Novo presidente do Paraguai assume isolado internacionalmente

Uma contradição atinge o governo do novo presidente do Paraguai, Federico Franco, que chegou ao poder após a deposição de Fernando Lugo, na última sexta-feira (22), desde o seu primeiro dia de gestão: embora tenha assumido o cargo com amplo apoio dos parlamentares, seu governo já nasce sem o respaldo da maioria dos vizinhos sul-americanos. […]

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Uma contradição atinge o governo do novo presidente do Paraguai, Federico Franco, que chegou ao poder após a deposição de Fernando Lugo, na última sexta-feira (22), desde o seu primeiro dia de gestão: embora tenha assumido o cargo com amplo apoio dos parlamentares, seu governo já nasce sem o respaldo da maioria dos vizinhos sul-americanos.

Na votação que aprovou o impeachment de Lugo, somente cinco parlamentares –quatro no Senado e um na Câmara– foram contra a sua destituição. Para tirar o ex-mandatário do posto, os partidos Colorado e Liberal, rivais históricos, decidiram se unir. Siglas menores, como o Partido Pátria Querida, também aderiram ao bloco que derrubou Lugo.

No cenário externo, a situação é oposta: Franco não é reconhecido como presidente para a maioria dos países vizinhos. Cristina Kirchner, presidente argentina, qualificou o impeachment de “golpe de Estado”. “É um ataque definitivo às instituições que reedita situações que acreditávamos absolutamente superadas na América do Sul e na região, em geral”, disse Kirchner. “A Argentina não vai convalidar [o impeachment].”

A mandatária argentina, entretanto, disse que irá esperar a reunião da Cúpula do Mercosul, a realizar-se a partir da próxima terça-feira (26) em Mendoza (Argentina), para decidir com Dilma Rousseff e com José Mujica, presidente do Uruguai, o que fazer.

Dilma foi além. Durante entrevista coletiva, a presidente do Brasil afirmou, horas antes da aprovação do impeachment de Lugo, que “há previsão de sanção” para quem não cumprir “os princípios que caracterizam uma democracia.”

Questionada sobre o assunto, Dilma disse que a sanção para um país que transgride a cláusula de democracia é a “não participação dos órgãos multilaterais”, o que pode significar a expulsão do Mercosul e da Unasul.

Posteriormente, Dilma moderou o tom e afirmou que “não está decidido nem foi inteiramente discutido” o que fazer diante da questão paraguaia. “E não cabe fazer ameaças neste momento, pois não contribui para a busca de uma solução.”

O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, considerou ilegal e ilegítimo o governo de Franco. “O Estado venezuelano, não reconhece a esse inválido, ilegal e ilegítimo governo que se instalou em Assunção”, declarou Chávez no palácio de Miraflores (sede do Executivo). O mandatário boliviano, Evo Morales, também disse não reconhecer um governo que não tenha sido eleito pelo voto. Rafael Corrêa, presidente do Equador, seguiu a mesma linha e sugeriu a saída do Paraguai da Unasul.

Os governos de El Salvador, Nicarágua, Costa Rica –que ofereceu asilo a Lugo– também não reconhecem Franco. O Parlamento Centro Americano (Parlacen) também qualificou a destituição de Lugo como golpe de Estado.

Colômbia e EUA

O colombiano Juan Manuel Santos, que pertence a um partido centro-direita, apenas lamentou a saída de Lugo, mas disse que “formalmente não houve rompimento da democracia.”

Os Estados Unidos, a exemplo do que ocorreu após o golpe em Honduras, em 2010, aceitaram o novo governo. “[Os EUA] reconhecem o voto do senado paraguaio pelo impeachment do presidente Lugo” e “pede para que todos os paraguaios ajam pacificamente, com calma e responsabilidade, dentro do espírito dos princípios democráticos” da nação.

Caso fortaleça suas relações com o Paraguai, os EUA podem ter uma oportunidade de ampliar sua influência na América do Sul, reduzida após as vitórias de presidentes de esquerda desde o final da década de 90.

Após fracassar nas negociações para impedir o impeachment, os chanceleres da Unasul redigiram um comunicado no qual dizem que a destituição de Lugo é uma ameaça à democracia e que os partidos que compõem o bloco poderão rever sua relação com o Paraguai.

Prevendo as dificuldades do isolamento, Franco fez um apelo aos países do Mercosul para que “entendam a situação” do Paraguai e que não façam bloqueios comerciais ao país. Logo após assumir, o presidente nomeou José Félix Estigarribia para a chancelaria –além de Carmero Caballero para o Ministério do Interior e Aldo Pastore para o comando da polícia nacional.

Para o senador Carlos Filizola, apoiador de Lugo e um dos três que votou contra a sua deposição, afirmou que a situação do Paraguai deverá ficar preocupante. “Vamos ficar isolados. E isso é muito ruim para um país que não tem saída para o mar.”

Pressão popular

Internamente, Franco também deverá encontrar resistência: lideranças políticas dos partidos de apoio ao governo Lugo, organizações camponesas, sindicais, estudantis e de sem-teto criaram uma “frente em defesa da democracia”, que pretende iniciar uma série de protestos contra o novo governo, incluindo uma greve geral e ocupações de terra. Integram a frente setores dos partidos Liberal e Colorado que não concordaram com o impeachment.

Além da pressão externa e interna, o governo de Franco já foi alvo, na noite dessa sexta-feira (22), do grupo Anonymous, que tirou a página da Presidência do ar e no lugar colocou uma entrevista com um analista político crítico ao novo governo.

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