Redução de juros dos bancos tem condições de ser sustentável
A redução dos juros bancários registrada nas últimas semanas não é passageira e tem condições de ser sustentável, dizem especialistas. Segundo eles, a queda das taxas tende a reduzir a inadimplência, uma das principais causas dos juros altos. Além disso, a desaceleração da economia impedirá que a taxa Selic, juros básicos da economia que servem […]
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A redução dos juros bancários registrada nas últimas semanas não é passageira e tem condições de ser sustentável, dizem especialistas. Segundo eles, a queda das taxas tende a reduzir a inadimplência, uma das principais causas dos juros altos. Além disso, a desaceleração da economia impedirá que a taxa Selic, juros básicos da economia que servem de referência para as taxas finais das operações de crédito, seja reajustada tão cedo pelo Banco Central.
O governo tem agido em duas frentes para reduzir os juros. Por um lado, os bancos públicos têm liderado um movimento de corte nas taxas das linhas de crédito. Isso reduz o spread bancário, diferença entre o custo dos bancos para captar recursos de clientes e as taxas cobradas nos empréstimos e financiamentos.
Por outro lado, desde o segundo semestre do ano passado, o Banco Central vem reduzido a taxa Selic. Atualmente em 9% ao ano, os juros básicos estão no segundo menor nível da história. Para permitir que a taxa continue caindo sem provocar desequilíbrio no mercado financeiro e nas contas públicas, o governo mudou a remuneração da poupança.
Ao mesmo tempo em que estimula o crédito, a redução dos juros pode aquecer a economia. Caso o consumo se expanda rapidamente, a inflação pode voltar a acelerar, o que forçaria o Banco Central a interromper a trajetória de queda da Selic. Os especialistas, no entanto, descartam o risco de reajuste dos juros básicos. “A atividade econômica está desacelerando. O Banco Central está agindo tecnicamente num contexto de inflação em queda”, avalia o professor de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV) Robson Gonçalves.
Especialista em finanças pessoais e professor de economia da Universidade de Brasília (UnB), Newton Marques diz que a equipe econômica tem instrumentos para conter um eventual repique da inflação sem necessariamente mexer na Selic. “Se a inflação voltar a apertar, o governo tem um arsenal de medidas administráveis. O governo pode cortar gastos; e o Banco Central, intervir para baixar o dólar”, declara.
Para os dois economistas, a alta da inflação no fim de 2010 e em 2011 foi provocada fundamentalmente por choques nos preços internacionais de alimentos e minérios, fator que não se repetirá neste ano por causa da desaceleração da China e da crise na Europa. “O Banco Central conta com o cenário externo para manter o ciclo de redução dos juros básicos”, diz Gonçalves.
Outro fator que poderia interromper a redução dos juros bancários, uma eventual alta da inadimplência provocada pela expansão do crédito, também foi descartada pelos especialistas. Segundo o professor da FGV, a queda dos juros bancários deve ter o efeito oposto e reduzir os calotes. “As famílias caem na inadimplência justamente por causa dos juros altos. Com o alongamento dos prazos e a queda das taxas, o valor comprometido para os financiamentos fica menor”, ressalta.
Para Newton Marques, o receio de que os bancos estejam mentindo ao informar as reduções de taxas não representa uma preocupação. Isso porque, mesmo nesses casos, os consumidores que recorrem à Justiça poderão se beneficiar de juros menores. “Os contratos bancários com revisão judicial são baseados nas taxas médias informadas ao mercado. Se houver mentira, ela será incorporada à taxa renegociada”, explica.
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