Europa enfrenta suicídio econômico, segundo Paul Krugman
No último sábado (14), o “New York Times” publicou uma matéria sobre um fenômeno que está aparentemente em ascensão na Europa: os suicídios provocados pela crise econômica. Pessoas que estão se matando devido ao desespero provocado pelo desemprego e pela falência das suas empresas. A reportagem é triste. Mas estou convicto de que não fui […]
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No último sábado (14), o “New York Times” publicou uma matéria sobre um fenômeno que está aparentemente em ascensão na Europa: os suicídios provocados pela crise econômica. Pessoas que estão se matando devido ao desespero provocado pelo desemprego e pela falência das suas empresas. A reportagem é triste. Mas estou convicto de que não fui o único leitor, especialmente entre os economistas, a questionar se essa história não diz tanto respeito assim a indivíduos, e sim à aparente determinação dos líderes europeus de cometer um suicídio econômico pelo continente.
Há apenas alguns meses eu sentia certa esperança em relação à Europa. É possível lembrar de como no final do outono a Europa parecia estar à beira do colapso financeiro. Mas o Banco Central Europeu, o congênere do Federal Reserve na Europa, socorreu o continente. Ele ofereceu aos bancos da Europa linhas abertas de crédito sob a condição de que estas instituições financeiras fornecessem como garantia títulos dos governos europeus. A iniciativa apoiou diretamente os bancos e indiretamente os governos, e acabou com o pânico.
A questão naquele momento era determinar se essa ação corajosa e efetiva constituir-se-ia no início de um processo de reavaliação mais amplo, se os líderes europeus utilizariam o espaço que o banco lhes concedeu para tomarem fôlego, a fim de reavaliarem as políticas que provocaram toda essa situação difícil.
Mas não foi isso o que eles fizeram. Ao contrário, os líderes europeus reincorporaram com ímpeto duplo as suas políticas e ideias fracassadas. E está ficando cada vez mais difícil acreditar que alguma coisa será capaz de fazer com que eles mudem de rota.
Vejamos a situação da Espanha, que atualmente se encontra no epicentro da crise. Esqueçam o termo recessão; a Espanha se encontra imersa em uma total depressão econômica, com um índice geral de desemprego de 23,6%, comparável ao dos Estados Unidos no auge da Grande Depressão, e com um índice de desemprego entre a população jovem de mais de 50%. Esta situação não pode continuar – e é esta conclusão que está fazendo com que os custos dos empréstimos espanhóis fiquem cada vez mais altos.
De certa forma, na verdade não importa como foi que a Espanha chegou a este ponto – apesar de tudo, a história espanhola não se assemelha em nada às fábulas morais que são tão populares entre as autoridades europeias, especialmente na Alemanha. A Espanha não foi fiscalmente irresponsável – às vésperas da crise, o país apresentava uma dívida baixa e um superávit orçamentário. Infelizmente, a Espanha tinha também uma enorme bolha imobiliária, bolha esta que se tornou possível em grande parte devido aos enormes empréstimos concedidos pelos bancos alemães aos seus congêneres espanhóis. Quando a bolha estourou, a economia espanhola ficou desamparada.
Os problemas fiscais da Espanha são uma consequência, e não a causa, da depressão econômica enfrentada pelo país. Não obstante, a prescrição ministrada por Berlim e Frankfurt é a aplicação de uma austeridade fiscal ainda maior. Isso é, francamente, uma loucura. A Europa tem vários anos de experiência com duros programas de austeridade econômica, e os resultados foram exatamente aqueles que os estudantes de história nos disseram que veríamos: tais programas empurraram as economias deprimidas em uma depressão ainda mais profunda. E, como os investidores avaliam a situação da economia de uma nação quando estudam a capacidade desta de pagar as suas dívidas, os programas de austeridade sequer funcionaram como uma maneira de reduzir os custos dos empréstimos.
Qual é a alternativa? Bem, na década de trinta – uma era que a Europa moderna está começando a imitar nos mínimos detalhes – a condição essencial para a recuperação econômica foi o abandono do padrão ouro. A medida atual equivalente seria um abandono do euro, e a restauração das moedas nacionais. Muitos poderiam dizer que isto é inconcebível, e de fato tal medida provocaria enormes distúrbios, tanto econômicos quanto políticos. Mas, na verdade, realmente inconcebível é continuar seguindo o rumo atual, impondo medidas de austeridade cada vez mais duras em países que já estão padecendo com um desemprego digno da Grande Depressão.
Portanto, se os líderes europeus desejarem realmente salvar o euro, eles terão de procurar uma rota alternativa. E o formato dessa alternativa é na verdade muito claro. O continente precisa de políticas monetárias mais expansivas, na forma de disposição – uma disposição anunciada – por parte do Banco Central Europeu de aceitar uma inflação um pouco mais elevada. Ele necessita de políticas fiscais mais expansivas, na forma de orçamentos na Alemanha que compensem a austeridade na Espanha e em outras nações problemáticas da periferia do continente. Mesmo com a implementação de tais políticas, as nações europeias periféricas enfrentariam vários anos difíceis. Mas pelo menos haveria uma esperança de recuperação.
O que nós estamos realmente presenciando, no entanto, é uma inflexibilidade completa. Em março deste ano, os líderes europeus assinaram um pacto que de fato se concentra na austeridade fiscal como resposta para qualquer e todo problema. Enquanto isso, autoridades graduadas do banco central estão determinadas a enfatizar a disposição do banco em elevar as taxas de juros ao menor sinal de aumento da inflação.
Portanto, é difícil evitar uma sensação de desesperança. Em vez de admitirem que estão equivocados, os líderes europeus parecem estar determinados a empurrar as suas economias – e as suas sociedades – para o abismo. E o mundo inteiro pagará caro por essa atitude.
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