Menina sequestrada há 8 anos é encontrada em Dourados

O juiz substituto da Vara da Infância e Juventude de Dourados, Eduardo Machado Rocha. entregou ontem à embaixada Argentina, uma menina de 10 anos que foi sequestrada pelo pai naquele país. A criança foi tirada dos braços da mãe em 2004 e viveu até o início do ano passado em cárcere privado com o pai, […]

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O juiz substituto da Vara da Infância e Juventude de Dourados, Eduardo Machado Rocha. entregou ontem à embaixada Argentina, uma menina de 10 anos que foi sequestrada pelo pai naquele país. A criança foi tirada dos braços da mãe em 2004 e viveu até o início do ano passado em cárcere privado com o pai, num bairro de Dourados. Ele é procurado pela polícia Argentina acusado de sequestro.

A história da menina começa a ser revelada quando no ano passado um vizinho denunciou ao Conselho Tutelar de Dourados que o pai mantinha uma criança em cárcere privado. O pai foi chamado à Delegacia da Mulher para esclarecer o caso. Desde então, a Vara da Infância não sabe o paradeiro do homem, que estaria foragido. Uma equipe do Conselho Tutelar esteve na casa e constatou o cárcere privado. A menina, na época com 9 anos, vivia num quarto isolada do resto do mundo. Tinha contato apenas com a televisão e o pai. Nem tampouco frequentava escola.

A criança foi levada para o Lar Ebenezer onde permaneceu até ontem. De acordo com a coordenadora da entidade, Cleire Santana, assim que a menina chegou, em março do ano passado, fez um desenho sobre onde morava no Paraguai. “Em seguida fomos para lá. Encontramos a família do pai da menina. Eles disseram que não a conheciam, talvez por medo. Diante disto, acreditamos que pai e filha passaram por várias cidades e países até chegar no Brasil. Creio que a cada suspeita de que podia ser descoberto pelo sequestro ele fugia com a menina”, destaca.

Cleire conta que, como num filme, a história da criança foi se desvendando. Segundo a coordenadora, a garota de 10 anos foi ilegalmente registrada no Brasil, após o registro original na Argentina, mas não possuia nenhum documento quando chegou ao Lar. Eles estariam com o pai, que está foragido. “Por não ter a certidão, não pôde passar o Natal com uma família do Projeto Padrinho, como todas as demais crianças. Por esta razão ela foi para a minha casa. O que me chamou muito a atenção foi quando perguntei a ela o que gostaria de ganhar de presente no Natal.

Ela respondeu que desejava conhecer a mãe. Eu disse que Noel morava pertinho do papai do céu e que era só ela pedir e ter fé. Uma semana depois fomos à igreja, no Jardim Água Boa, ela foi em público pedir a Deus que encontrasse sua mãe. Na mesma semana, como num passe de mágica, recebemos a ligação da mãe da menina, desesperada a procura dela”, conta.

Segundo Cleire, a mãe, que procurava a filha há anos também entrou em contato com a Delegacia da Mulher de Dourados, que buscou a direção do Lar. “Logo em seguida já estávamos em contato com o consulado da Argentina e com a embaixada daquele país. O juiz da Infância, Zaloar Murat Martins pediu o exame de DNA. O material da mãe foi coletado na Argentina e trazido para o Brasil, via embaixada. Em 15 dias foi comprovada a maternidade”, disse, observando que o registro brasileiro já foi cancelado e que a partir daquele momento ela já estava sob responsabilidade da embaixada.

A embaixadora da república Argentina, Maria Seane de Chiodi, diz que a criança passa a ter a sua disposição todo o atendimento necessário para voltar a viver com a mãe, como psicólogos, assistentes sociais e intérprete. Segundo ela, casos como estes na Argentina são comuns. Atualmente passam de 600, sob investigação.

O juiz Eduardo Machado Rocha ressaltou a importância da denúncia. “Foi através da percepção de um vizinho e da boa atuação do Conselho Tutelar que a história da menina começou a se revelar”, destacou. A mãe dela é boliviana e o pai é natural do Paraguai. Ambos tiveram a filha na Argentina, onde a mulher reside até hoje à espera da filha. O reencontro, após 8 anos, está previsto para esta sexta-feira (4).

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