Enfrentamento ao crack deve ser mais sério, diz especialista
Com mais de cinco mil usuários de crack e outras drogas perambulando pelas ruas da cidade, o Rio de Janeiro não dispõe de nenhuma vaga para a internação de usuários adultos desde agosto. Segundo especialistas ouvidos pelo Jornal do Brasil, o tratamento para os dependentes do crack tem sua fase mais importante na internação e […]
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Com mais de cinco mil usuários de crack e outras drogas perambulando pelas ruas da cidade, o Rio de Janeiro não dispõe de nenhuma vaga para a internação de usuários adultos desde agosto. Segundo especialistas ouvidos pelo Jornal do Brasil, o tratamento para os dependentes do crack tem sua fase mais importante na internação e precisa ser levado “a sério” pelos governantes para que acabe a epidemia que assola o Rio.
Depois da ocupação do Complexo de Manguinhos e do Jacarezinho, no último final de semana, houve crescimento do número de dependentes químicos retirados das ruas, segundo a Secretaria Municipal de Assistência Social. No entanto, sem possibilidade de internação, os que aceitam tratamento só podem ser abrigados, sem cuidados necessários para livrarem-se da dependência.
Hoje, há 123 crianças e adolescentes abrigados involuntariamente em cinco unidades mantidas por ONGs conveniadas com a prefeitura do Rio. Na última semana, outras dez crianças que viviam nas imediações de Manguinhos também foram internadas à revelia.
“O crack não é esse mistério todo que se coloca. O problema tem solução, mas não é de curto prazo. Ninguém fica livre desta droga em 15 dias. Há muitos pacientes querendo parar de usar crack, mas o tratamento precisa ter qualidade”, disse o terapeuta Tito Gomes, especializado em dependência química há 20 anos.
Para ele, a falta de planejamento se torna mais proeminente a cada dia. “Não basta invadir uma favela e tirar os usuários de crack de lá. Antes disso, deve-se ter um plano de tratamento para estas pessoas”, afirma. “Do contrário, fica impossível resolver o problema”.
Para a psicóloga pós-graduada em dependência química, Angela Hoffman, o serviço público de saúde precisa ser estruturado de modo a garantir não apenas a internação dos usuários, mas também o acompanhamento dos pacientes.
“Não basta garantir apenas a internação destes usuários de crack e de outras drogas. Mesmo depois da internação, há uma grande necessidade de acompanhamento. Senão, o paciente pode voltar à estaca zero”, apontou.
Internado por decisão judicial a pedido de sua família, um homem de 30 anos ouvido pela reportagem está há dois anos livre do crack. Ele destaca a importância da internação no tratamento. “A internação salvou minha vida. Chegou a um ponto que eu não apenas usava o crack e a cocaína, mas também vendia a droga para conhecidos. Assim, mantinha também o meu vício. Perdi meu casamento e estava vendo minha vida descer pelo ralo”, relembrou.
Usuário de crack durante cinco anos, outro homem de 33 anos que também não se identificou viu numa internação em clínica em estado do interior fluminense a solução para o fim de sua dependência química. “O governo deve continuar mantendo estas clínicas e depois aperfeiçoar o tratamento que era oferecido e agora não é mais. O crack é uma droga muito compulsiva, que não dá para largar por conta própria. O usuário precisa que lhe estendam a mão e quem tem dinheiro tem tratamento. E quem não tem dinheiro, faz o quê?”, indagou o morador de uma comunidade na região central do Rio.
O ex-interno começou a usar crack com 25 anos e só abandonou o uso após ser internado na Clínica Ricardo Iberê Gilson, em Valença. O convênio mantido entre a unidade e o governo do Estado acabou há dois meses.
A Secretaria estadual de Assistência Social anunciou, via assessoria de imprensa, que firmou convênio com três unidades, que oferecerão 150 leitos a partir da próxima segunda-feira (22). As unidades são: Associação Amor e Vida, em Campo Grande, com 60 vagas; Instituto Aldeia Gideão, em Casemiro de Abreu, com 30 vagas; Comunidade S-8, em Santa Cruz (Zona do Rio Oeste), com 60 vagas.
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