O mordomo do Papa ficará preso durante esta quinta-feira em uma cela da Guarda do Vaticano, depois de o promotor ter desistido de apelar da condenação contra Paolo Gabriele, anunciou a Santa Sé, que considera o caso encerrado. Paolo Gabriele foi condenado a 18 meses de prisão no início de outubro pelo tribunal do Vaticano por ter furtado documentos confidenciais do Papa. Em um longo comunicado, o Secretariado de Estado -o “governo” da Santa Sé- considera que a sentença “coloca um ponto final a um caso triste que teve consequências muito dolorosas”.

Considera também que “as diversas conjecturas sobre a existência de um complô e o envolvimento de outras pessoas se revelaram, à luz da sentença, infundadas”. Gabriele elaborou “seu criminoso sem instigação ou incitação de outros, mas a partir de convicções pessoais que de forma alguma são defensáveis”, insiste. O Secretariado de Estado revela também que existe “a possibilidade da concessão de um perdão por parte do Papa”.

“É um ato soberano” do Santo Padre, mas ele “pressupõe de forma razoável um arrependimento pelo e um sincero pedido de perdão ao Sumo Pontífice e a todos aqueles que foram injustamente ofendidos”. Em um breve comunicado distribuído ao mesmo tempo, o porta-voz da Santa Sé, Federico Lombardi, anunciou que Gabriele ficará encarcerado durante o dia. “Pelo fato de apelações não terem sido apresentadas contra a sentença de 6 de outubro contra Paolo Gabriele, esta se torna definitiva”, disse.

“Como consequência disso, por ordem do presidente do tribunal, o promotor de justiça (procurador) ordenou esta manhã a reclusão, em cumprimento da sentença. A ordem deve ser aplicada durante o dia”, indicou o comunicado. Gabriele, empregado mais próximo do Papa, foi preso em maio. Mais de mil documentos –principalmente fotocópias, mas também alguns originais– foram encontrados em sua casa, retirados do gabinete dos secretários do Papa. Alguns, ultra-confidenciais, tinham sido assinados por Bento XVI.

Durante seu julgamento, o acusado, de 46 anos, cidadão e morador do Vaticano, casado e pai de três filhos, declarou que tinha a intenção de “ajudar” o Papa, que, segundo ele, não sabia dos escândalos que ocorriam no pequeno Estado. Esses documentos foram enviados principalmente para o jornalista italiano Gianluigi Nuzzi. Ele foi considerado culpado de “roubo agravado”, crime para o qual o direito do Vaticano não prevê a possibilidade de liberdade condicional. A defesa havia desistido de apelar. Segundo o Secretariado, o julgamento de Gabriele foi marcado pela “transparência, pela equidade, e pelo pleno respeito dos direitos de defesa” e a pena foi “moderada e justa”. Um procedimento de “destituição” contra o condenado, acrescenta o comunicado.