A hospitalização do presidente iraquiano, Jalal Talabani, na Alemanha priva o país de um mediador-chave quando parece se reativar o conflito entre o primeiro-ministro xiita, Nuri al Maliki, e sunitas do bloco laico Iraqiya.

Primeiro curdo a chegar à chefia de Estado, Talabani construiu uma sólida reputação de homem de paz por ter tentado mitigar a profunda divisão que persiste entre as comunidades sunita, xiita, árabe e curda no país.

“Embora em teoria o papel de (Talabani) seja (…) limitado, sua influência e suas competências de mediador permitiram atenuar a revolta na cena política do país”, avalia John Drake, especialista do grupo AKE.

“Alguns podem considerar seu cargo protocolar, mas o tornou mais ativo, graças ao diálogo e à negociação, que desempenham um papel importante na vida política iraquiana”, explica.

Hospitalizado de emergência em Bagdá após um ataque cerebral, segundo a TV oficial, Talabani foi transferido na quinta-feira para um hospital de Berlim para receber cuidados médicos.

Sua ausência chega em um mau momento, com uma crise política no horizonte depois que, na quinta-feira, foram detidos pelo menos nove guardas do ministro das Finanças, Rifaa al Isawi, membro do Iraqiya.

O porta-voz do Conselho Superior de Justiça, Abdelsattar Bayraqdar, disse à AFP que os nove agentes tinham sido detidos em virtude da lei antiterrorista e que o chefe dos guardas confessou ter praticado “atos terroristas”.

“Conflito religioso” Após ter informado sobre uma “incursão” à sua residência e no ministério, assim como a detenção de 150 guardas, Isawi pediu na noite desta quinta-feira a demissão do primeiro-ministro “porque não se comportou como um homem de Estado”.

Na sexta-feira, Nuri al Maliki replicou dizendo que o “surpreendia” o vínculo estabelecido entre “o caso dos detidos” e as “disputas políticas” e o qualificou de tentativa de “arrastar todo o país para um conflito religioso”.

Ele reconheceu, no entanto, que alguns membros das forças de segurança “não tinham agido profissionalmente” durante as detenções.

Tudo isso poderia reavivar o conflito entre o primeiro-ministro xiita, acusado de “monopolizar o poder”, e o bloco Iraqiya, apoiado por sunitas.

Em virtude da Constituição iraquiana, “o vice-presidente da República substitui o presidente se o cargo ficar vago pelo motivo que for”.