Como a gente quer o Centro daqui dez anos, daqui vinte anos?”, o questionamento é do primeiro-secretário da ACICG (Associação Comercial e Industrial de Campo Grande) Roberto Oshiro sobre os investimentos que os empresários vão ter que fazer para se adequarem ao projeto Reviva Centro.

Oshiro explica que os empresários não são contra as mudanças que preveem diminuição das fachadas, retirada dos fios, fiação subterrânea, retirada dos postes, elevação do nível da rua, elevação do nível da calçada, mas lembra que é preciso o poder público fazer a parte dele.

“O Poder Público vem só proibindo, ele não faz a parte dele. De que adianta fazer a Lei da Cidade Limpa, exigir dos empresários, até 31 de maio, que troquem todas as suas fachadas, sendo que a parte que cabe a prefeitura ela não vai fazer!”, critica.

Segundo Oshiro, a justificativa da prefeitura para não fazer as mudanças, da lei que ela mesma sancionou, é falta de verba. “Mas e o empresário? Se a gente não tem verba o que faz? Como cumprir o prazo?”, questiona.

As alterações na avenida Mato Grosso, rua Rui Barbosa, avenida Afonso Pena e avenida Calógeras devem ser concluídas até 31 de maio deste ano. Quem não cumprir o prazo de adequação da mudança das fachadas vai pagar multa. Segundo o texto, a inobservância sujeita aos infratores penalidades, tais como: notificação por escrito, multa, cancelamento da licença ou da autorização do anúncio (nome da loja) e remoção do mesmo. O valor da multa é a partir de R$ 5 mil por anúncio irregular.

A gerente da loja Fraldolândia, na avenida Calógeras com a Maracaju, Vanessa Pereira, 24 anos, acredita que a mudança não vai ser boa para os negócios “Mesmo a loja identificada, quem passa de carro muitas vezes não enxerga, imagina quando tudo ficar ‘padronizado’. Perde a identidade visual”, diz.

Ela também reclama do custo do investimento. “A gente já tem uma estrutura montada. Então agora vamos ter que gastar para retirar a fachada e depois para refazer com as normas”.

Além disso, Vanessa aponta que a prefeitura sabe cobrar, mas não orientar. “Até os funcionários da prefeitura tem dificuldade em orientar. A gente vai lá e eles não sabem explicar. Falta informação”.

Os lojistas reclamam que a exigência traz concorrência desleal, pois os estabelecimentos de outros pontos da cidade não terão que arcar com esse custo extra. E o comércio do centro, que não tem o conforto dos shoppings, não oferece estacioamento e outros atrativos, terá ainda esse encargo imposto pelo poder público. “Com o dinheiro que terei que gastar, um concorrente meu pode investir tudo em mercadoria e vender à vista”, diz um deles. 

Ao mesmo tempo

Oshiro aponta que os empresários aceitam o projeto, mas que este seja feito concomitantemente com as obras da prefeitura. “Eu vou ter que alterar a minha fachada, a obra vai prejudicar meu comércio. Vai prejudicar o movimento. Ai depois vem a prefeitura, quebrando de novo, prejudicando novamente o movimento. Numa situação que a gente tem redução de faturamento é perigoso até fechar a empresa. Então vamos fazer concomitante. Quando a prefeitura vier fazendo a parte dela, que é a retirada dos fios, dos postes, ai o empresário também faz a parte dela”, aponta como solução.

Além disso, Oshiro reclama que as obras da prefeitura têm demorado muito. “Aquela obra do shopping lá..Tem empresa que ficou um ano e meio, dois anos parada. Prejudicou o movimento, então tem que ter prazo para começar e para acabar. E o menos danoso possível, tanto para o trânsito, quanto para o movimento comercial. Faz à noite, faz domingo. O melhor horário, que não prejudique o movimento. Tem que ser uma coisa planejada”, critica.

Emprego

O secretário ainda lembra que o comércio é o setor que mais emprega no Mato Grosso do Sul, principalmente, em datas comemorativas quando se cria empregos temporários.

Nos primeiros três meses deste ano, por exemplo, o comércio gerou 5.076 novas vagas. Em segundo lugar veio a indústria de transformação com 1.349 e em terceiro a construção civil com 1.279 vagas.

Os municípios que mais geraram emprego no estado foram Campo Grande (2.257), Três Lagoas (1.551) e Dourados (1.265).

Conteúdos relacionados