O dia 12 de outubro celebra o dia de Nossa Senhora Aparecida, a Padroeira do Brasil. Também se comemora o dia das Crianças no país. E após o início do processo de pacificação das favelas no Rio de Janeiro, com a instalação das Unidades de Polícia Pacificadoras(UPPs), a vida para elas ficou mais tranquila. Porém, a falta de opções de lazer para os pequenos em comunidades como a Rocinha e o Vidigal é motivo de queixa entre muitos pais e mães.

Cíntia, de 37 anos, é uma delas. Mãe de Ana Clara, de 5 anos, ela reconheceu que a pacificação da comunidade, ocorrida em novembro de 2011, foi bastante positivo para sentir a tranquilidade de poder sair de casa com a filha. Porém, ela diz que a comunidade nunca teve um espaço específico para lazer das crianças, o que a obriga a se locomover para outros bairros próximos à Rocinha:

“Se a gente quer uma praça mais arrumada, bonita, com espaço para as crianças brincarem, temos de ir pra Copacabana, Ipanema, ou Leblon. As ruas aqui são muito estreitas e as praças e quadras existentes são muito precárias”, contou Cíntia ao Jornal do Brasil.

José Carlos, 47 anos, mora na Rocinha desde que nasceu. Segundo contou, na sua época a vida das crianças era bem diferente: “Era um verdadeiro salve-se quem puder!”. O tráfico era forte, seduziu muita gente…era o caminho mais fácil, né? Foi uma bênção o tráfico ter saído daqui. Está bem melhor agora”, comparou.

Moto-taxista, ele ressaltou que as crianças da Rocinha brincam muito nas ruas que dão acesso à favela, perto do túnel do Joá. Por isso, o cuidado com as crianças é redobrado. “Não é culpa deles, os pequenos ficam trancadas dentro de casa, precisam de um local aberto para brincar.”

W., de 10 anos, também deu seu depoimento sobre momentos de dificuldade que passou na Rocinha: “Já tive aula suspensa por causa de tiroteio. Era muito ruim”, contou o menino, enquanto comia doces que ganhou gratuitamente de uma loja em comemoração do Dia das Crianças. O ex-judoca Flávio Canto, que mantém um projeto esportivo na comunidade há mais de 10 anos, lembra o que já passou na Rocinha para manter o Instituto Reação em funcionamento:

“Já fizemos aula no calçadão e na praia ao perdemos o espaço na favela. Quando começamos, na Associação de Moradores, a nossa sala era ao lado da boca de fumo. Existia uma lei que vigorava. Agora a lei é outra, do Estado. Sempre tivemos nossas portas abertas para qualquer um, até para tirar jovens do tráfico. O clima de paz, hoje, é muito maior”, festejou o ex-atleta.

Comércio fraco na véspera de feriado

Na véspera do dia das crianças, o movimento ainda era fraco. Segundo o comerciante Francisco Costa, de 49 anos, os brinquedos começam a vender mais em cima da hora:

“Na hora do desespero, os pais começam a chegar para comprar os presentes para os filhos. Na noite do dia 11 para o dia 12 é quando começam a aumentar as vendas”, contou Costa, que mantém uma loja no camelódromo da Rocinha há cerca de 16 anos.

Ele lembra que a infância da filha, hoje com 20 anos, passou por vários momentos de perigo: “Os traficantes não respeitavam ninguém, era muito tiroteio. Tinha muito medo de bala perdida. Era muito mais complicado”, recordou o comerciante.

Eliane, de 36 anos, comprava na loja de Francisco Costa um brinquedo para o filho Thalysson, de 6 anos. Ela conta que, mesmo após a pacificação da comunidade, não costuma deixar o filho brincar fora de casa:

“Minha preocupação é com as crianças que não têm mãe para ficar cuidando e não respeitam ninguém. Prefiro que ele fique em casa com os brinquedos dele”, disse Eliane, que ainda reclamou das dificuldades para que o filho faça atividades esportivas no Complexo Esportivo da comunidade:

“Não tem vaga para todo mundo e é realmente a melhor opção para as crianças daqui hoje. O problema é que a fila é muito grande para botar os filhos lá, até hoje não consegui”, lamentou Eliane.

No Vidigal, poucas opções

Na favela do Vidigal, em São Conrado, a situação não é muito diferente para as crianças. Os moradores reclamam que há apenas três locais para uso infantil: uma quadra de esportes na rua 3, uma outra quadra no alto da favela (ambas em situação precária) e a Vila Olímpica do Vidigal, que abriga também uma creche.

Silvana Souza é mãe de Caíque, de 4 anos, e Gabriele, de dois. Enquanto esperava a saída dos filhos da creche, ela contou que a pacificação trouxe uma melhora considerável para a população do Vidigal:

“Aqui era tudo barro, as crianças brincavam no barro mesmo. Depois que pacificou, ficou bem melhor mesmo, inclusive para as crianças. Aqui é um espaço onde elas podem brincar direito, com segurança”, contou Souza.

Silvana revela, porém, uma tendência da valorização dos imóveis na comunidade. Atualmente ela paga um aluguel de R$ 400 por uma casa com sala e um quarto:

“Depois que a UPP foi instalada, uma casa que antes custava R$ 20 mil agora custa R$ 100 mil. E não precisa ser uma casa muito boa não. Estão realmente encarecendo muito os imóveis”, finalizou Silvana.