Lenda vê MMA à frente e diz: “o boxe precisa voltar a ser o que era”
Um dos únicos boxeadores da história a conquistar cinturões em cinco categorias diferentes da modalidade, Sugar Ray Leonard, 55, parece compreender bem o motivo para a atual baixa do esporte, cada vez mais ofuscado pelo MMA. Entretanto, assim como seus pares, ele aparentemente não gosta muito de lidar com ela. “O boxe precisa voltar a […]
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Um dos únicos boxeadores da história a conquistar cinturões em cinco categorias diferentes da modalidade, Sugar Ray Leonard, 55, parece compreender bem o motivo para a atual baixa do esporte, cada vez mais ofuscado pelo MMA. Entretanto, assim como seus pares, ele aparentemente não gosta muito de lidar com ela. “O boxe precisa voltar a ser o que era antes”, exclama em tom de lamento em entrevista exclusiva ao Terra. “Hoje em dia, não é mais tão empolgante. Pelo menos não como na década de 1970, ou mesmo na minha época, nos anos 1980 e 1990. Não existem mais tantos campeões e astros como antigamente”.
Ainda assim, apesar de nutrir um desejo sincero em ver o esporte que o consagrou de volta ao topo, Leonard parece conformado com o fato de que talvez isso não seja mais possível – pelo menos não enquanto modalidade hegemônica de combate -, afinal há um grande abismo separando as duas modalidades. Por exemplo: se no ringue o atleta tem a oportunidade de esfriar uma luta em meio a seus longos 12 rounds, a dinâmica do octógono, com três ou cinco tempos de 5 minutos, praticamente inviabiliza essa possibilidade, até pela delimitação de seu espaço e pela grande variedade de técnicas de seus lutadores.
“Para mim, o MMA é um esporte incrível, um tipo de entretenimento moderno que tem agradado muito as pessoas”, elogia o ex-boxeador, confesso espectador da modalidade comandada por Dana White. “Na primeira vez que assisti, achei violento demais, mas modificações foram feitas e o esporte acabou se tornando um dos mais importantes do mundo. Não à toa: os espectadores de hoje fazem parte de uma geração totalmente nova, sedenta por ação, por lutas empolgantes. E, infelizmente, o boxe já não tem mais tanto disso”.
Mesmo com os pontos negativos e com cada vez mais especialistas cravando a perde de espaço gradual do boxe para o MMA, Sugar Ray não vê motivos para acreditar que sua grande paixão chegue ao ponto de deixar de existir como esporte de elite. “O que tem acontecido nos últimos anos é uma verdadeira competição entre as duas modalidades e, atualmente, o MMA está claramente vencendo. Mas tudo isso não passa de negócio, de investimento no foco certo, e acredito sinceramente que ambas podem coexistir”.
Livro aberto
Leonard voltou a chamar a atenção para sua carreira no ano passado, quando, em junho, lançou sua autobiografia, batizada de The Big Fight: My Life in and, out of the Ring, com enorme repercussão tanto dentro quanto fora do universo esportivo. Se o envolvimento com álcool e drogas já era de conhecimento público antes disso, o livro acabou chocando ao revelar em detalhes que, quando jovem, o ex-atleta foi abusado sexualmente por um treinador da seleção olímpica dos EUA, assunto omitido por ele durante toda a vida.
“Inicialmente, eu não tinha nenhuma intenção de abordar esse fato”, diz sem demonstrar arrependimentos pela revelação. “Mas foram mais de dois anos para escrever o livro e, com o tempo, percebi que quanto mais eu falava sobre isso, melhor me sentia. Isso ocorre com qualquer coisa que se faça repetidas vezes. No esporte, por exemplo, dar o primeiro passo é desconfortável, exaustivo, tudo fica dolorido. Mas se você trabalha, trabalha, trabalha o tempo todo, acaba encontrando uma maneira de tornar a prática mais fácil”.
O lendário boxeador parece também ter sentido certa urgência em abordar o tema, pois, segundo ele, sua ocorrência seria bem mais recorrente no esporte do que a maioria das pessoas pensa. “É importante para as crianças, para os jovens, então passei a discursar com muita naturalidade a respeito. Não que minha pretensão fosse me tornar o porta-voz do problema, mas, sabe, se for para ajudar a evitar que crianças passem por algo tão terrível em suas vidas, faço isso com prazer”.
A repercussão da biografia foi tão grande que Leonard já começa a ampliar o projeto. De acordo com ele, discussões preliminares com produtores para levá-la às telonas estão iniciadas, tornando bastante provável a inserção do ex-atleta no hall dos boxeadores que viraram personagens no cinema – fato ocorrido com lendas como Muhammad Ali, Mike Tyson e Rubin “Hurricane” Carter. “Todas as revelações que expus, tanto os bons quanto os maus momentos, eu gostaria de ver retratadas nas telas”, garante.
Hollywood
Mas o envolvimento de Leonard com o entretenimento nem de longe se limita às negociações para levar sua vida ao cinema. Antes mesmo de encerrar por definitivo a carreira nos ringues, o ex-atleta já se inseria nesse universo exibindo seus dotes dramáticos com participações em séries e filmes. Mas foi só depois de anos envolvido em trabalhos no meio – incluindo até um como produtor do reality show The Contender, ao lado de Sylvester Stallone – que o ex-atleta parece ter encontrado seu ideal de profissão em Hollywood: ensinar a atores e diretores técnicas de boxe.
A descoberta veio no ano passado, quando foi convidado por um amigo da produtora Dreamworks para ajudar a coreografar Hugh Jackman para o longa Guerreiros de Aço, no qual o protagonista é um boxeador aposentado que ensina a luta a robôs. “Foi mais uma oportunidade que caiu no meu colo, como todas as outras”, explica. “Eu amo esse universo de entretenimento e, mais do que isso, amo o boxe. Então mal posso esperar para fazer outra consultoria do tipo, envolvendo as duas paixões”.
Mas, voltando à cinebiografia, quem, afinal, poderia interpretar Leonard nas telas? Will Smith? Jamie Foxx? “Acho que Brad Pitt seria uma boa opção”, responde às gargalhadas. “Ainda não chegamos a esse ponto do projeto, mas ele é um cara bonitão e o que nos difere é apenas o meu bronzeado um pouco mais ressaltado, não acha?”.
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