“Tudo o que fazemos – seja estudar, namorar, rir, chorar, pesquisar – tudo é resultado de reações químicas em nosso sistema nervoso e muscular. Se são reações químicas, precisam de nutrientes, portanto, tudo o que fazemos tem a ver com alimentação”. Partindo deste argumento, a médica Clara Brandão, criadora da Farinha Multimistura, palestrou na Universidade Federal da Grande Dourados na manhã desta terça-feira, dia 13 de junho de 2012, durante o 15º Workshop de Plantas Medicinais.

Em sua palestra, a médica buscou demonstrar como uma alimentação adequada preserva a saúde e o patrimônio genético podendo evitar doenças crônicas como o câncer. A médica falou sobre o papel e os sintomas causados pela falta de diversos nutrientes como cálcio, zinco, ferro, manganês, complexo de vitaminas B, entre outros. Além disso, Clara apresentou diferentes alimentos que podem ser fontes desses nutrientes.

O destaque vai para a folha da mandioca, rica em cálcio, zinco, ferro, manganês, selênio, e complexo de vitaminas B. O que falta para a folha de mandioca é complementado pela semente de gergelim ou de abóbora, ricas em proteínas. A Farinha Multimistura criada pela médica Clara Brandão foi disseminada no Brasil na década de 1980 através da Pastoral da Criança, e até hoje PE usada na erradicação da mortalidade infantil por desnutrição no Brasil e em mais 15 países em desenvolvimento.

Atualmente, a fórmula da Farinha Multimistura contém 70% de farelo (de arroz ou de trigo), 15% de folhas escuras (de mandioca ou de abóbora), e 15% de sementes (de abóbora ou de gergelim). Pesquisas apontam que com uma colher de multimistura por dia adultos e crianças têm todas as vitaminas e nutrientes necessários para ter qualidade de vida adequada.Ou seja, a farinha Multimistura não é apenas para crianças em subnutrição ou desnutridas. “A multimistura não é só para pobre. Nem só para rico. Ela é boa para todo mundo. Seu corpo não sabe de quanto é o seu salário”, brincou a médica.

Conhecer as plantas locais

Apesar de a farinha multimistura ser uma fonte de suplementação alimentar, a médica Clara Brandão é uma defensora da diversificação da alimentação. Seu ponto de vista é o de que precisamos conhecer e usar mais plantas para nos alimentar cada vez melhor.

“Uma pessoa analfabeta tem um vocabulário de aproximadamente 500 palavras. Para essa pessoa fica difícil explicar certas coisas porque faltam palavras que ela compreenda. A mesma coisa é com quem não conhece as plantas medicinais, é um analfabeto em alimentação adequada”, comparou Clara Brandão.

Ela destacou também que a alimentação correta não é necessariamente de alto custo. “Carne, leite, ovo e peixa não são essenciais para manter a saúde, desde que se use uma variedade e uma quantidade adequada de vegetais. Alimentação boa não é cara, não precisa de tecnologia, investimento, precisa de conhecimento”, afirmou.

Os conhecimentos que a professora apresentou em sua palestra redundam na valorização de alimentos que não são aproveitados na culinária contemporânea, mas que são de alto valor nutritivo e tem várias funções de prevenção de doenças. A mandioca é uma planta barata, que é cultivável em todos climas do Brasil, e além de tudo é adequada para a pequena propriedade podendo garantir maior renda, boa alimentação e qualidade de vida para os camponeses. O que falta para garantir tudo isso é mudar a cultura alimentar brasileira e inserir a folha da mandioca na alimentação.