Em audiência pública da Comissão Mista Permanente sobre Mudanças Climáticas, realizada nesta quarta-feira (31), especialistas debateram os resultados dos planos nacionais relacionados ao tema e as alternativas econômicas para reduzir os efeitos das mudanças no clima.

O relator da comissão, senador Sergio Souza (PMDB-PR), mencionou eventos extremos no clima do planeta e indagou sobre o impacto da mudança climática na produção agrícola no Brasil.

O coordenador-geral de agrometeorologia do Ministério da Agricultura, Alaor Moacyr Dall’Antonia Júnior, afirmou que “catástrofes sempre ocorreram”, e sublinhou os ciclos de ocorrências desses fenômenos. No entanto, apresentou dados que indicam a correlação entre a concentração de gases do efeito estufa e a elevação da temperatura.

Segundo Dall’Antonia, o Brasil precisa conhecer melhor as áreas de risco e reforçar a segurança diante dos desastres. “Ocorre que a população cresceu muito e é agredida por essas manifestações”, disse. Ele ainda assinalou o aumento das demandas crescentes por energia e alimentos, o que tem resultado na busca de alternativas aos combustíveis fósseis.

O especialista espera que o governo se sensibilize para haver maior liberação de recursos para o aumento de produtividade e estímulo de práticas alternativas de agricultura.

Vulnerabilidade do Brasil

Já o coordenador de mudanças climáticas e energia da organização não-governamental WWF Brasil, Carlos Eduardo Rittl, assegurou que a realidade dos eventos extremos confirma os modelos matemáticos sobre a influência do ser humano no clima, e alertou a vulnerabilidade do Brasil neste aspecto.

Segundo Rittl, a geografia agrícola do País corre risco de mudar em função da mudança do clima.

Rittl ressaltou a oportunidade de revisão do Plano Nacional de Mudanças Climáticas, prevista para 2013. Segundo ele, os atuais planos setoriais – Plano de Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia (PPCDAm), Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento e das Queimadas no Cerrado (PPCerrado) e o Plano de Agricultura de Baixa Emissão de Carbono (Plano ABC) – são semelhantes a uma “colcha de retalhos”.

“Não existe uma plena harmonização desses planos. Poderemos olhar dentro de cada um o que é necessário fazer para compará-los, somar seus esforços e identificar lacunas.

O coordenador do Departamento de Clima do Ministério do Meio Ambiente, Adriano Santhiago de Oliveira, lembrou os estudos do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), que apontam, no mínimo, para uma “muito provável” influência do homem sobre o clima, o que agravaria eventos extremos. “Ainda que exista qualquer tipo de incerteza, mesmo que pequena, temos que contar com o princípio da precaução”, afirmou Oliveira.

Oliveira saudou a redução no desmatamento no Brasil, mas disse ser “obrigação histórica” dos países desenvolvidos financiar esse trabalho. Ele se mostrou otimista com o aumento de produtividade na agropecuária. “É possível hoje, em áreas em que se tem uma cabeça de gado por hectare, colocar quatro com investimentos tecnológicos não muito robustos”, afirmou.

COP 18

Na semana passada, o colegiado debateu as políticas do País que serão apresentadas na 18ª Conferência das Partes sobre Mudanças Climáticas (COP 18). Esse evento, promovido pela Organização das Nações Unidas (ONU), acontecerá em Doha, no Catar, de 26 de novembro a 7 de dezembro.

A comissão mista é presidida pelo deputado Márcio Macêdo (PT-SE). A senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM) é a vice-presidente e o senador Sérgio Souza (PMDB-PR), o relator.