Parlamentares do PT que participam da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) mista do Cachoeira se reuniram na tarde desta segunda-feira no Senado para articular a atuação no depoimento do governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), aguardado amanhã no Senado.

O líder do PT, deputado Jilmar Tatto (PT-SP), disse que Perillo mentiu quando afirmou não ter relações próximas com Carlinhos Cachoeira e afirmou ainda não acreditar que o tucano consiga afastar acusações de conivência com os negócios da organização criminosa. “Ele mentiu. Quando o governador afirmou que não tinha proximidade com Cachoeira, vimos depois que era mentira. Ele tem relação íntima e na CPI ele vai ter que explicar essas relações”, disse o petista.

Perillo é suspeito de ter facilitado os negócios do bicheiro Carlinhos Cachoeira em Goiás. Tatto afirmou ainda que o governador goiano fez “teatro” quando pedia para ser chamado à CPI. “Aquilo foi um teatro. Ele já sabia que seria convocado. Já que está tão seguro da atuação dele, por que não aproveita e abre o sigilo de telefone, o bancário, fiscal?”.

Perguntado se a ordem do PT é pressionar o governador tucano, Tatto negou, mas reforçou que não tem expectativa de ser convencido da inocência de Perillo. “Vamos ver se ele consegue explicar o inexplicável. Quem está acusando o governador é a Polícia Federal, não é o PT nem a imprensa. É difícil que ele explique a relação tão próxima com o chefe da quadrilha”, disse adiantando a avaliação petista do depoimento do tucano.

Questionado se a mesma cobrança será feita ao governador do Distrito Federal, Agnelo Queiróz (PT-DF), que também foi convocado a prestar depoimento à CPI, o líder do PT na Câmara nega semelhança nas responsabilidades, afirmando que Agnelo combateu o grupo de Cachoeira, enquanto Perillo teria sido conivente. “Nós confiamos na forma que Agnelo agiu nesse episódio. A quadrilha quis entrar no DF e não conseguiu, diferentemente de Goiás, lá o governador não combateu os crimes e, ao que parece, participou”.

Carlinhos Cachoeira
Acusado de comandar a exploração do jogo ilegal em Goiás, Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, foi preso na Operação Monte Carlo, da Polícia Federal, em 29 de fevereiro de 2012, oito anos após a divulgação de um vídeo em que Waldomiro Diniz, assessor do então ministro da Casa Civil, José Dirceu, lhe pedia propina. O escândalo culminou na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Bingos e na revelação do suposto esquema de pagamento de parlamentares que ficou conhecido como mensalão.

Escutas telefônicas realizadas durante a investigação da PF apontaram contatos entre Cachoeira e o senador democrata Demóstenes Torres (GO). Ele reagiu dizendo que a violação do seu sigilo telefônico não havia obedecido a critérios legais.

Nos dias seguintes, reportagens dos jornais Folha de S.Paulo e O Globo afirmaram, respectivamente, que o grupo de Cachoeira forneceu telefones antigrampos para políticos, entre eles Demóstenes, e que o senador pediu ao empresário que lhe emprestasse R$ 3 mil em despesas com táxi-aéreo. Na conversa, o democrata ainda vazou informações sobre reuniões reservadas que manteve com representantes dos três Poderes.

Pressionado, Demóstenes pediu afastamento da liderança do DEM no Senado em 27 de março. No dia seguinte, o Psol representou contra o parlamentar no Conselho de Ética e, um dia depois, em 29 de março, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Ricardo Lewandowski autorizou a quebra de seu sigilo bancário.

O presidente do DEM, senador José Agripino Maia (RN), anunciou em 2 de abril que o partido havia decidido abrir um processo que poderia resultar na expulsão de Demóstenes, que, no dia seguinte, pediu a desfiliação da legenda, encerrando a investigação interna. Mas as denúncias só aumentaram e começaram a atingir outros políticos, agentes públicos e empresas.

Após a publicação de suspeitas de que a construtora Delta, maior recebedora de recursos do governo federal nos últimos três anos, faça parte do esquema de Cachoeira, a empresa anunciou a demissão de um funcionário e uma auditoria. O vazamento das conversas apontam encontros de Cachoeira também com os governadores Agnelo Queiroz (PT), do Distrito Federal, e Marconi Perillo (PSDB), de Goiás. Em 19 de abril, o Congresso criou a CPI mista do Cachoeira.