“Função da literatura é encantar crianças e contar histórias”, diz Miguel de Sousa Tavares
“A função primeira da literatura é encantar crianças e contar histórias”. Foi desta forma que o escritor e jornalista português Miguel Sousa Tavares definiu hoje (20), na 1ª Bienal Brasil do Livro e da Leitura, que acontece em Brasilía (DF), sua visão pessoal sobre a finalidade da literatura. Para o autor de Rio da Flores, […]
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“A função primeira da literatura é encantar crianças e contar histórias”. Foi desta forma que o escritor e jornalista português Miguel Sousa Tavares definiu hoje (20), na 1ª Bienal Brasil do Livro e da Leitura, que acontece em Brasilía (DF), sua visão pessoal sobre a finalidade da literatura.
Para o autor de Rio da Flores, No Teu Deserto e Equador (romance adaptado para a tv e exibido, no Brasil, pela TV Brasil), a capacidade de cativar a atenção de alguém narrando algo é um privilégio e um desafio, independente do meio.
“Escrever é contar uma história, de maneira que todos os contadores de história são escritores, mesmo que não escrevam ou não saibam escrever”, disse Tavares no texto que escreveu especialmente para ser lido durante sua apresentação no evento literário, que acontece até a próxima segunda-feira (23).
Filho de uma das mais importantes poetisas portuguesas do século passado, Sophia de Mello Breyner Andresen, vencedora do Prêmio Camões, em 1999, Tavares afirmou que a principal influência que recebeu de sua mãe foi entender a importância da sonoridade do texto e que esta deve ser simples.
“Há autores que acham que escrever não é necessariamente contar uma história. Acham que o que importa são as palavras, o estilo da escrita, a beleza da fórmula, não aquilo que se conta ou deixa por contar. Em minha opinião, estão enganados”, disse Tavares, destacando que a simplicidade do texto não implica em empobrecimento de conteúdo. “Eu, por exemplo, gosto de criar ambiguidades em minhas histórias, pois acho que cada leitor pode ler um romance à sua maneira e que o escritor deve deixar que isso aconteça”.
Entusiasta das obras de autores brasileiros, com destaque para Jorge Amado e Érico Veríssimo, cujas obras despertaram seu fascínio pelo Brasil, onde gostaria de viver parte do ano, Tavares revelou que as duas perguntas a que mais tem dificuldades de responder são quem são seus escritores preferidos e por que ele escreve.
“Como se tivesse que haver uma razão que não a mera vontade de escrever. Quem é meu escritor preferido? Dezenas, centenas deles. Todos os que um dia, em circunstâncias se calhar irrepetíveis, me amarraram a um livro seu”, disse, completando sua definição pessoal sobre o papel das narrativas. “Ela também serve para distrair-nos do real e levar-nos até um mundo muito mais denso e rico, onde tudo se torna possível desde que alguém saiba contar uma história”.
Embora admitindo sentir inveja dos autores brasileiros devido à “inesgotável matéria-prima de inspiração”, em oposição a ele, “filho de um imaginário gasto e cansado”, Tavares encerrou sua apresentação com uma forte declaração.
“Deem-me leitores deslumbrados, incrédulos, insaciáveis de histórias, tal qual crianças; deem-me uma história e uma página em branco e eu começarei: ‘era uma vez’. É só isso que eu quero. É por isso que escrevo”, concluiu.
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