Cúpula da UE pode firmar mudança de rumo na solução da crise
A cúpula da UE deverá ser marcada por uma série de debates difíceis não só para a solução da crise, mas para o próprio futuro do bloco. Apesar das desavenças, todos concordam que a crise exige mais mudanças.
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A cúpula da UE deverá ser marcada por uma série de debates difíceis não só para a solução da crise, mas para o próprio futuro do bloco. Apesar das desavenças, todos concordam que a crise exige mais mudanças.
Os encontros de cúpula da União Europeia (UE) estão acontecendo em intervalos cada vez mais curtos. Mesmo assim, os problemas continuam. Com os recentes pedidos de socorro de Espanha e Chipre, logo cinco Estados estarão dependendo do apoio do fundo de resgate europeu.
Os mercados continuam nervosos. As taxas de juros para Espanha e Itália estão em um nível insustentável a longo prazo. E embora a Grécia tenha agora um governo disposto a satisfazer as exigências dos credores, o primeiro-ministro Antonis Samaras apela por melhores condições.
E a Grécia parece estar ainda bastante atrasada nas reformas e programas de austeridade previamente acordados. “A Europa está enfrentando um desafio que nós, europeus, queremos e precisamos superar. E essa crise da dívida requer que possamos confiar em todos os parceiros”, afirmou o ministro do Exterior alemão, Guido Westerwelle, acrescentando que, para os receptores de auxílio “não poderá haver concessões nem descontos”. Ele, entretanto, acredita que a crise será superada.
Se dependesse do governo alemão, tudo poderia ser muito simples: cada Estado enxuga seu orçamento e aumenta, assim, a competitividade. A Alemanha tem também aliados que compartilham dessa opinião dentro da união monetária, especialmente Holanda, Finlândia e Áustria e, fora da zona euro, com é o caso da Suécia. Entretanto, a França, até agora uma das aliadas mais próximas, passou para o outro lado. O novo presidente socialista, François Hollande, está fazendo, em sua política previdenciária e para o mercado de trabalho, exatamente o oposto do que Berlim quer.
Entusiasmo perdido
E na Itália, parece que o entusiasmo inicial por reformas do premiê Mario Monti está desaparecendo. Monti disse o porquê disso durante uma recente conferência em Bruxelas, de que participou por videoconferência. “Mais cedo ou mais tarde haverá resistência à disciplina estrutural e financeira que estamos implementando”, afirmou, alertando em seguida que os países “que têm o enorme mérito de a UE ter introduzido a cultura da estabilidade, especialmente na Alemanha, devem refletir sobre isso”.
Aos olhos de Monti, Hollande e outros, na União Europeia muito se poupa, mas muito pouco se faz para fomentar crescimento e o emprego. Sobretudo o desemprego juvenil é alarmante em muitos países, chegando a 50% na Grécia e na Espanha. A cúpula deverá fechar um pacto de crescimento. A chanceler federal alemã, Angela Merkel, não tem qualquer objeção, a princípio, desde que nenhuma dívida nova seja feita. Na sua opinião, entretanto, o crescimento deve ser obtido com trabalho árduo. Muitas ideias, sejam elas vindas da Itália, dos Estados Unidos ou da Comissão Europeia, parecem ser para Merkel uma forma barata de evitar o esforço próprio.
Ideias como união bancária, fundos para pagamento de dívidas ou títulos de dívidas comuns são, para Berlim, sinônimo de coletivização da dívida às custas da Alemanha. Através delas, acredita Merkel, perde-se a disciplina, e a forte Alemanha pode ficar sobrecarregada. Mas será que a chanceler federal não terá que ceder a tanta pressão algum dia? O eurodeputado alemão Herbert Reul acha que não. “Há situações em que mesmo a mais forte pressão não consegue levar um político a fazer coisas totalmente absurdas, como é o caso da ideia de compartilhar a dívida”, afirma o democrata-cristão, membro do mesmo partido de Merkel.
Mudanças necessárias
A partir da atual situação de impasse, todos os lados chegaram à conclusão de que o gerenciamento da crise não pode continuar como está. Angela Merkel está convencida de que zona do euro e até mesmo toda a UE deve dar um grande passo de integração para diante. E é nisso que acreditam os quatro principais líderes da UE, que desenharam um grande projeto para o futuro.
O presidente da Comissão Europeia, José Manuel Barroso, o presidente do Conselho Europeu, Herman van Rompuy, o chefe do Grupo do Euro, Jean-Claude Juncker, e o presidente do Banco Central Europeu, Mario Draghi, apelidados pelos jornalistas de Bruxelas de “o bando dos quatro”, querem apresentar seu documento durante a cúpula. Barroso já citou na terça-feira um aspecto importante do texto, ao dizer que “o ponto central é o princípio de que uma maior solidariedade e uma maior responsabilidade devam andar de mãos dadas. Cada passo rumo a uma maior solidariedade será acompanhado por um passo correspondente, rumo a uma maior responsabilidade.”
Projeto arrojado
Isso poderia tranquilizar um pouco a chefe do governo alemão. Porque ela sempre tem ressaltado que, sem mais controle europeu e opções de intervenção nos orçamentos nacionais, ela não vai concordar com uma maior responsabilidade por parte da Alemanha. Mas todos os participantes da cúpula estão conscientes do arrojo desse projeto. Barroso também admite que algumas medidas irão requerer alterações no contrato europeu. Resta saber se outros governos vão se deixar convencer. Ou eles não querem abdicar de muita soberania, ou não podem, por razões constitucionais – ou talvez ambos. Também na Alemanha, poderá haver um problema constitucional.
Merkel aparentemente repreendeu seu ministro das Finanças, Wolfgang Schäuble, depois que ele falou à revista Der Spiegel sobre um possível referendo na Alemanha sobre uma maior integração europeia. Mas os europeus já chegaram a uma conclusão: se tudo continuar como está, a união monetária vai quebrar, mais cedo ou mais tarde. Os membros desse clube devem se unir de forma muito mais estreita se quiserem evitar que isso aconteça.
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