O governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), disse, nesta terça-feira, que espera “discernimento” do Poder Judiciário no julgamento dos réus do mensalão, que começa quinta-feira no Supremo Tribunal Federal (STF). Em 2005, logo após o surgimento das primeiras denúncias sobre o caso, Perillo disse publicamente que teria alertado o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre a existência do esquema de propina a parlamentares no governo do petista desde 2004.

A declaração teria rendido ao tucano a antipatia política de Lula. Em junho, durante depoimento na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) mista do Cachoeira, o governador se queixou da repercussão política que seu aviso ao ex-presidente gerou. “Eu nunca imaginava que um aviso pudesse trazer tantos problemas para mim, tanta perseguição”, disse. Segundo declarações recentes do tucano e de seus aliados, o PT, em especial através do relator da Comissão, deputado federal Odair Cunha (PT-MG), quer atingi-lo politicamente na CPI para tentar encobrir a repercussão do julgamento do mensalão.

Nesta segunda-feira, porém, Perillo usou um tom conciliador e procurou mostrar sua faceta republicana. “Nós vivemos em um País onde a repartição de Poderes, que foi concebida por Montesquieu (Charles de Montesquieu, filósofo francês autor da Teoria da Separação dos Poderes adotada por muitas Constituições, inclusive a do Brasil), é muito evidente: cabe ao Legislativo cumprir o seu papel, ao Executivo também e ao Judiciário tomar decisões em horas cruciais para a República, para a democracia, quanto agora”, disse. “Todos nós, brasileiros, confiamos no discernimento do Poder Judiciário”, completou.

As declarações foram dadas na Academia de Polícia Militar, durante solenidade de comemoração dos 87 anos de criação do Gabinete Militar da Governadoria.

Questionado se o ex-presidente Lula também deveria responder judicialmente pelo mensalão, Perillo tentou contemporizar. “Não gosto de pré-julgar ninguém. Eu não sou promotor de Justiça, eu não sou juiz. Não guardo mágoa de ninguém. Quem tem que falar disso é o Judiciário”, disse. Porém, logo em seguida o tucano foi mais irônico. “Se eu já fui, de alguma maneira, perseguido porque dei opiniões ao longo da minha vida pública, aceito isso com respeito, democraticamente. Agora, se fazem contra mim, não vou fazer contra as outras pessoas. Não é do meu feitio este tipo de comportamento”, assegurou.