Instituto envolvido em escândalos registra pesquisas eleitorais iguais em Campo Grande

Pesquisas idênticas foram registradas no TRE-MS em nome de empresa de Presidente Prudente que já foi acusada de fraude em pesquisas eleitorais em diversos municípios de São Paulo.

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Pesquisas idênticas foram registradas no TRE-MS em nome de empresa de Presidente Prudente que já foi acusada de fraude em pesquisas eleitorais em diversos municípios de São Paulo.

Seis pesquisas foram registradas no mesmo dia junto ao TRE-MS (Tribunal Regional Eleitoral de Mato Grosso do Sul) por empresas de um grupo envolvido em escândalos eleitorais e suspeitas de fraudes em diversos municípios do interior de São Paulo.

Todas apontam como contratante, ou seja, quem está bancando, o próprio responsável pelo registro. A Full Marketing e Pesquisas S/S Ltda registrou dois levantamentos, com valor de R$ 30 mil cada uma, enquanto a mulher que se apresenta como dona da empresa, Rose Mary Moreno de Araujo, registrou mais duas, com valor de R$ 28 mil cada.

O Instituto Realidade também registrou duas com valor de R$ 35 mil cada uma. Diferenças discretas na descrição da metodologia não conseguem ocultar que se trata do mesmo conteúdo na maior parte dos dados informados à Justiça Eleitoral.

Em todas, Julianne Mitie Matsuoka aparece como estatística responsável. A profissional não foi encontrada para falar sobre os registros nem na sede da empresa, que fica em Presidente Prudente, no interior de São Paulo.

No telefone da Full Marketing, a secretária atende anunciando a empresa como “Instituto Realidade”, que também faz parte do grupo e coleciona mais questionamentos judiciais.

Ainda nas eleições deste ano, a Justiça Eleitoral de São Paulo proibiu o ‘Realidade’ de divulgar a conclusão de pesquisas genéricas que tinha realizado na cidade de São Paulo.

Segundo o juiz da 1º zona eleitoral de São Paulo, Henrique Harris Júnior, o formulário da pesquisa causou estranheza porque tinha apenas uma pergunta: “Se a eleição para prefeito fosse hoje e esses os candidatos, em qual o Sr.(a) votaria?”.

Na sede das empresas, a secretária apontou Otílio Claudino de Araújo Júnior como diretor, junto com a esposa dele, Rose Mary Moreno de Araújo, e tentou explicar que são todas marcas do mesmo grupo. “Sou nova aqui. Tenho apenas três dias e não tenho mais informações”, desconversou.

Escândalos

Otílio também tem o nome envolvido em diversos escândalos ligados a supostas fraudes em pesquisas eleitorais. Em 1998, ele chegou a ter a prisão decretada em um dos processos. Em 2006, foi condenado pela divulgação de pesquisa fraudulenta.

Em ação ajuizada em maio de 2012, Claudino, a esposa dele, Rose Mary, e a empresa Full Marketing, são réus em uma ação por improbidade administrativa na Vara da Fazenda Pública de Presidente Prudente.

A reportagem tentou falar com Otílio. Por telefone, em ligação gravada na manhã desta quinta-feira (18), a secretária da sede onde funcionam todas as empresas, disse que não possuía nenhuma forma de contato com Araújo, mas repassou o celular de Rose.

‘Pode nos procurar’

Ainda pelo telefone, a empresária confirmou que registrou todas as pesquisas em Campo Grande no próprio nome e em nome da Full Marketing. Sobre o fato de se apontar como a própria contratante, Rose diz que é uma ‘estratégia promocional’.

“Nosso interesse é mostrar nosso trabalho, para sermos conhecidos em outro lugar. Se alguém tiver interesse, pode nos procurar”, afirma.

Questionada sobre a possibilidade de haver interesse partidário nas pesquisas idênticas registradas em duplicata, a empresária foi enfática: “Não tem grupo político nenhum pagando. Quem banca é o próprio instituto”.

Coincidências

Além dos dois registros em nome da própria empresária, que simplesmente são réplicas da mesma pesquisa, com período de realização idêntico, de 18 a 20 de outubro, e 2000 entrevistados, os da Full Marketing apontam períodos de realização muito próximos. A primeira, de 18 a 20 de setembro, e outra, com todo o restante da metodologia idêntico, de 23 a 25 de setembro.

Entre os profissionais que lidam com pesquisas de opinião, o fato de haver quatro pesquisas registradas com intervalo de tempo tão pequeno entre uma e outra, levanta questionamentos técnicos.

“Dois levantamentos com duas mil entrevistas, num intervalo tão pequeno de tempo, é como rasgar dinheiro. As mudanças seriam ínfimas, a não ser que um fato extraordinário, como uma revelação bombástica, ocorresse. Então, é pertinente perguntar qual o interesse disso”, pondera um estatístico.

Manobra

Além disso, a prática é apontada como uma manobra para permitir que os resultados das pesquisas sejam divulgados mesmo enquanto os levantamentos da segunda estejam na fase de coleta a campo.

“Se todas foram registradas no mesmo dia, quando houver a liberação do prazo para divulgar a primeira, o autor pode divulgar já nesta data inclusive pesquisas que ainda estão na fase de campo. É como se, na prática, antes mesmo de realizar a pesquisa, ele já tenha autorização para veiculação”, analisa.

No momento em que foi questionada pela reportagem sobre a possibilidade de que as pesquisas registradas facilitem essa prática, a ligação telefônica com Rose Mary, que disse estar no trânsito, foi cortada. Novos telefonemas não foram mais completados.

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