O delator do suposto esquema de corrupção conhecido como mensalão do DEM, Durval Barbosa, disse nesta terça-feira, em audiência na 2ª Vara da Fazenda Pública do Distrito Federal, que o vice-presidente da República, Michel Temer, era um dos quatro líderes do PMDB que dividia a mesada que o partido recebia em troca do apoio político ao ex-governador do DF José Roberto Arruda (sem partido, ex-DEM).

Segundo Durval Barbosa, o ex-governador teria afirmado, em reunião com a cúpula do governo, com cerca de 100 participantes, que o apoio do PMDB lhe custara R$ 1 milhão ao mês. Ainda conforme o delator, Arruda confessou que o dinheiro era distribuído por Tadeu Filippelli, então deputado e atual vice-governador, e dividido com outros quatro líderes do PMDB. “Michel Temer, Aluísio Alves e um tal ‘Cunha’, que não recordo o prenome. Havia um quinto participante, mas já morreu”, afirmou. Segundo Durval, Arruda teria dito ainda que, se Filippelli tivesse pedido o dobro do dinheiro em troca de apoio, ele pagaria.

O delator do suposto esquema também afirmou no depoimento que um dos réus do processo, o deputado distrital Roney Tanios Nemer (PMDB), passou a apoiar o governo Arruda depois que o então chefe de gabinete do governador, Fábio Simão, cooptou Filippelli a mando de Arruda. Segundo Durval, os dois políticos não se falavam e, quando Filippelli trouxe seu bloco para a base aliada, Arruda teria se vangloriado “aos quatro ventos”.

Roney Nemer prestou depoimento antes de Durval e negou qualquer participação no esquema. O deputado distrital disse que passou a fazer parte da base do governo Arruda depois que Tadeu Filippelli, líder do grupo do PMDB ao qual pertencia, decidiu apoiar o governador.

O parlamentar também disse desconhecer que as iniciais “RNeH” e “RN”, encontradas em uma lista na casa do conselheiro licenciado do Tribunal de Contas do DF Domingos Lamoglia se referiam a ele, conforme afirmou Durval. “Se contabilizaram dinheiro com o meu nome foi sem minha autorização, pois nunca recebi qualquer quantia”.

Durval Barbosa acusou Roney Nemer de receber R$ 30 mil e R$ 11,5 mil de “mesada”. O delator, no entanto, disse desconhecer de quem o deputado recebia o dinheiro. “Podia ser de qualquer um dos captadores já citados por mim”, afirmou. Durval também não soube informar o período correspondente à mesada.

O mensalão do DEM
O chamado mensalão do DEM, cujos vídeos foram divulgados no final de 2009, é resultado das investigações da operação Caixa de Pandora, da Polícia Federal. O esquema de desvio de recursos públicos envolvia empresas de tecnologia para o pagamento de propina a deputados da base aliada.

O então governador José Roberto Arruda (sem partido, ex-DEM) aparece em um dos vídeos recebendo maços de dinheiro. As imagens foram gravadas pelo ex-secretário de Relações Institucionais, Durval Barbosa, que, na condição de réu em 37 processos, denunciou o esquema por conta da delação premiada. Em sua defesa, Arruda afirmou que os recursos recebidos durante a campanha foram “regularmente registrados e contabilizados”. Em meio ao escândalo, ele deixou o Democratas.

As investigações da Operação Caixa de Pandora apontam indícios de que Arruda, assessores, deputados e empresários podem ter cometido os crimes de formação de quadrilha, peculato, corrupção passiva e ativa, fraude em licitação, crime eleitoral e crime tributário.

Acusado de tentar subornar o jornalista Edmilson Edson dos Santos, o Sombra, testemunha do caso, Arruda foi preso preventivamente em fevereiro de 2010, por determinação do Superior Tribunal de Justiça, que ainda o afastou do cargo de governador. Ele ficou preso por dois meses e, neste período, teve o mandato cassado por desfiliação partidária.