Decisão aplaudida pelos parlamentares da base do governo na reunião da CPI do Cachoeira, a disposição do governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz , de abrir seu sigilo bancário, fiscal e telefônico à comissão foi considerada “propaganda enganosa” pela oposição. O argumento é de que o sigilo do governador já havia sido quebrado pela Justiça em procedimentos investigatórios em curso.

– Vamos ser objetivos: O que o senhor está fazendo aqui (e houve milhões de ‘upas’ aqui)? Autorizando o sigilo que já foi quebrado? O que é isso? – perguntou o deputado Domingos Sávio (PSDB-MG), que questionou “a novidade” do fato.

Agnelo já havia anunciado, pela manhã, que abriria o sigilo para a CPI. À tarde, assinou autorização formal de quebra de sigilo pela CPI após pressão do deputado Onyx Lorenzoni (DEM-RS). Para Carlos Sampaio (PSDB-SP), a nobreza do gesto do governador é questionável, já que, se o sigilo havia sido quebrado anteriormente, os dados poderiam ser conseguidos pela CPI de qualquer maneira.

– A CPI poderia perfeitamente pedir o compartilhamento das provas no inquérito em que Vossa Excelência teve o sigilo quebrado – disse ele.

Durante o depoimento, parlamentares da base do governo se alternaram em elogios ao governador. Grande parte das inscrições foi de parlamentares que não integram a comissão.

Humberto Costa (PT-PE), José Pimentel (PT-CE) e Sílvio Costa (PTB-PE) e Paulo Teixeira (PT-SP) ressaltaram a versão de que a organização criminosa tentou atacar Agnelo por não conseguir infiltrar seus membros no governo do Distrito Federal. A afirmação havia sido feita pelo governador durante o depoimento, quando acusou o senador Demóstenes Torres (sem partido-GO) de fazer pronunciamento contra ele por esse motivo.

– Quero registrar, senhor governador, a forma como o senhor resistiu a essa organização criminosa que cercou Brasília, com uma atuação forte no entorno – disse Pimentel.

Cândido Vacarezza (PT-SP) elogiou a conduta de Agnelo durante o depoimento e disse considerar o governador vítima da malediscência do crime organizado. Para ele, a oposição “se apequenou”, fez “pirotecnia” e repetiu as mesmas perguntas sobre questões já respondidas pelo governador.

– Não adianta continuar o debate mesquinho, maledicente, carregado de aleivosias porque não vai atingir em nada Vossa Excelência.

Demora

Para Humberto Costa (PT-PE), os procedimentos das comissões parlamentares de inquérito devem ser revistos. O senador criticou as manifestações demoradas dos parlamentares, a grande quantidade de questões de ordem e os “acessos de histeria”. Para ele, não se deve convocar outros governadores a depor, a não ser que haja indícios graves de irregularidades. No caso de Agnelo, não havia nada concreto, afirmou o senador.

– Ele passou o dia justificando citações de outras pessoas, ou ainda falando de licitações que ocorreram há vários anos e que nada têm a ver com a CPI – disse.

Opinião semelhante expressou Sílvio Costa (PTB-PE), que criticou as perguntas da oposição, que teriam se repetido para tomar o tempo do governador. Ao final da reunião, às 20h30, apoiadores de Agnelo fizeram uma manifestação no corredor das comissões. Com uma faixa nas mãos, gritavam “Chega de mentira e deixa o homem trabalhar”.

O senador Walter Pinheiro (PT-BA), que acompanhou o governador na chegada à sala da CPI, foi o último a falar na reunião, ressaltando a disposição de Agnelo de abrir seus sigilos.

O oposicionista Cássio Cunha Lima (PSDB-PB), que foi contra a convocação dos governadores à CPI, afirmou que o regimento do Congresso foi rasgado para fazer da CPI um “embate político deplorável”. Para ele, com os depoimentos de Agnelo e do governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), encerrou-se uma etapa da CPI com “placar de um a um”.

– Podemos dizer que houve um empate porque Vossa Excelência acabou sendo objeto de uma disputa política que deveria estar não neste espaço, mas quem sabe, nas ruas do Brasil ou pelo menos no Plenário do Senado ou da Câmara, jamais numa CPI -disse.

Para Randolfe Rodrigues (PSOL-AP), no entanto, a decisão da Procuradoria Geral da República de pedir a abertura de inquérito contra Agnelo e o governador de Goiás, Marconi Perillo, mostra que a comissão acertou ao convocar os governadores.