Por conta do desmatamento, ventos já ressecam solo de MS

Sim, é verdadeiro que, nos espaços agrários de Mato Grosso do Sul, os ventos vêm retirando umidade dos solos – e, cada vez mais, causando-lhes o ressecamento. Esse é um problema ambiental que vem chamando a atenção dos agroclimatologistas no mundo todo. Em função dos ventos, os solos ressecam na medida de sua velocidade. E […]

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Sim, é verdadeiro que, nos espaços agrários de Mato Grosso do Sul, os ventos vêm retirando umidade dos solos – e, cada vez mais, causando-lhes o ressecamento. Esse é um problema ambiental que vem chamando a atenção dos agroclimatologistas no mundo todo. Em função dos ventos, os solos ressecam na medida de sua velocidade. E isso preocupa. Porque os ventos de superfície , os de baixa troposfera, por causa dos desmatamentos, vêm ganhando velocidade.

Áreas cada vez maiores, afetadas por esses desmatamentos, vêm sendo expostas a essa ação eólica. Em nosso Estado, áreas geográficas imensas, originalmente recobertas pelo cerrado e pela mata da região de Dourados, foram desmatadas muito além dos 80% previstos no Código Florestal Brasileiro, a fim de cederem espaços aos plantios e às pastagens.

Tivessem mantido as reservas legais de 20% em todas as propriedades, por certo teríamos, hoje, um verdadeiro mosaico de vegetação sobre a paisagem que, dentre tantos benefícios, serviria de anteparo, de barreira, algo importante para amortecer a velocidade dos ventos e, assim, melhorar a disponibilidade hídrica dos solos.

O desmatamento foi e continua sendo um fenômeno assustador. No município de Dourados, por exemplo, 98% do revestimento florestal já veio abaixo, sendo essa a tônica de toda a Grande Dourados e do Vale do Ivinhema, onde a Mata Atlântica de Dourados reinava imponente. E nem é preciso sobrevoar essas áreas, bem como as áreas do cerrado para perceber a amplitude do problema.

Ainda não cessou, nessas regiões, o desmatamento acelerado, apesar da proximidade de sua fase terminal. E não é ilusão de ótica. A escalada brutal do desmatamento está explicita na paisagem e todos nós estamos assistindo às últimas nesgas de mata e cerrado, com raríssimas exceções, sendo queimadas e destruídas. Dessa forma, o desmatamento generalizado resultou no que aí está – os chamados “descampados”.

Essas áreas, embora ocupadas por um autêntico celeiro agropastoril, expõem, a sumir de vista, a monotonia de uma paisagem totalmente desabrigada dos ventos de superfície. Ventos que, além dos descampados, contam, a seu favor, com outra grande aliada, qual seja, a topografia.

Assim, áreas descampadas, com topografia das mais suaves do mundo, compõem o binômio que só agrava o problema, pois, atuando livremente, esses ventos (de superfície) passaram a retirar o máximo que podem da umidade dos solos, como que cobrando a fatura de um desmatamento que foi muito além do que a natureza pode suportar. Com efeito, o incremento da velocidade dos ventos nessas antigas áreas sul-mato-grossenses de matas e cerrados nada mais é do que a manifestação de um sério desequilíbrio que, sem medidas restaurativas, só tende a ampliar os impactos negativos, como o das secas e dos veranicos.

Em vista da amplitude do desmatamento em que se encontram as regiões do cerrado e da Mata de Dourados e dos problemas ambientais que comprometem o futuro, o que se espera é o surgimento de iniciativas, medidas mitigatórias, que, paulatinamente, venham a amenizar o problema. A prática do plantio direto já é uma iniciativa importante.

A recomposição, com espécies nativas, dos 20% das reservas legais criaria os mosaicos de vegetação, mosaicos fundamentais como anteparo aos ventos. A implantação, também, dos “quebra-ventos”, formados por fileiras de árvores e arbustos, dispostos perpendicularmente aos ventos predominantes, igualmente seria uma medida importante. Uma medida que vem de tempos antigos, mas que pouca atenção vem recebendo, apesar das boas pesquisas da EMBRAPA sobre o assunto. Por reconhecerem a sua importância, países como os Estados Unidos, a Dinamarca e a Rússia chegaram a implantar quebra-ventos até em escala nacional. Por que nós não implantemos os nossos?

Laerte Tetila é mestre em geografia física pela USP e deputado estadual (PT/MS).

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