Poeta Manuel de Barros inspira espetáculo de diretores brasilienses
poesia de Manoel de Barros é a inspiração dos diretores Adriano e Fernando Guimarães, de Brasília, no espetáculo ‘nada’, que estreia no dia 24 de maio, no Oi Futuro do Flamengo. Os irmãos voltam ao centro cultural do Flamengo quatro anos depois da temporada de estreia de Resta Pouco a Dizer – a última parte […]
poesia de Manoel de Barros é a inspiração dos diretores Adriano e Fernando Guimarães, de Brasília, no espetáculo ‘nada’, que estreia no dia 24 de maio, no Oi Futuro do Flamengo. Os irmãos voltam ao centro cultural do Flamengo quatro anos depois da temporada de estreia de Resta Pouco a Dizer – a última parte da tetralogia de peças curtas, performances e instalações que os tornou uma referência na obra do dramaturgo irlandês Samuel Beckett (1906-1989) no Brasil.
Na peça, uma família do interior comemora o aniversário de 80 anos do avô (Lafayette Galvão). Em volta dele, estão Lourival, o pai acolhedor (Adriano Garib); Maria Olga, a mãe, responsável pela ordem da casa (Miwa Yanagisawa); Adaíla, a tia (Liliane Rovaris), de ar aéreo e sofrendo de falta de memória; Tereza, a doce sobrinha órfã (Camila Márdila); e Cícero (Rodrigo Lélis), um tipo simplório que serve à família. No meio da festa, chega Ana, a filha (Marília Simões), que retorna à casa depois de sete anos de ausência, usando um vestido de noiva.
Em clima de bate papo em família, histórias, versos e chistes extraídos da obra de Manoel de Barros vêm à baila, em meio a causos e tiradas evocados e selecionados durante o processo de ensaios. O Manoel de Exercícios de Ser Criança, Poemas Rupestres e Livro de Pré-Coisas se funde com fragmentos de outros trabalhos do autor, e com a invenção memorialista da cena, enquanto são servidos bolos, sucos, cafezinhos e pães de queijo para os espectadores, durante hora e meia que dura a festa.
Na montagem dos irmãos Guimarães, o público, ao mesmo tempo em que assiste a encenação, participa dela como se fossem convidados. Para acomodá-los, foram dispostos assentos em madeira, dos mais variados estilos e dimensões, pelo espaço cênico. A montagem também conta com mais de 4 mil peças de vidro que ocupam o plano inclinado onde se costuma acomodar a plateia. De vários tamanhos e feitios, as peças são cuidadosamente iluminadas. Não podem ser chamadas de cenário, no entanto, já que não servem à cena, aquelas “inutilezas”. Parecem, antes, ter-se reunido ali em complô para conclamar ao desvio o olhar do espectador e dar ao “cisco”, como quer Manoel, “uma importância de catedral”.
Dirigido em parceria com Miwa Yanagizawa (da Cia Teatro Autônomo), a peça teve sua dramaturgia elaborada por Emanuel Aragão e os irmãos Guimarães, ao longo de três meses e meio de ensaios. “O que nos interessou desde o início da pesquisa, em 2009, quando elegemos a obra de Manoel de Barros como tema do projeto de diplomação em Artes Cênicas que dirigimos na Faculdade Dulcina de Moraes, em Brasília, foi imaginar como seria operar na cena a desestabilização que ele promove na linguagem, dando um novo estatuto à palavra” explica Adriano. “Mais do que a palavra poética em si, o que nos guiou foram os conselhos que Manoel destila, de forma velada, nas entrelinhas de seus poemas, ou explícita, através das entrevistas que concedeu ao longo da vida, reunidas por Adalberto Müller no volume da coleção Encontros dedicado a ele”, completa Fernando.
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