A notícia de um acordo de cessar-fogo entre o governo de Israel e o Hamas, grupo islamita que controla a Faixa de Gaza, trouxe uma sensação de alivio para os moradores da região. Depois de oito dias de bombardeios mútuos que já deixaram pelo menos 152 mortos (147 palestinos e 5 israelenses), a brasileira Perla Szaf, 33 anos, explica que seu principal desejo é dormir sem pensar na possibilidade de ter que levantar e correr para um local seguro.

“(Nos últimos dias) ouvi barulho de sirene até dentro dos meus sonhos. A partir de sexta-feira, a sirene ficou constante no horário do pico, quando está todo mundo na rua. (…) (Minha rotina) não mudou nada (desde os ataques). Só a noite eu fico pensando o que fazer se tocar a sirene. Tenho 90 segundos para tirar os dois (filhos) da cama e vencer os três andares para chegar no quarto de segurança. (…) Com o cessar fogo pretendo deitar a cabeça e dormir porque (nesses momentos) sua cabeça pensa mais do que devia. Eu espero (conseguir relaxar) sim. Vamos ver se não vai ter nenhuma surpresa. Surpresa de nenhum dos lados (Israel e Hamas)”, contou.

Apesar de morar há 11 anos em Israel e já ter vivido “duas guerras e um conflito”, nas suas contas, a tradutora explica que nunca sentiu “a sensação” que teve desta vez, durante a ofensiva que ficou conhecida como “Pilar Defensivo”. Isso porque a cidade onde mora com o marido israelense e os dois filhos, chamada Rishon Levion, localizada a cerca de sete km de Tel Aviv, foi atacada na última quinta-feira.

“Até então não tinha chegado nenhum míssil (em Rishon Levion). (Quarta-feira) era um dia completamente normal para mim. (Meus filhos) foram pra creche e voltaram. Estavam comendo iogurte, quando, umas 16h40, veio aquela sirene. Olhei para o meu marido e cada um pegou um filho pelos braços. Estávamos bem perto do prédio. Paramos em frente o parque de segurança. Eu achava que estava segura ali. Não vou dizer que tenho medo constante (desde então) porque a primeira sirene a gente não esquece. No que parou a sirene, a gente escuta aquele estrondo, que é algo que faz tremer o chão. Tremer de verdade. É um estrondo terrível. Subimos para o apartamento. Não que estivéssemos mais seguro, mas para pode respirar, aliviar”, explicou.

A sirene a que se refere Perla é parte do sistema antimísseis de Israel, conhecido como Cúpula de Ferro. Ao ouvir o barulho, segundo a brasileira, os moradores da cidade onde ela mora têm 90 segundos para irem a um local seguro. Por conta disso, os prédios israelenses costumam ter um quarto de segurança, onde a família ou os moradores de um conjunto residencial se protegem.

“A sensação é terrível. Aqui em (Rashion Levion) tenho 90 segundos pra chegar no lugar mais seguro ao meu alcance. No que passa esses 90 segundos, é quando o míssil chegou ou está para chegar. Geralmente, quando acaba a sirene, aí vem a Cúpula de Ferro, que encontra o míssil ou o míssil cai. Cada região tem seus minutos. Mais para o norte são dois minutos (para se proteger). (Perto de gaza) são 15 segundos. Depois são três a quatro minutos de espera até retornar pra casa e começar a descobrir, se (o míssil) caiu (em Israel) ou se a Cúpula de Ferro estourou no ar”, conta.

Ainda assim, Perla não pensa em voltar para Porto Alegre, onde nasceu, ou para qualquer outra cidade brasileira. Apesar do país viver em conflito há muitos anos, ela diz que nunca se sentiu tão segura como agora.

“Nunca (penso em voltar para o Brasil). Chego em Porto Alegre e já seguro a bolsa, fico olhando para os lados. O medo é constante. Quando desembarco no aeroporto, minha cabeça fica completamente em choque. Na última vez que fui, em junho, estava falando com meu marido no telefone do aeroporto em hebraico e um homem achou que eu era turista. Vi ele vindo na minha direção e sorrindo. Avisei meu marido em hebraico e entrei para dentro da área de embarque. Alguma coisa ele ia levar de mim. Isso me assusta. Vou continuar visitando, mas nunca (vou voltar). Aqui é minha vida”, responde.