A ministra de Políticas para as Mulheres, Eleonora Menicucci, disse nesta sexta-feira (13) que, apesar de o mercado de trabalho ter se desenvolvido, as desigualdades de gênero continuam.

“Isso não depende só do desenvolvimento, e sim da mentalidade patriarcal que construiu essa desigualdade, que diz que mulher tem mais afinidades e está mais preparada para o trabalho doméstico”, afirmou a ministra.

Ao participar do 2º Encontro das Metalúrgicas do ABC, que discutiu o tema Participação da Mulher na Conquista de Melhores Condições de Trabalho, em São Bernardo do Campo (SP), ela citou pesquisas recentes, segundo as quais as mulheres recebem salários menores que os dos homens, mesmo sejam mais qualificadas e tenham funções iguais às deles.

Para Eleonora Menicucci, trata-se de uma questão cultural, que tem que mudar. Ela informou que existe um programa federal de pró-equidade de gênero e de raça para eliminar qualquer discriminação contra as mulheres no mundo do trabalho e disse que apoia projeto em tramitação no Senado que garante salários iguais para trabalhos iguais.

“É uma perspectiva que vai mostrar um avanço e uma quebra de paradigma na sociedade patriarcal brasileira.” Sobre a autorização para interromper a gestação em caso de fetos anencéfalos, aprovada ontem (12) pelo Supremo Tribunal Federal, a ministra disse que a posição da Secretaria de Políticas para as Mulheres é a do governo: fazer tudo para garantir que a decisão seja cumprida.

“Como isso será implementado é uma atribuição do Ministério da Saúde. Não cabe à minha secretaria dizer como será. Só digo que o Sistema Único de Saúde [SUS] está pronto para receber as mulheres, tanto as que querem antecipar o parto quanto as que querem levar a gravidez até o final.”

Também a diretora de Gestão e da Regulamentação do Trabalho em Saúde do Ministério da Saúde, Denise Motta, considera a situação da saúde da mulher ainda muito difícil, porque os impactos das condições de trabalho no corpo da mulher são bastante fortes, abalando-a tanto fisicamente quanto psicologicamente.

Segundo Denise, se se levar em consideração que a mulher enfrenta dupla e até tripla jornada de trabalho, uma lesão por esforço repetitivo a impede de exercer tanto seu trabalho quanto as atividades domésticas e o cuidado com os filhos. “E essa, infelizmente, ainda é uma função exercida majoritariamente pela mulher.”

Para mudar tal realidade, Denise ressalta que a mulher precisa participar mais da organização dos locais de trabalho e dos grupos de prevenção de acidentes, para que as demandas sejam incorporadas pelos sindicatos.

 “Assim, o sindicato pode elaborar um plano de ação fortalecendo a luta, interferindo nas políticas públicas de saúde, e negociar melhor condições de trabalho.” Para Denise, as condições de trabalho ainda são desfavoráveis para a mulher porque a cultura que vem das relações sociais de gênero também entra no mundo do trabalho.

 “Aquela visão de que as mulheres têm mais habilidade visual e manual, destreza e delicadeza as coloca em funções do setor eletroeletrônico, em montadoras, mas não em cargos de direção e em outros mais altos”, disse.