Dia sem Carro: bikes crescem no País, mas ruas ainda são obstáculos
Desde 2007, a bicicleta é a meio de transporte urbano terrestre mais rápido segundo o Desafio Intermodal, iniciativa promovida pelo instituto CicloBR, que todo o ano testa formas de se locomover em São Paulo, geralmente em horário de pico. Este ano, a bike ficou atrás apenas do helicóptero, mas por pouco: chegou só dois minutos […]
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Desde 2007, a bicicleta é a meio de transporte urbano terrestre mais rápido segundo o Desafio Intermodal, iniciativa promovida pelo instituto CicloBR, que todo o ano testa formas de se locomover em São Paulo, geralmente em horário de pico.
Este ano, a bike ficou atrás apenas do helicóptero, mas por pouco: chegou só dois minutos depois que o veículo voador, e sem usar uma gota de combustível. Conheça iniciativas coletivas de ciclistas Esta é apenas uma das demonstrações de que a bicicleta é uma alternativa de transporte rápida, limpa, econômica e viável para as grandes cidades.
No Dia Mundial Sem Carro, celebrado neste sábado (22), o coro em prol das bikes não conta apenas com usuários, mas com especialistas em trânsito. “O ciclismo urbano chegou para ficar. Isso só irá aumentar daqui pra frente”, diz o arquiteto e gerente de projetos de mobilidade urbana da Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC) de Porto Alegre (RS), Antônio Vigna.
“É um veículo que não polui, não faz ruído e não ocupa muito espaço”, destaca o professor de Transporte da Escola de Engenharia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), João Fortini Albano. Apesar disso, o ciclista ainda tem um terreno sinuoso e acidentado para enfrentar: os perigos das ruas das grandes cidades.
Mesmo que o Código de Trânsito Brasileiro reconheça a bicicleta como veículo de transporte de passageiros e seja claro ao pontuar que deve trafegar com prioridade no mesmo espaço que carros, motos e ônibus, quem anda de bike sabe que essa regra ainda está longe de virar realidade no asfalto.
Pedalada defensiva “Observo que em diversas ocasiões os motoristas de veículos motorizados não respeitam a distância de 1,5 metro que tem de manter, por lei, das bicicletas ao ultrapassá-las”, aponta o ciclista Juarez Pereira, de Porto Alegre. Para Albano, ainda é muito complicado fiscalizar este tipo de infração contra bicicleta.
“O ciclista ainda é visto como ‘algo inferior’ por algumas pessoas, infelizmente”, lamenta o engenheiro. Vigna sustenta que o ciclista hoje tem que adotar uma postura defensiva no trânsito. “Não é raro encontrar um motorista mais afoito, aí o ciclista tem que ter consciência da condição de mais fraco e segurar a onda”, relata a usuária Kátia Rodrigues, de Brasília.
“Qualquer encostadinha de um veículo motorizado em uma bicicleta pode gerar um acidente grave”, alerta a professora e pesquisadora do Laboratório de Sistema de Transportes da UFRGS (Lastran), Christine Nodari.
Diante de tal panorama, especialistas em trânsito e muitos ciclistas concordam que é indispensável circular com equipamentos de segurança como capacete e luzes sinalizadoras. A questão cicloviária Outro ponto crítico é a lentidão na expansão da malha cicloviária no País, ainda que o Programa Brasileiro de Mobilidade por Bicicleta esteja ativo desde 2004, como parte da Política Nacional de Mobilidade Urbana.
“A velocidade de execução deste tipo de projeto está aquém do desejado”, diz Christine. “A evolução é muito lenta para a rapidez com que se pode instalar estruturas como ciclovias e ciclofaixas”, acrescenta Albano. Atualmente, o Rio de Janeiro é a cidade com a maior malha cicloviária do País, com extensão de 240 km, e Porto Alegre tem a menor, com 7,8 km, segundo dados do Estudo Mobilize 2011.
Por outro lado, Vigna, que trabalha na construção da ciclovia de Porto Alegre e costuma usar tanto bicicleta quanto carro para se locomover, acredita que o crescimento da malha cicloviária não seja o principal ponto para melhorar a condição do ciclista no trânsito.
“O respeito é a semente para modificar a mobilidade urbana”, defende ele. “A ideia do convívio e tolerância deve predominar, acima de qualquer estrutura viária”, acrescenta, e faz uma observação particular aos condutores: “Não se houve falar de ciclistas matando pedestres, mas sim de motoristas matando ciclistas e pedestres.”
Mudança necessária
Para ciclistas e especialistas em trânsito, existe um desafio comportamental e cultural a ser enfrentado nas cidades brasileiras. “Muita coisa tem que mudar, sempre tem quem que ache que a bicicleta tem que rodar na calçada, que a bike está roubando o lugar do carro na rua”, relata o ciclista Pablo Gallardo, de São Paulo.
“Entendo que fazemos parte de um processo de mudança de mentalidade dos condutores, mas isso requer tempo, é cultural mesmo”, opina Kátia. A professora do Lastran concorda com a visão dos ciclistas, de que a cultura do trânsito brasileiro precisa mudar. Ela acredita que iniciativas dos próprios ciclistas vem criando este corpo de reconhecimento.
“Os ciclistas estão se mobilizando e isso já está trazendo mais resultado do que ações oficiais do governo”, diz. A pesquisadora faz questão de lembrar que os motoristas, inclusive, saem ganhando com o incentivo e respeito ao uso da bike para mobilidade urbana, pois isso influencia o volume de carros em congestionamentos e também a qualidade do ar nas grandes cidades.
Ela, Vigna e Albano são categóricos ao afirmar que, no futuro, todos poderão notar os benefícios que a bicicleta traz à sociedade. “Acredito que podemos conviver muito bem se cada veículo respeitar o espaço do outro”, reforça Kátia.
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