A competitividade da indústria automobilística no Brasil depende de cortes de salários e de benefícios dos trabalhadores? A questão dominou o debate sobre as recentes demissões nas montadoras de veículos, ontem, na Comissão de Direitos Humanos (CDH).

Representantes das montadoras e dos sindicatos confrontaram diferentes visões sobre as saídas para os problemas do setor. Representante do Ministério do Trabalho e fez ponderações sobre os argumentos dos dois grupos. O presidente da CDH, Paulo Paim (PT-RS), destacou a importância do diálogo para promover a competitividade sem comprometer os direitos dos trabalhadores.

Para José Maria de Almeida, da central sindical Conlutas, tem havido leilão dos direitos dos trabalhadores quando uma montadora se transfere de região. Para ele, o governo deve suspender quando não se cumprirem compromissos sociais.

João Alceu da Cunha, diretor da Renault do Brasil, e Carlos Ogliari, dirigente da Volvo, mostraram-se confiantes na capacidade de superar a crise.

5% do nacional

Para o presidente da Comissão de Relações de Produção da Anfavea, Adauto Duarte, incentivos se justificam porque o setor é responsável por 22% do PIB industrial e 5% do PIB do país. Mas alertou para riscos.

— Se um carro fabricado lá fora chega mais barato aqui, o consumidor vai preferir esse carro e, com isso, o Brasil perde competitividade — disse.

Marcos Souza, diretor da Mercedes-Benz do Brasil, disse que a gestão da crise na economia tem sido possível devido à maturidade das relações entre as unidades industriais e os sindicatos.

Apesar de também apontar o diálogo como solução, Luiz Moan, da General Motors (GM) do Brasil, citou dificuldades, como excedente de pessoal, e disse que a empresa busca remodelar a planta industrial.

Representando o Ministério do Trabalho, Mauro Souza lembrou que o governo oferece incentivos e conta com manutenção de empregos e investimentos. Ele ressaltou que a competitividade não pode ser obtida com prejuízos dos trabalhadores. Sobre a diferença de salários nas mesmas empresas, disse não ter certeza de que a solução seja um contrato coletivo nacional.