Família espera há sete meses por remoção de torre da Oi caída em vendaval

A família de Água Clara vive abalada deste outubro de 2011, quando uma torre da ‘Oi’ de 85 metros de altura caiu sobre a casa deles, ferindo-os e destruindo o lar de 200 metros quadrados construído durante toda a vida do casal

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A família de Água Clara vive abalada deste outubro de 2011, quando uma torre da ‘Oi’ de 85 metros de altura caiu sobre a casa deles, ferindo-os e destruindo o lar de 200 metros quadrados construído durante toda a vida do casal

O vigilante florestal Paulo César Garcia, de 46 anos, vive um pesadelo desde que a torre de telefonia da empresa “Oi” caiu sobre a sua casa em um temporal no dia 25 de outubro de 2011, por volta das 14h, na Rua Munir Thomé, em Água Clara, município distante 193 quilômetros de Campo Grande.

Sete meses após o acidente a torre, que segundo Paulo César ficou instalada no terreno à frente da sua casa por 27 anos e sem manutenção, permanece caída sobre a residência.

Sem dinheiro para a reforma, nem ressarcimento da empresa de telefonia, que ofereceu valor muito abaixo do necessário para reconstruir a casa, Paulo e mais sete membros da família moram atualmente de aluguel. 

“No primeiro mês, a empresa pagou o hotel, mas tenho uma filha especial que ficou estressada com os quartos e o ambiente que não era confortável para uma família. Tivemos que deixar o lugar e fomos procurar uma casa para alugar. Desde então, pagamos tudo com dinheiro do nosso bolso”, explica o vigilante.

Para piorar a situação da família, os proprietários das casas de aluguel de Água Clara não acreditam que eles não tenham recebido nenhum dinheiro da empresa “Oi”, fazendo-os pagar um valor de moradia acima do mercado.

“Nossa casa alugada custa R$ 2.000, muito acima do que podemos pagar. Estamos para ir para a rua”, desabafa Paulo César.

Ele conta que no dia do acidente, quatro pessoas estavam em casa. “Minha filha dava banho no meu neto e minha esposa estava com a minha filha especial deitada na cama, bem onde a torre caiu. Agora, imagine o nosso desespero em salvar todos, com aquele monte de ferros caídos e os fios da rua de alta tensão molhados, no chão? Fico apavorado em lembrar. Eu e minha esposa temos marcas ainda dos ferimentos”, lamenta o pai de família.

A torre caiu por cima de mais duas casas, que já foram demolidas e os donos tiveram o dinheiro ressarcido. “Eram casas pequenas, não valiam metade do valor oferecido pela empresa, R$ 200 mil, então aceitaram. Eu passei minha vida empenhando tudo o que tinha na construção da casa que tem 200 metros quadrados, não é justo me darem um valor tão inferior, porque minha casa vale mais que isso. Só quero que seja feita Justiça”, explica Paulo.

Ao acompanhar a reportagem em visita ao que sobrou da casa, Paulo para pelos cômodos e relembra como era sua casa. “Você não imagina o que é construir a casa dos seus sonhos e vê-la ficar assim, abandonada. Já entraram aqui e roubaram parte do telhado, o forro de PVC e minhas galinhas, que não tenho para onde levar”, desabafa.

No lugar, ficaram cerca de cinqüenta animais que esperam todo dia por Paulo para comer. Pelo chão, restos dos móveis da família que, do dia para a noite, ficou sem teto. Na casa funcionava uma cozinha industrial com freezers, fogões, geladeiras e fornos porque a família tirava a renda da venda de pães, bolos e salgados.

Atualmente, os oito membros moram em uma casa próxima a que caiu. Acomodados como em um acampamento, eles se viram como podem em um ambiente menor do que o da casa que desmoronou.

Os antigos móveis que eles conseguiram salvar estão empilhados na varanda e em um dos quartos da casa. “A maioria ou estragou, ou queimou. Não sobrou absolutamente nada. Tudo o que temos é emprestado”, disse Paulo.

Ação judicial

O advogado da família, Felipe Di Benedetto Júnior, informou que neste ano entrou com uma medida cautelar de produção de provas e indenização para a família. “A situação deles é bem complicada, nós queríamos ao menos uma ajuda de custo enquanto a situação não se resolve por parte da ‘Oi’”, disse.

Para ele, a torre foi instalada há muito tempo e muitos equipamentos foram colocados no alto da mesma ao longo dos anos. Felipe Benedetto pede que seja feita uma perícia na torre, que é vigiada 24 horas por dia por um vigilante custeado pela empresa de telefonia.

Além desta ação, o advogado pede o ressarcimento do custeio do aluguel da família. “São oito pessoas morando em uma mesma casa, com três crianças. A empresa se nega a custear qualquer verba mensal”, argumenta.

Há sete meses, não há nenhuma decisão judicial.  A nova ação de perdas e danos corre na vara única de Água Clara desde o dia 22 deste mês. “A empresa está irredutível. Querem pagar a eles um valor ínfimo de indenização, que é R$ 200 mil. Eles correram risco de vida por um objeto alheio à eles, a casa foi destruída e a vida, abalada”.

O advogado pede uma indenização de R$ 1 milhão e 600 mil à família atingida. “É uma avaliação superficial dos danos materiais e morais deles. Havia no local uma cozinha industrial e equipamentos de som, a renda deles saía de lá, hoje não há mais nada”, justifica.

Em nota, a empresa informou que não comenta as ações judiciais envolvendo o nome da “Oi”. Confira na íntegra:

“A Oi informa que já fechou acordo de ressarcimento com os moradores e proprietários de duas das casas afetadas pelo incidente de outubro no município de Água Clara (MS), o que possibilitou a retirada do equipamento que estava sobre estes dois imóveis. A companhia esclarece ainda que, desde o início, ofereceu acomodação em hotéis (com refeições incluídas), apoio logístico e atendimento médico para todas as famílias. A companhia acrescenta que não comenta ações judiciais em andamento”.

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