Entender a questão ambiental de forma global e conhecer a região onde atua são princípios básicos para mudar conceitos nas ações de preservação e fiscalização dos biomas brasileiros – um dos objetivos do curso Estratégias para a Conservação da Natureza, cuja décima edição foi encerrada no Pantanal de Corumbá (MS) na semana passada, entre os dias 8 e 17.

O curso reúne policias ambientais de todo o país, desde 1992, e este ano participaram 35 oficiais de 25 estados. A integração, que muitas vezes não ocorre de forma institucional, é um dos pontos fortes do treinamento, onde, ao final, os militares se reúnem por regiões para discutir os problemas de suas corporações, geralmente similares, e apresentar soluções.

“A partir do momento que o policial ambiental tem um melhor entendimento da situação que convive, ele passa a operar mais com a razão e não apenas obedecendo a ordens”, afirma o ambientalista Miguel Milano, um dos palestrantes do curso. Essa melhor preparação para cuidar do meio ambiente, segundo ele, é fundamental para fortalecer as corporações.

As aulas foram realizas a bordo de um navio, que navegou 500 km pelo Pantanal. Esta edição teve o apoio da ANA (Agência Nacional de Águas), Fundação O Boticário de Proteção a Natureza, SOS Mata Atlântica, ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade), mineradora MMX, Faculdade Santa Teresa e RPCSA (Rede de Proteção e Conservação da Serra do Amolar).

Força tarefa

Um dos focos do curso promovido pela Polícia Militar Ambiental de Mato Grosso do Sul e realizado pelo IHP (Instituto Homem Pantaneiro) é a educação ambiental como ferramenta para envolver as comunidades e quebrar paradigmas. A capacitação também valoriza as parcerias, inclusive com o terceiro setor, para superar limitações operacionais.

Idealizador do projeto, o coronel reformado Ângelo Rabelo, ex-comandante da PMA/MS, afirma que aumento de apreensões e multas é um atestado de incompetência. “Somos a maior força tarefa organizada do mundo para cuidar do meio ambiente e precisamos estar preparados para chegar antes da prática do crime, por meio de uma atuação mais preventiva”, observa.

Biólogo em conservação e também palestrante do curso, Fernando Fernandez realça que os policiais são capacitados “com a mão na massa”, isto é, convivendo com o bioma pantaneiro, o que proporciona uma visão melhor da nossa complexidade ambiental e seus problemas comuns. “Isso tem mais valor do que projetos bonitos, amplia os horizontes da ação policial”.

Quebra conceitos

A visão estratégica do curso quanto à integração das forças e a formação de uma massa crítica, mostra que é preciso assegurar políticas para mudar a realidade atual. “Temos um efetivo de 70 homens para cuidar de um terço da Floresta Amazônica, enquanto São Paulo, onde os recursos se exauriram, tem dois mil. Isto é negligenciar”, afirma o 2º tenente Bruno Pereira, da Amazônia.

Para o major Nivaldo de Pádua Mello, comandante da PMA de Corumbá, a capacitação é inédita porque proporciona o encontro de policiais ambientais de todo o país, destacando ainda a excelência dos instrutores. “O curso quebra conceitos, precisamos agir mais na prevenção do que na questão legalista para chegarmos à frente dos problemas ambientais”, acentua.

A convivência de dez dias com colegas de outros estados, com aulas em um navio-escola navegando pelo Rio Paraguai, surpreendeu a 1ª tenente Paola Mele, da Ambiental de São Paulo. “A gama de conhecimentos adquirida nos permite refletir sobre nossas ações e ter uma noção exata do nosso papel, que deve ser preventiva, para evitarmos impactos futuros”, pontuou.