Em passagem por Campo Grande, Almir Sater fala um pouco sobre MS e música
Almir Eduardo Melke Sater nasceu em Campo Grande, quando ainda era Mato Grosso, em 14 de novembro de 1956. Desde pequeno gostava de fazendas, bois e do som da viola. Com 12 anos já tocava e se apresentava na Rádio Cultura de Campo Grande, juntamente com Gil Ourives. Com 30 anos de carreira e 10 […]
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Almir Eduardo Melke Sater nasceu em Campo Grande, quando ainda era Mato Grosso, em 14 de novembro de 1956. Desde pequeno gostava de fazendas, bois e do som da viola. Com 12 anos já tocava e se apresentava na Rádio Cultura de Campo Grande, juntamente com Gil Ourives. Com 30 anos de carreira e 10 discos solos gravados, Almir Sater é considerado um dos mais importantes violeiros do Brasil. Em uma passagem por Campo Grande, o cantor, compositor e ator conversou com o Midiamax.
Midiamax: Fala um pouco da sua infância em Campo Grande, até os seus 11 anos, quando fez sua primeira apresentação.
Almir Sater: Sou da turma da rua da Constituição, esquina com a Marechal Rondon, onde comecei a tocar, fazer os primeiros acordes de viola, com meus vizinhos, Gil Ourives. João Abraão Jr. Todos gostavam muito de música ai eu comecei a tocar com eles ali. Logo depois fiz minha primeira apresentação na Rádio Cultura, deveria ter uns 10, 12 anos, acompanhando o Gil Ourives, tocamos Do You Wanna Dance, que era um sucesso na época. Sempre gostei muito de música, nunca pensei em ser um músico profissional, nunca me achei nessas condições, mas a música sempre foi muito presente na minha vida. Qualquer rodinha de violão eu ia ouvir, músicas ao vivo em restaurantes de Campo Grande, eu estava presente para escutar os grandes artistas paraguaios, que animavam a nossa cidade. Tive uma infância maravilhosa em Campo Grande, cidade maravilhosa, todo mundo conhecia todo mundo. Fui um dos primeiros comedores de sobá da feira, nadava, jogava bola no Rádio Clube, muito feliz.
Como você conheceu a Viola Caipira?
Almir Sater: Conheci pelo Rádio, antigamente só sintonizáva ondas curtas e pegava rádios de São Paulo à noite, ouvia muito a rádio Record, Tupi. Ouvia aqueles violeiros pontiando a viola e achei muito bonito. Fui conhecer uma viola pessoalmente no Rio de Janeiro, no Lago do Machado, num reduto de músicos nordestinos, e uma vez passando por lá tinha uma dupla de mineiros tocando viola, fiquei tão encantado com aquilo que resolvi largar tudo e virar violeiro, foi uma aposta muito arriscada, mas tive sorte.
Você é e se considera roqueiro, toca folk, música regional e andina. Qual a semelhança com a viola caipira, é a “pegada” que ela tem?
Almir Sater: Uma das afinações da viola caipira é a mesma da do banjo, uma afinação aberta, o Folk americano, música irlandesa usa muito essas afinações abertas. É uma afinação que eu gosto muito de tocar, e na viola são várias afinações abertas. Você faz um acorde que sai como se já estivesse pronta, sem precisar encostar com a mão esquerda no traço da viola, e, isso facilita para dar mais ressonância.
Como surgiu a oportunidade de fazer novelas? Pantanal foi a mais marcante?
Almir Sater: Pantanal foi a mais marcante, a que abriu todas as portas para o mundo artístico de sucesso popular, porque ela fez muito sucesso no Brasil todo, onde passou fez sucesso e eu tive a felicidade de participar. Estava quase mudando para os EUA para fazer uns trabalhos instrumentais, morar por lá um tempo, quando o Sérgio Reis me ligou pedindo que eu fizesse uma participação em Pantanal. Acabei fazendo a novela inteira, ganhei um bom personagem, e essa novela abriu as portas através da imagem do ator, abriu portas para a minha música, meu toque de viola, muito importante, foi um divisor de águas
Hoje existe o chamado ‘sertanejo universitário’, você acha que isso hoje é uma identidade de MS, qual a sua avaliação desse mercado fonográfico atual?
Almir Sater: Acho que não importa se é universitário, primário ou ginasial, a arte é o que importa. Uma vez eu perguntei ao Tião Carreiro o que é sertanejo? O que é bom? Ele falou que não importa se é sertanejo ou popular, o importante é que tem música boa e tem a ruim, acho que isso ai que manda.
Como você se inspira para fazer suas músicas?
Almir Sater: O fato de estar com o instrumento por perto, ter tempo de sobra para acompanhar os parceiros com que eu gosto de trabalhar, isso facilita muito a composição. Agora eu não domino muito isso, não sei quando vou fazer uma música que acho que será legal, às vezes passo um tempo sem fazer nada, acho que não sairá mais nada. Para a música você tem que estar ali à disposição dela, a música é muito ciumenta, você começa a fazer outra coisa ela vai para outro lado, tem que estar tocando, com o instrumento por perto, tem que estar feliz. Não pode ter cobrador na minha porta, compromisso me apressando, tem que estar com aquela sensação que o tempo é todo nosso.
Como surgiu a ideia das escolas sertanejas em Aquidauana?
Almir Sater: Minha mulher é educadora, ela acha que isso é o mais importante de tudo, educar as pessoas, tirá-las da ignorância, mostrar o mundo verdadeiro e a educação é tudo. Esse é um projeto dela, eu levo a fama, mas quem ralou foi ela.
Como foi o show com o seu amigo Paulo Simões no lançamento de CD dele?
Almir Sater: O Paulo Simões é um artista que eu respeito demais, sou muito seu admirador, um cara que consegue de uma hora para outra tirar uma canção, poesia que me emociona. É uma pessoa rara e o show foi muito bonito, emocionante, um homem de bom humor, bom amigo, gosto muito de trabalhar com ele, e o fato de sermos amigos facilita o nosso trabalho, o fato de eu admirá-lo, eu tenho sorte de ter um parceiro como o Paulo Simões.
Você, família Espíndola, Geraldo Roca, Guilherme Rondon, Paulo Simões, Mato Grosso do Sul terá nova safra como essa?
Almir Sater: Primeiro começou Geraldo Espíndola, Paulo Simões, Tetê Espíndola. Eles nos influenciaram muito e depois veio a minha geração, da Alzira e do Celito, depois veio a geração do Jerry e do Rodrigo meu irmão. A pedra fundamental nasceu com o Paulo Simões e Geraldo Espíndola, considero que a música de Mato Grosso do Sul começou com a fusão dos dois, com uma pitada de Geraldo Roca que é muito importante, grande artista também, esses três influenciaram a nossa geração
Um disco e uma música sua que mais te marca?
Almir Sater: Muito difícil uma música que mais me marca, tem músicas que fizeram muito sucesso, como Tocando em frente, parceria minha com o Renato Teixeira, que emociona muito as pessoas. Veio pronta pra gente, fizemos a música em dois minutos, me marcou porque eu nem percebi a música fui perceber depois. Depende muito do momento, ultimamente tenho curtido muito No Rastro da Lua Cheia, que é uma das últimas músicas que eu fiz com o Renato, mas acho que depende muito do estado de espírito, tem música que eu gosto mais em uma época, outras em outra. Agora, gosto muito mais de instrumentais de fazer improviso ficar tocando, gosto muito do som da viola caipira, sou meio indeciso para dizer o que eu gosto mais.
Você aborda muito a natureza em suas composições, como analisa a questão ambiental hoje em dia? Como a do rio Taquari por exemplo.
Almir Sater: Se for analisar o Pantanal é um dos locais mais preservados do Planeta, está perto de alguns grandes centros, há aproximadamente 1000 km de São Paulo e praticamente está intacto. As partes próximas a cidade estão um pouco afetadas, porque onde chega o ser humano em massa, é difícil conter o impacto ambiental, mas o pantaneiro é um conservacionista, as vezes acontece desmatamentos em fazendas, mas quando você vê é gente de fora que muitas vezes não tem uma noção, até se arrepende do que fez, mas é tarde. Então temos que ter uma consciência para lidar com o Pantanal não é um lugar de exploração, para ter lucros fabulosos, é um lugar que você precisa ter um certo respeito, o que manda muito é o amor em relação a região, se você ama aquela região você vai ser muito feliz, se vai ao Pantanal atrás de dinheiro, acho que tem lugares melhores.
Dia 21 próximo você toca em Campo Grande?
Almir Sater: Dia 21 faço um show aqui em Campo Grande no Palácio Popular da Cultura, faz tempo que não faço um show aqui, com uma banda super mato-grossense. Falo mato-grossense não é por dizer que não sou sul-mato-grossense, mas eu e alguns daqui somos da época do “Mato Grossão”, ainda tenho orgulho de ser do Mato Grosso, e essa banda nossa é bem daqui da nossa região. Temos um suingue bem da fronteira, nunca toquei com uma banda que fosse tão integrada com a nossa cultura, então estou curtindo muito isso.
Como estão as composições e parcerias?
Almir Sater: Estou compondo com o Simões, tem músicas novas, tem músicas no disco dele, músicas que foram não gravadas ainda. O que mais eu gosto de fazer na vida é compor, a sensação do dever cumprido, quando a gente faz uma música que me emociona, primeiro eu faço pra mim, seu eu gostar já valeu a pena, você pode nem gostar, mas se eu gostei já valeu a pena. E admiro muito o compositor, do nada do nada do nada, de repente ele tira uma caneta escreve uma poesia no papel e você chora de emoção. Do nada ele pega o instrumento, toca uma canção bonita. A composição é uma coisa muito mágica.
Deixe uma mensagem para os seus fãs.
Almir Sater: Meus fãs de Mato Grosso do Sul de Campo Grande do Mato Grosso, eu sou muito agradecido a vocês porque sempre fui muito prestigiado aqui na minha terra, sou prestigiado, e fico muito feliz em poder tocar aqui. Ver meus amigos me acompanhando, me prestigiando me criticando, me elogiando como amigos mesmo. Vejo aqui pessoas em meus shows que conheço desde menino, vejo filhos de amigos, e sou sempre muito bem tratado aqui, muito bem recebido, fico orgulhoso da minha terra.
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