Dirceu se sacrificou por Lula, diz ex-companheiro de exílio

Um homem corajoso, que mostrou essa mesma qualidade em diferentes momentos da história do País. Assim se refere a José Dirceu o jornalista Flávio Tavares, companheiro de exílio do ex-ministro durante a ditadura militar no Brasil. A valentia do amigo, segundo o jornalista, é visível do período de repressão até o escândalo do mensalão, quando […]

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Um homem corajoso, que mostrou essa mesma qualidade em diferentes momentos da história do País. Assim se refere a José Dirceu o jornalista Flávio Tavares, companheiro de exílio do ex-ministro durante a ditadura militar no Brasil. A valentia do amigo, segundo o jornalista, é visível do período de repressão até o escândalo do mensalão, quando sua “maior demonstração de coragem foi ter se sacrificado para salvar o Lula”. Nesta terça-feira, a maioria dos ministros do Supremo Tribunal Federal condenou Dirceu por corrupção ativa.

O primeiro contato entre Tavares e Dirceu foi na Base Militar do aeroporto Tom Jobim, o Galeão, no Rio de Janeiro, quando os dois se juntaram a outros 13 presos políticos que seriam exilados no México em troca da libertação embaixador americano Charles Burke Elbrick, sequestrado por movimentos de resistência. “Foi a primeira e única vez em que o José Dirceu obedeceu às ordens que eu dei a ele”, lembra o jornalista, que diz ter orientado os companheiros a mostrar as algemas para a foto que, décadas depois se tornaria uma das mais emblemáticas do período. “Nós viajamos ao México algemados. Então, bateram uma fotografia. E quando, em um determinado momento, mandaram eu me abaixar, eu disse, ‘vamos mostrar as algemas, tem que ser rápido’. Estava todo mundo escondendo, e aí o José Dirceu foi o primeiro a mostrar as algemas para sair na fotografia.”

Durante entrevista ao Terra, Tavares falou diversas vezes na coragem de Dirceu, que diz ter sido um “menino irrequieto”, que arriscou sua vida ao retornar ao Brasil clandestinamente após fazer um treinamento de guerrilha em Cuba. “Nós estávamos banidos (do País). A volta significava a morte. E ele voltou ao Brasil para integrar a resistência.” O jornalista diz que é essa mesma característica que repercute agora. “O Dirceu deve aparecer como o cabeça do mensalão, e era um subordinado ao presidente da República. Ele corajosamente resolveu o problema do Lula, porque o Lula pensava até em renunciar.”

Mensalão mostra degradação do sistema político

O jornalista acredita que o episódio do mensalão não seja um fato isolado, e que não mostra só uma degradação do PT, e sim de todo o sistema político. “O PP, que é o partido do (Paulo) Maluf, entrou no jogo e recebeu milhões. O PTB, o PMDB entraram no jogo. Todos eles foram corrompidos. Então é a degradação do sistema político.” Tavares contesta também os relatos de testemunhas do processo do mensalão, que nunca relacionaram o ex-presidente Lula ao esquema. “O chefe político de tudo isso, se houve, é o presidente da República. Porque o sargento vai comandar a tropa? Ele comanda quando as ordens vêm do capitão. O capitão dá as ordens que recebe do general. Assim por diante, uma cadeia de comando.”

Tavares afirma que as legendas deixaram de serem de fato partidos e se tornaram “aglomerados de pessoas em busca de interesses pessoais” e “um balcão de negócios”, mas ressalva: “o José Dirceu não pode ser isolado nesse contexto de corrupção”. Para o jornalista, o ex-ministro, além de ter perdido sua chance de substituir Lula na Presidência por causa do mensalão, teve sua biografia marcada pelo escândalo. “Se eu dou um tapa em um filho meu, se eu dou um tapa na minha mulher ou vice-versa, a minha biografia se mancha, eu posso ser o homem mais magnânimo do mundo”, exemplificou.

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