Oposição se divide na CPI do Cachoeira

Não convidem para a mesma bancada da CPI do Cachoeira os deputados e senadores do PSDB. Um dos principais efeitos da tumultuada sessão administrativa da CPI na quinta-feira – que aprovou a convocação de 51 pessas e a quebra de sigilo de 36 mas, em contrapartida, adiou para um segundo momento a investigação e os […]

Ouvir Notícia Pausar Notícia
Compartilhar

Não convidem para a mesma bancada da CPI do Cachoeira os deputados e senadores do PSDB. Um dos principais efeitos da tumultuada sessão administrativa da CPI na quinta-feira – que aprovou a convocação de 51 pessas e a quebra de sigilo de 36 mas, em contrapartida, adiou para um segundo momento a investigação e os depoimentos de governadores e outros políticos envolvidos – foi dividir o principal partido de oposição ao governo de Dilma Rousseff no Congresso.  Enquanto os deputados tucanos aprovaram – e até elogiaram – o rito proposto para a investigação pelo relator Odair Cunha (PT-MG), os senadores do PSDB criticaram duramente, denunciando que a CPI corre o risco de se transformar num jogo de cartas marcadas.

Os deputados do PSDB na CPI, Fernando Francischini (PR) e Carlos Sampaio (SP) votaram a favor da proposta de Odair Cunha de restringir a quebra de sigilo bancário, fiscal e telefônica da construtora Delta à região Centro-Oeste. Já os senadores tucanos, Alvaro Dias (PR) e Cassio Cunha Lima (PB), brigaram para que a investigação se estendesse à Delta em todo o território nacional.
 
Em entrevista exclusiva ao Congresso em Foco, o deputado Carlos Sampaio diz que a CPMI está no caminho certo. Não é a opinião dos senadores. “A CPI do jogo é, na verdade, um jogo de cartas marcadas”, disparou o senador Cássio Cunha Lima (PSDB-PB), ao se pronunciar ontem no plenário do Senado.

“Na origem dos trabalhos, quando da apresentação do roteiro, do plano de trabalho da CPI, eu fui talvez um dos poucos membros, em três votos contrários, a me insurgir contra o plano de trabalho do relator, que já anunciava aquilo que se confirmou hoje, uma investigação seletiva, que protege alguns e expõe outros já expostos”, questionou o tucano.
 
Poderá não dar tempo
 

A divisão do PSDB foi notada até por integrantes da base aliada. O deputado Silvio Costa (PTB-PE) chegou a dizer em plenário que os tucanos, mesmo em menor número, deveriam ter votado contra o requerimento de quebra dos sigilos da Delta somente no centro-oeste. Mesmo em número insuficiente para derrubar o pedido, o petebista entendeu que seria uma forma de marcar posição.
 
Cássio Cunha Lima e Álvaro Dias (PSDB-PR) votaram contra, enquanto os deputados Carlos Sampaio e Fernando Francischini (PSDB-PR) se colocaram a favor, desde que, em seguida, fosse votado a quebra de sigilo da Delta no resto do país e de Fernando Cavendish, ex-presidente da construtora. A tática dos deputados deu errado, já que a votação dos pedidos – incluindo dos governadores – ficou para junho.
 
Na visão de Silvio Costa, com a convocação de 51 pessoas para prestar depoimento – além dos que já estão marcados –, a CPMI não terá mais tempo para fazer outra coisa. “Pela quantidade, vamos ocupar todas as sessões com depoimentos. Desse jeito, nunca mais vamos votar requerimentos”, afirmou. O plano inicial é que os depoimentos ocorram às terças-feiras e as sessões administrativas sejam às quintas-feiras.
 
Governadores
 
Além da diferença de atuação e avaliação entre os integrantes da CPMI, o PSDB deu mais uma mostra ontem de divisão. Em Belo Horizonte, o presidente nacional do partido, deputado Sérgio Guerra (PE), disse não ver chances de a comissão avançar. “Nos partidos, não vejo muitos interessados”, concluiu Sérgio Guera, de acordo com o portal UOL.

Apesar do grande número de requerimentos aprovados ontem, a grande maioria dos envolvidos são personagens de segundo escalão citados nos inquéritos das operações Vegas e Monte Carlo. Convocações dos governadores e de parlamentares envolvidos com o bicheiro Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, não foram analisados.
 
Ao deixar somente para junho a análise destes requerimentos, cresce a sensação entre os senadores de que um plano para esvaziar a comissão está em andamento. Álvaro Dias reage a esse risco. “Acordo para a blindagem de alguns jamais terá minha complacência. Repudio qualquer suspeita de participação minha em acertos escusos”, disparou.
 
Para o relator da CPMI, é preciso “obedecer ao método”. Para ele, primeiro é preciso ouvir os que investigaram a operação, depois os integrantes da quadrilha e só depois políticos e outras autoridades. Até para ter as informações necessárias para confrontá-los. O tucano Carlos Sampaio também pensa assim. Para outros, porém, isso evidenciaria o receio de deixar companheiros em maus lençóis. No PSDB, está encrencado o governador de Goiás, Marconi Perillo. No PT, o governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz, aparece envolvido. E, no PMDB, o governador do Rio, Sérgio Cabral. “O que nós temos colocado, sempre com muita clareza, é que os três governadores devem vir”, defende Alvaro Dias.
 
Indicado pelo PSDB para compor a CPMI, o senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP) criticou a decisão de limitar a quebra de sigilo à Delta no centro-oeste e afirmou que a comissão está fazendo uma “investigação seletiva”. “Essa investigação vai ficar pela metade, vai ser seletiva se não quebrar o sigilo fiscal, o sigilo bancário e todos os sigilos da Delta Brasil”, criticou.

Conteúdos relacionados