Delta abandonou Arco Metropolitano; obra está sem data para ser inaugurada

Lançada em 2008 com festa pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva e pelo governador Sérgio Cabral como solução para a integração viária do Grande Rio, a obra do Arco Metropolitano, que deveria ser inaugurada em 2010, além de estar incompleta não tem mais prazo para terminar. A responsabilidade é da Delta Construções, que […]

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Lançada em 2008 com festa pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva e pelo governador Sérgio Cabral como solução para a integração viária do Grande Rio, a obra do Arco Metropolitano, que deveria ser inaugurada em 2010, além de estar incompleta não tem mais prazo para terminar. A responsabilidade é da Delta Construções, que abandonou um dos trechos do Arco, sem sequer montar o canteiro de obras.

Trata-se de um dos quatro trechos – que ligaria a BR-101, em Manilha, à BR-116 (Rio-Teresópolis), em Santa Guilhermina – onde o trabalho sequer foi iniciado pela Delta, uma das empresas do do consórcio vencedor da licitação. A empreiteira de Fernando Cavendish, amigo do governador Sérgio Cabral, alvo das investigações da CPI Mista do Cachoeira, abandonou a obras após ter problemas com fornecimento de areia e até falta do licenciamento ambiental.

O projeto do Arco Metropolitano é uma promessa antiga, citada desde a década de 1970. Durante o seu lançamento, o vice-governador e secretário de Obras do Estado, Luiz Fernando Pezão, exaltou os benefícios que o anel viário, parte do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), traria ao estado:

“Será uma obra de grande impacto na economia fluminense. Além de desafogar o tráfego da Região Metropolitana, em especial da Avenida Brasil e da Ponte Rio-Niterói, também facilitará o transporte de cargas de Minas Gerais, Espírito Santo e São Paulo ao Porto de Itaguaí, viabilizando este terminal”, prometeu Pezão em 2008.

Os benefícios, no entanto, ainda estão longe das vistas do cidadão fluminense. Quando do lançamento inicial em 2008, apenas alguns trechos da obra foram iniciados. O contrato com a Delta, por exemplo, só foi assinado em fevereiro de 2010. Totalizava R$ 536 milhões. Valor nada desprezível, mas que não sensibilizou a Delta.

De acordo com o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte (DNIT), decorridos quatro anos de lançamento solene quando começaram as primeiras obras, dois além da previsão para a inauguração, apenas 46,83% das obras foram terminadas. Apenas dois dos quatro trechos previstos foram concluídos: a ligação entre o Porto de Itaguaí e Saracuruna; e a ligação entre Saracuruna e Santa Guilhermina, único trecho concedido à iniciativa privada.

A situação mais complicada é no trecho entre Manilha e Santa Guilhermina. Destinado a escoar a produção do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), o projeto nem sequer saiu do papel. O trecho foi conquistado pelo consórcio formado pela Delta e pela empreiteira Oriente.

Em depoimento à CPI do Cachoeira, o ex-diretor do DNIT, Luiz Antônio Pagot, afirmou que o consórcio fez de tudo para protelar a obra desde a assinatura do contrato, em fevereiro de 2010. Ele classificou o fato como “estranho”, uma vez que sem o canteiro de obras e o início da construção não haveria sequer repasse de recursos às empreiteiras.

Enquanto diretor do DNIT, Pagot defendeu que a empresa fosse intimada a começar a obra e, após a segunda advertência, fosse chamada a segunda colocada na licitação para assumir a obra, mas isto não aconteceu.

Durante os mais de dois anos sem iniciar a obra, o consórcio capitaneado pela Delta usou diversos motivos para justificar o atraso. As explicações variaram da falta de licenciamento ambiental, por conta de uma espécie de pererecas ameaçada de extinção que foi encontrada na área, até a falta de reserva de jazidas para o fornecimento de areia para o empreendimento.

Tudo isto, segundo o próprio DNIT, gerou um “desequilíbrio financeiro”,. Há informações, inclusive, de que a Delta teria sido surpreendida pela Polícia Federal tentando comprar areia, ilegalmente, com milícias de Itaguaí, na Baixada Fluminense, para utilizar nas obras do Arco Metropolitano.

Agora, o governo federal cuida do processo de rescisão contratual. Só depois disso, fará outra licitação. Todo o processo faz com que o DNIT não tenha qualquer previsão da data de conclusão dos trabalhos.

Arco Metropolitano desafogará trânsito do Grande Rio, afirma especialista

De acordo com o professor Márcio de Almeida D’Agosto, coordenador do programa de engenharia de transportes da Coppe/UFRJ, o Arco Metropolitano terá um impacto positivo no trânsito do Rio de Janeiro e de cidades vizinhas. Segundo ele, o transporte de cargas ficará fora do perímetro urbano:

“Terá um impacto no perfil do tráfego de caminhões, que vão parar de passar por vias no interior dessas cidades. Isso retirará o tráfego de caminhões da Avenida Brasil e de outras vias. É um veículo mais lento, que provoca retenções. Também há o benefício ambiental, já que esses veículos despejam na atmosfera local partículas poluentes, com a chamada fumaça preta. De uma forma geral, a inauguração do anel melhora a qualidade do trânsito do Rio”, explica.

Para o especialista, os candidatos à prefeitura das cidades do Grande Rio deveriam se preocupar com essa questão, mas não se vê a questão do Arco Metropolitano ser discutida nas campanhas:

“No caso do Rio, é a falta de visão dos candidatos quanto ao entorno da capital. Não sei se em cidades como Itaguaí, Duque de Caxias e Magé, que serão afetadas diretamente, isso está sendo falado. Mas no Rio, onde o benefício é indireto, nenhum candidato aborda a questão. Não é algo que seja da esfera municipal, mas o prefeito pode influenciar politicamente nessas questões”, conclui.

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