Enem garante a sete alunos da Escola Agrícola vagas em universidades públicas

O desempenho no ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio) da Escola Municipal Agrícola Estevão de Figueiredo da Rede Municipal de Ensino (Reme) garantiu a sete alunos vagas em duas universidades públicas, seis na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul e o sétimo, Willian Vilhar da Silva, no curso de zootecnia do campus de Sinop […]

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O desempenho no ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio) da Escola Municipal Agrícola Estevão de Figueiredo da Rede Municipal de Ensino (Reme) garantiu a sete alunos vagas em duas universidades públicas, seis na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul e o sétimo, Willian Vilhar da Silva, no curso de zootecnia do campus de Sinop da Universidade Federal de Mato Grosso.

Um oitavo aluno também conseguiu vaga (no curso de matemática no campus de Cassilândia da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul), mas desistiu por que teria de mudar para o interior. Em 2011, 27 alunos concluíram o ensino médio, com formação técnica em agropecuária.

O prefeito Nelson Trad Filho enaltece o esforço dos alunos que chegaram ao ensino universitário. “Temos dado suporte e investido na escola”, lembra o prefeito que ampliou o ensino fundamental (antes só era oferecido a partir do 6º ano), criou o ensino técnico profissionalizante, além de garantir um computador por aluno.

“Antes os estudantes que terminavam o 9º ano e pretendiam fazer o curso de técnico em agropecuária, tinham que estudar no interior de São Paulo”. Os novos universitários comemoram a conquista depois de enfrentarem, ao longo de seis anos, uma maratona para chegar à sala de aula que começava ainda de madrugada porque o colégio fica distante 30 quilômetros da zona urbana.

“Foi uma batalha, mas que valeu a pena”, lembra orgulhosa dona Mirian Roseli Nazano, mãe de Giulia Izabelle Gomes, que aos 17 anos é uma das novas acadêmicas do curso de medicina veterinária da UFMS. Para realizar o sonho da filha de se tornar médica veterinária, ela teve até que mudar de casa. Trocou o Guanandi pela Vila Cidade Morena, um bairro mais próximo da escola agrícola, localizada na zona rural de Campo Grande, na região das Três Barras.

 “Minha casa está a três quadras da BR-163, onde o ônibus do transporte escolar passava às 6h50 da manhã e a trazia de volta às 4h30 da tarde”, conta a auxiliar administrativa que, com um salário de R$ 1.400,00, não teria condições de pagar o cursinho preparatório e muitos menos a mensalidade de uma faculdade particular.

“Os professores foram muito importantes para que ela tivesse este desempenho. Ela conta que sempre ajudava a filha na hora de estudar e fazer as tarefas. Para comprar os livros e o material do curso, dona Mirian teve de recorrer à ajuda de familiares. “São muito caros, só com meu salário não teria como adquiri-los”.

Giulia diz que depois de passar seis anos estudando na mesma escola, esta longa convivência ajudou a transformar os colegas de escola, professores e funcionários numa grande família. “Ficávamos juntos o dia inteiro, de segunda a sexta-feira”, lembra.

Outra caloura da Federal egressa da Escola Agrícola é Joelma Santos da Silva, 17 anos, que conseguiu vaga no curso de engenharia ambiental. Foram seis anos cumprindo uma maratona de 90 quilômetros de ida e volta, cinco dias por semana, entre sua casa no Vida Nova, bairro na saída para Cuiabá e a escola.

 Sua mãe, a empregada doméstica Vilma Pereira Santos e o pai, cabeleireiro, estão orgulhosos do feito da filha. “Ela sempre foi muito estudiosa. Valeu a pena seu esforço”. Joelma levantava antes das cinco horas, se arrumava às pressas para pegar o ônibus de 5h20 até o centro da cidade, onde embarcava no transporte escolar, que a levava até a escola onde chegava a tempo de assistir a primeira aula, às sete horas.

Joelma garante que esta experiência de estudar no Arnaldo Estevão de Figueiredo lhe garantiu base “para prestar o exame do Enem com tranqüilidade e conseguir pontuação para o curso de engenharia ambiental. Tive excelente professores em todo tempo que estudei lá, desde o 5º ano”. Gabriel Felix, 17 anos, foi aprovado no curso de Biologia.

“Sempre desejei fazer esse curso. Minha passagem pela Escola Agrícola só reforçou meus objetivos. Lá tive professores muito bons, aprendi bastante na prática, o que era ensinado na teoria na sala de aula”. E o resultado foi compensador. Ele ficou na quarta colocação do bacharelado e obteve 960 pontos na pontuação da redação. Willyan da Silva Cruz, 18 anos, também aprovado no curso de Biologia.

 “Sempre tive aptidão para as disciplinas de genética e botânica. Acredito que isto me ajudou na aprovação. Estou realizado, principalmente por ver a alegria dos meus pais e o que é melhor, ser exemplo de um aluno que estudou na rede pública de ensino e que conseguiu uma vaga em uma universidade federal“, admite.

Nilson Marassi Júnior, 17 anos, aprovado no curso de Saneamento Ambiental, não tem dúvida: “Aprendi muito na Escola Agrícola e acho que foi fundamental para minha aprovação no curso. Ainda mais porque sempre morei na cidade, não tinha contato com o campo, até começar a estudar lá. Por isso, agradeço muito aos meus professores, que foram responsáveis por despertar em mim várias aptidões no decorrer do curso técnico”.

 A Escola Municipal Agrícola Arnaldo Estevão de Figueiredo está em funcionamento desde 1996. Ocupa uma área de 150 hectares, com criação de gado leiteiro, frango, hortas (uma delas orgânicas), pomar. Toda a produção é usada no reforço das refeições servidas aos alunos, que almoçam na escola.

A escola tem hoje 328 alunos, sendo 93 no curso profissionalizante de nível médio técnico em agropecuária, oferecida a partir de 2005. No ranking estadual, a escola ficou entre as 10 com melhor desempenho. Em 2011, o índice de aprovação, calculado com base nos 318 estudantes matriculados, chegou a 99,05%, de acordo com o diretor-adjunto da escola, Luiz Taira.

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