Golpe eleitoral contra o deputado Semy Ferraz completa seis anos
Ministra do STF, Cármen Lúcia, prometeu ao advogado do ex-deputado que julgará o caso em breve
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Ministra do STF, Cármen Lúcia, prometeu ao advogado do ex-deputado que julgará o caso em breve
A Operação Vintém completou seis anos neste sábado (29). A armação contra o então deputado estadual em 2006 pelo PT, Semy Ferraz, aguarda julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF) em Brasília, depois do processo ser concluído pela ministra Cármen Lúcia, e pelo ministro revisor Dias Tofolli.
A ministra, tida como dura (acaba de votas pela condenação condenar todos os réus do mensalão que até aqui passaram pelo plenário do STF), afirmou ao advogado de Semy, Flavio D’Urso, que vai julgar o caso antes do término das eleições.
Nesse momento, como é de praxe, a Procuradoria Geral da República, que fez a acusação e pediu a condenação dos réus Edson Giroto, André Puccineli Junior, Mirched Farah Junior e Edmilson Rosa, faz a sua própria revisão antes que o processo de “Denunciação Caluniosa”, denominado Ação Penal 605, seja colocado em pauta de votação.
De 2006 para cá, o caso que teve andamento conturbado, com sumiço de provas denunciado pela revista IStoÉ. Mesmo assim, pode alterar o quadro eleitoral de Campo Grande em duas situações: se for votado antes das eleições e Giroto for condenado. É esperar para ver o resultado final.
Operação Vintém foi obra do destino
Casualmente, a Polícia Federal deu um flagrante que se consolidou na Operação Vintém. Veja como foi:
No dia 29 de setembro de 2006, Edmilson Rosa, conhecido como ‘Rosinha’, um assistente não concursado de Edson Giroto na Secretaria Municipal de Serviço e Obras de Campo Grande, que o candidato a prefeito pelo PMDB comandou por 10 anos, colocou no carro de Benoal Soares, coordenador de campanha do então deputado estadual Semy Ferraz (PT), notas de R$ 20,00 grampeadas em “santinhos de propaganda”, ao todo R$ 740,00. Junto a uma lista com os nomes de 37 falsos beneficiados.
No momento seguinte, quando deixava o escritório político de Semy, Benoal foi preso por agentes da Polícia Federal, avisados ‘anonimamente’ da compra de votos ‘plantada’.
Como agora, em 2006 a armação próxima das eleições foi amplamente noticiada e roubou de Semy o segundo mandato de deputado estadual. O ex-parlamentar se pautava por denunciar e processar o prefeito da época, André Puccinelli, por suposta corrupção, como no caso da doação da área do Papa e da privatização da Águas de Campo Grande, hoje Guariroba, que aguardam julgamento no Superior Tribunal Federal.
Os dois processos resultaram em longa investigação do Ministério Público Estadual, e mais outra Ação Penal, a 573, de ocultação de bens e lavagem de dinheiro.
Sobre o episódio, em artigo publicado no Midiamax, Semy declarou: “Contra o então prefeito de Campo Grande, senhor André Puccinelli, entrei com várias ações populares. O prefeito praticava vários atos que caracterizavam improbidades administrativas e, principalmente, ele era acusado de enriquecimento ilícito. Era meu dever e minha obrigação, como deputado estadual, denunciá-lo por isso. Foi o que eu, por mais de uma oportunidade, fiz”.
Reviravolta inesperada no golpe
A armação contra o ex-deputado teve uma reviravolta inesperada e se transformou na Operação Vintém, por acaso. Um dos participantes da trama, e amigo de ‘Rosinha’, Mirched Jafar Junior, dono da gráfica Alvorada, sempre falava ao telefone com o então candidato a deputado Márcio Fernandes, que estava grampeado pela PF com autorização da 53ª Zona Eleitoral porque era investigado por suspeita de corrupção eleitoral, não comprovada posteriormente.
Do telefone grampeado de Mirched, a PF ouviu conversas envolvendo o ‘Rosinha”, André Puccinelli Junior e Giroto. Falavam abertamente do plano de incriminar Semy e até comemoraram o feito – a prisão de Benoal. Nessa ocasião é que Giroto pronunciou a frase “A vingança será malígna”.
Esse diálogo é descrito na APn 605 dessa maneira:
“No dia seguinte à abordagem de Benoal, Edson Giroto e Mirched Jafar comemoraram o feito:
Júnior: ‘ O que aconteceu ontem? deu certo?’
Giroto: ‘Ahhh! Diz que caiu tudo’
Júnior: ‘É certeza isso?’
Giroto: ‘Ué! Lavaram! Prendeu! O ca…o cara lá meu falou!’
Júnior: ‘humm…Então foi jubiloso o negócio lá1?’
Giroto: ‘Nossa vingança será malígna!’
(Veja integra ao final)
Em janeiro de 2007, Vintém se consolida
Munida de autorização judicial, a PF ocupou o gabinete de Giroto na secretaria de Obras de Campo Grande, e aprendeu computador e objetos encontrados num cofre dentro de seu banheiro privativo. Nesse gabinete é que ‘Rosinha’, mesmo sem ser contratado da prefeitura, dava seu expediente.
Entre os documentos aprendidos pela PF estavam cópia de reportagem sobre a prisão de Benoal, gravações de pronunciamentos de Semy, contratos com empreiteiras, lista de váreias funcionários da Agesul com lotes do Residencial Dahma, muitos recibos de pagamento de quantias moderadas para pessoas físicas, mas não assinados por Giroto, informações sobre o senador Delcidio Amaral, o rival político pelo PT, cartuchos de munição e outros.
Rosinha confessa crime ‘solitário’
“Rosinha” foi preso depois de sua golpe e, mais tarde, confessou que agira por conta própria. Giroto e André Jr reforçaram, em seus depoimentos, que a tramóia foi obra isolada do assistente de Giroto. Em depoimento à Justiça Federal, André Jr chegou a reforçar que desconhecia tudo, e que ‘Rosinha’ era homem da relação pessoal de Giroto.
Não colou para o Ministério Público Federal porque as degravações oficiais da PF, que constam na APN 605, descrevem em detalhes os diálogos incriminadores, segundo o Procurador Geral da República, Roberto Gurgel, que aporveitou para afirmarque o governador Puccinelli sabia de tudo.
O caso foi parar no Supremo Tribunal Federal porque Giroto, acusado de ser o ‘mentor’ do crime de ‘Denunciação Caluniosa’ pelo MPF, foi eleito deputado federal.
Em 2011, o caso foi denunciado pelos deputados federais Vander Loubet (PT) e Dagoberto Nogueira( ex-deputado do PDT e vice de Giroto) no congresso Nacional. As palavras de Dagoberto foram especialmente duras contra o governador André Puccinelli, a quem o ex-parlamentar atribuiu a condição de ‘mentor’.
Dagoberto chegou a dizer que Puccinelli estava sendo processado por “desvio de dinheiro público, remessa de dinheiro para o exterior, licitação fraudulenta (na APn 573) várias denúncias de corrupção” entre outros termos pesados, afirmando que os processos não andam porque o governador corrompe as instituições, como a Assembleia e o Judiciário do MS. Veja em: http://www.youtube.com/watch?v=3ohKGkFg_aI
Veja o teor das gravações da Operação Vintém, de acordo com a PF
“29:09 – 18-16 – Nesta ligação, André Puccinelli Junior está em um apartamento, junto com outras pessoas que demonstram muita ansiedade, inclusive André Puccinelli (…) e pede para Junior ir até lá, para resolverem algo sobre a lista do Giroto:
André Jr: Pois é. O …Giroto…o Giroto tinha uma lista que passou pra ele, que tinha que chegar ao seu conhecimento”.
Mais tarde:
“29/09 – 18:40 – Junior liga para Rosinha e pergunta sobre a lista que Giroto teria passado. Rosinha informa que está fazendo o “serviço”, mas tem uma cópia na Secretaria.
Rosinha – “Fala Mirched!”
Junior: O Giroto te passou uma lista? Tá com você uma lista do Semy?”
Rosinha: “Tá”.
Junior: E por que você não passou pra mim ainda?”
Rosinha: Porque não era para passar p’rocê! Eu tô fazendo um serviço com ela!
Mais tarde, quando Rosinha avisa Mirched que colocou a lista no carro de Benoal, diz a PF:
“Nessa mesma ligação, Edmilson Rosa confirmou que arrombou o carro de Benoal e inseriu as provas forjadas no veículo:
Rosinha: “Só que a lista que ele me deu eu pus dentro do caro do cara. Junto com o dinheiro e os santinhos grampeados! Cabamo de por. Ele tá dentro, na frente do jornal! Entendeu como?”
Ciente da ação de Edmilson, Miched Jafar Junior informou que o fragrante da ação policial iria acontecer dentro de pouco tempo:
Junior: “Bom, cê …se isso vai acontecer, tem que acontecer em…em…meia hora!”
Rosinha “Não! Já tá lá dentro. Cê pode mandar buscar! É isso que eu tô explicando!”, descreve a PF.
Diz a PF:
“ Após a inserção clandestina da lista e dos “santinhos” grampeados com dinheiro, Edson Giroto acionou a Policia Federal ocultando a sua identidade, para que Benoal fosse interceptado em seu veículo:
29/09 – 18:55 – Junior informa, de maneira clara, que foi Giroto quem acionou a Policia Federal:
André Jr: Alô!
Junior: Liga pro Giroto, manda ele parar a PF, que ele mandou a PF atrás do cara.”
E segue a PF:
“No dia seguinte à abordagem de Benoal Prado, Edson Giroto e Mirched Jafar comemoram o feito:
Junior: “O que aconteceu ontem? Deu certo?”
Giroto: “Ahhh! Diz que caiu tudo!”
Junior: “é certeza isso!?”
Giroto: “Ué! Levaram! Prendeu! O ca..o cara lá me falou”
Junior: “humm. Então tá! Foi jubiloso o negócio lá!?
Giroto: “Nossa vin…vingança será malígna.”
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