O governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), protocolou na sexta-feira pedido para que o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, instaure investigação para apurar vazamento para a imprensa de relatório sigiloso da Operação Monte Carlo. O conteúdo do relatório foi divulgado pela revista Época de 13 de julho, e supostamente ligaria o governandor aos negócios do bicheiro Carlinhos Cachoeira.

Segundo a representação, a matéria, intitulada “Como a Delta pagou Perillo”, é resultado de uma estratégia de divulgação seletiva de conversas, em que “o jornalista recebe apenas um trecho de um diálogo específico e não conhece o contexto”. Para a defesa do governador, “o contexto é fornecido pelo vazador, cuja intenção é, necessariamente, maldosa e, quase sempre, política”.

A defesa de Perillo ainda alega que, até o momento, não conseguiu ter acesso ao documento, que não constaria encartado no inquérito que invetiga o governador. O relatório, segundo a revista, estaria sob os cuidados da subprocuradora-geral Lindora de Araújo. Mas, conforme a representação apresentada por Perillo, procurada para esclarecer o assunto, a subprocuradora afirmou não ter recebido o relatório sigiloso da PF, conforme citado na reportagem da Época.

Os advogados citam como base jurídica os artigos 153 e 154 do Código Penal, que punem tanto a divulgação quanto quem revela conteúdo de documento particular que possa produzir dano. A defesa cita também a lei que regula as interceptações telefônicas. “A depender do conteúdo do referido relatório, os responsáveis por seu vazamento praticaram um ou mais dos crimes acima referidos, o que impõe uma pronta e enérgica atuação dessa Procuradoria-Geral da República”, afirma o pedido dos advogados.

A representação lembra, ainda, que o próprio governador requereu ao procurador-geral a instauração de investigação sobre ele e que já foi instaurado inquérito policial no Superior Tribunal de Justiça. Os advogados afirma também que o governador já prestou Congresso depoimento de mais de 8 horas na CPI do Cachoeira no Congresso Nacional e que a “oitiva foi de tal modo esclarecedora que até parlamentares governistas reconheceram que a questão da venda da casa do requerente havia sido devidamente esclarecida”.

Os advogados do tucano dizem ainda que o governador “tem sido diuturnamente alvo de matérias jornalísticas que buscam difundir rumores acerca do envolvimento do Governo do Estado de Goiás com o grupo de Carlos Augusto Almeida Ramos”.

Carlinhos Cachoeira

Acusado de comandar a exploração do jogo ilegal em Goiás, Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, foi preso na Operação Monte Carlo, da Polícia Federal, em 29 de fevereiro de 2012, oito anos após a divulgação de um vídeo em que Waldomiro Diniz, assessor do então ministro da Casa Civil, , lhe pedia propina. O escândalo culminou na Comissão

Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Bingos e na revelação do suposto esquema de pagamento de parlamentares que ficou conhecido como mensalão.

Escutas telefônicas realizadas durante a investigação da PF apontaram diversos contatos entre Cachoeira e o senador Demóstenes Torres (GO), então líder do DEM no Senado. Ele reagiu dizendo que a violação do seu sigilo telefônico não havia obedecido a critérios legais, confirmou amizade com o bicheiro, mas negou conhecimento e envolvimento nos negócios ilegais de Cachoeira. As denúncias levaram o Psol a representar contra Demóstenes no Conselho de Ética e o DEM a abrir processo para expulsar o senador. O goiano se antecipou e pediu desfiliação da legenda.

Com o vazamento de informações do inquérito, as denúncias começaram a atingir outros políticos, agentes públicos e empresas, o que culminou na abertura da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) mista do Cachoeira. O colegiado ouviu os governadores Agnelo Queiroz (PT), do , e Marconi Perillo (PSDB), de Goiás, que negaram envolvimento com o grupo do bicheiro. O governador Sérgio Cabral (PMDB), do Rio de Janeiro, escapou de ser convocado. Ele é amigo do empreiteiro Fernando Cavendish, dono da Delta, apontada como parte do esquema de Cachoeira e maior recebedora de recursos do governo federal nos últimos três anos.

Demóstenes passou por processo de cassação por quebra de decoro parlamentar no Conselho de Ética da Casa. Em 11 de julho, o plenário do Senado aprovou, por 56 votos a favor, 19 contra e cinco abstenções, a perda de mandato do goiano. Ele foi o segundo senador cassado pelo voto dos colegas na história do Senado.