A redução de 0,25 ponto percentual na Selic feita na semana passada, indo à mínima histórica de 7,25 por cento ao ano, foi o “ultimo ajuste” das condições monetárias diante do atual cenário inflacionário. O recado claro foi dado pelo Banco Central, mas ainda deixou em aberto os próximos passos mais à frente.

Para analistas consultados pela Reuters, a taxa básica de juros deve permanecer estável ao longo de 2013 ou, pelo menos, até o segundo semestre do próximo ano. Tudo vai depender do comportamento da inflação e da economia.

“Está muito claro: os diretores falaram abertamente que o corte da semana passada foi o último e não esperamos alta dos juros em 2013”, disse o economista-chefe da PlannerProsper, Eduardo Velho. “Se houver ameaça de desvio da inflação, o governo vai adotar medidas macroprudenciais, reverter compulsório e medidas fiscais antes de voltar a subir a taxa”, acrescentou.

Em sua ata, publicada nesta quinta-feira, o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC mostrou que os cinco membros que votaram a favor do corte argumentaram que ainda havia incertezas sobre a velocidade da recuperação econômica, sobretudo por conta da expectativa de que fragilidade da economia global seja mais longa do que o esperado. Assim, o reflexo para o Brasil é desinflacionário.

“Além disso, foi destacado que as recentes pressões de preços decorrem, principalmente, de choques de oferta, internos e externos, que tendem a reverter no médio prazo. Portanto, no entendimento desses cinco membros do comitê, o cenário prospectivo para a inflação ainda comportava um último ajuste nas condições monetárias”, trouxe a ata.

Na semana passada, o Copom fez o décimo corte seguido na taxa básica de juros e já havia indicado que o ciclo de afrouxamento monetário iniciado em agosto de 2011, e que somou 5,25 pontos percentuais, havia chegado ao fim. O objetivo foi ajudar na recuperação econômica do país, afetada pela crise internacional.

“O Comitê entende que a estabilidade das condições monetárias por um período de tempo suficientemente prolongado é a estratégia mais adequada para garantir a convergência da inflação para a meta, ainda que de forma não linear”, informou o BC na última semana, repetindo a frase na ata.

A decisão não foi unânime, com cinco membros votando pela redução e os outros três, pela manutenção da taxa em 7,50 por cento.

Pela ata, os dissidentes argumentaram que a recuperação da atividade tende a ser sustentada pelos impulsos monetários, fiscais e de crédito já dados e, “eventualmente, pressões de demanda e de custos poderão incidir sobre a inflação”.

INFLAÇÃO

O Copom também informou que o cenário para a inflação, embora os recentes choques tenham impactado negativamente no curto prazo, manteve “sinais favoráveis em prazos mais longos”. Por isso, pelo cenário de referência (com dólar a 2,05 reais e Selic a 7,50 por cento ao ano), o Copom manteve a projeção para a inflação em 2012, mas acima do centro da meta do governo de 4,5 por cento pelo IPCA.

Já para 2013, também por esse cenário, o Copom reduziu suas estimativas, mas também as manteve acima do centro da meta, que ainda tem margem de dois pontos percentuais para mais ou menos. Para o terceiro trimestre de 2014, a projeção também está acima do centro da meta.

A inflação mais pressionada é o motivo que leva parte do mercado a acreditar que o BC poderá voltar a subir a Selic a partir do segundo semestre de 2013.

“Como o risco de a inflação superar o teto da meta é grande, achamos que o BC pode ser levado a subir a Selic de forma moderada no fim de 2013”, comentou o economista-chefe da SulAmérica Investimento, Newton Rosa, para quem o cenário provável é de que a Selic vá a 8,5 por cento no fim do próximo ano.

Para o economista da consultoria Tendências, Silvo Campos Neto, a Selic deverá permanecer no atual patamar ao longo de 2013, pelo menos, mesmo com a inflação mais pesada. Para ele, a autoridade monetária não foca exatamente no centro da meta e, assim, dá mais espaço para a manutenção dos juros baixos.

A inflação vem apresentando constantes sinais de pressão, sobretudo vindos dos alimentos. O IPCA de setembro, por exemplo, subiu 0,57 por cento, a maior variação para o mês em nove anos.

ATIVIDADE

Na ata, o Copom ponderou que são favoráveis as perspectivas para a atividade econômica neste semestre e no próximo ano, “com alguma assimetria entre os diversos setores” e que “a atividade doméstica continuará a ser favorecida pelas transferências públicas, bem como pelo vigor do mercado de trabalho”.

Também afirmou que o ambiente externo continua “complexo” porque ainda não há uma solução definitiva para a crise europeia, e que o cenário para “importantes economistas emergentes se apresenta mais desafiador” do que se esperava antes.

As autoridades brasileiras têm defendido que a economia brasileira começou a se recuperar neste semestre e que, por isso, pode crescer mais de 4 por cento em 2013. Neste ano, não passará de 2 por cento.

Mesmo com a perspectiva de que a Selic ficará estável, a economista economista-chefe da ICAP Brasil, Inês Filipa Marques Pereira, avalia que, se a atividade econômica não melhorar como o esperado, o Copom poderá até mesmo voltar a fazer novos cortes na Selic.

“Se os investimentos não mostrarem uma retomada sustentável e se inflação ao longo do primeiro trimestre sinalizar que vem um pouco mais favorável, o BC pode retomar o ciclo de baixa”, comentou ela.