Egípcios desafiam presidente Mursi em protesto nacional

Dezenas de milhares de egípcios protestaram nesta terça-feira (27) contra o decreto que concede poderes extraordinários ao presidente do país, Mohamed Mursi, num dos maiores atos públicos desde a derrubada do regime de Hosni Mubarak. A polícia usou gás lacrimogêneo contra jovens que atiravam pedras nos arredores da praça Tahrir, epicentro da rebelião popular que […]

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Dezenas de milhares de egípcios protestaram nesta terça-feira (27) contra o decreto que concede poderes extraordinários ao presidente do país, Mohamed Mursi, num dos maiores atos públicos desde a derrubada do regime de Hosni Mubarak.

A polícia usou gás lacrimogêneo contra jovens que atiravam pedras nos arredores da praça Tahrir, epicentro da rebelião popular que derrubou Mubarak em janeiro de 2011. Houve confrontos entre partidários e adversários do governo numa cidade ao norte da capital.

Mas a violência não ofuscou a demonstração de força da oposição, geralmente dividida. Esse foi o maior desafio a Mursi nos cinco meses desde a sua posse.

“O povo quer derrubar o regime”, gritavam os manifestantes no Cairo, ecoando os slogans usados contra Mubarak em 2011. Houve manifestações também em Alexandria, Suez, Minya e outras cidades do Delta do Nilo.

O protesto desta terça-feira, convocado por esquerdistas, liberais e outros grupos, aprofunda a pior crise no Egito desde a eleição de Mursi, um político ligado à Irmandade Muçulmana.

Um manifestante de 52 anos morreu após inalar gás lacrimogêneo no Cairo. Foi a segunda morte em um protesto desde que Mursi expediu, na semana passada, um decreto que amplia seus poderes e proíbe contestações judiciais às suas decisões.

O governo diz que o decreto é parte de um esforço para acelerar as reformas e concluir a transição do Egito para a democracia.

Mas adversários dizem que Mursi se comporta como um faraó contemporâneo, provocação que costumava ser dirigida a Mubarak. Os Estados Unidos, patrocinadores das Forças Armadas egípcias, manifestaram preocupações com a turbulência no mais populoso país do mundo árabe.

“Não queremos uma ditadura outra vez. O regime de Mubarak era uma ditadura. Tivemos uma revolução para termos justiça e liberdade”, disse o manifestante Ahmed Husseini, de 32 anos, no Cairo.

A oposição não-islâmica do Egito conseguiu se unir nas ruas nos últimos dias, mas ainda não construiu uma máquina eleitoral capaz de desafiar a bem organizada Irmandade Islâmica, que derrotou candidatos de mentalidade mais laica nas duas eleições realizadas desde a queda de Mubarak.

O decreto de Mursi provocou uma rebelião de juízes e abalou a confiança numa economia que, após dois anos de turbulências políticas, enfrenta graves dificuldades. O presidente ainda está por implementar impopulares medidas destinadas a controlar o déficit público, uma pré-condição para a liberação de um empréstimo de 4,8 bilhões de dólares do Fundo Monetário Internacional (FMI).

Na segunda-feira, Mursi se reuniu com a cúpula do Judiciário para negociar uma solução para a crise.

“Há sinais nos últimos dois dias de que Mursi e a Irmandade perceberam seu erro”, disse Elijah Zarwan, pesquisador do Conselho Europeu de Relações Exteriores, para quem os protestos são “uma claríssima ilustração de como isso foi um erro de cálculo”.

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