Os futuros comandantes da CPI do Congresso que investigará a relação de agentes públicos com Carlinhos Cachoeira, acusado de liderar uma rede de jogos ilícitos, sinalizaram que não pouparão colegas ou o governo e anunciaram que as investigações “não começam do zero”, mas de um ponto “além do que a imprensa abordou até o momento”.

“A partir dos indícios, produziremos uma investigação doa a quem doer”, disse o deputado Odair Cunha (PT-MG) logo após ser indicado relator.

Há um temor entre aliados, oposição e empresários de que a já chamada “CPI do fim do mundo” acabe por envolver muitos nomes além dos que foram apresentados até o momento – parlamentares do DEM, PSDB, PT e funcionários do governo. A base da investigação será a documentação sigilosa produzida em duas operações da Polícia Federal, que está no Supremo Tribunal Federal (STF).

O futuro presidente da comissão, senador Vital do Rêgo (PMDB-PB), chegou a brincar com o fato de ela funcionar no mesmo local onde ocorreu a CPI dos Correios, uma das mais bombásticas que o Congresso já realizou.

Ao lado de Cunha, anunciado nesta terça relator, Vital defendeu um trabalho detalhado, com funcionários especializados, que não “judicialize” a CPI. Mais ainda, ele se mostrou preocupado com a possibilidade de documentos sob sigilo de Justiça não sejam indevidamente divulgados.

“É a minha primeira iniciativa, requerer (à PF) o que já está processado… mas a CPI não pode incorrer em crime (deixando que a documentação vaze)”, afirmou Vital do Rêgo a jornalistas.

Os dois parlamentares afirmaram que farão um trabalho conjunto, com decisões colegiadas entre os 32 membros da comissão. “A presidência e a relatoria vão ser um corpo só”, afirmou Vital.

Cunha, escolhido com a interferência do Planalto depois de dias de embates entre deputados do PT, anunciou que o primeiro passo será requer a íntegra dos documentos da PF.

“Não vamos começar do zero, vamos começar a partir dos documentos da PF, que é mais do que a imprensa abordou”, disse ele, em uma demonstração do escrutínio de provas e denúncias a que está disposto a conduzir.

Na tarde desta terça, parlamentares da oposição se dividiram entre questionar a firmeza do relator escolhido e elogiar o fato de ele não fazer parte da cúpula paulista do PT. Outros dois deputados cotados para o cargo eram considerados mais experientes: o ex-líder do governo na Câmara Cândido Vaccarezza (PT-SP) e o ex-líder do PT na Casa Paulo Teixeira (PT-SP).

PRORROGAÇÃO

Ambos fazem parte da comissão, mas foram preteridos em um processo de disputa interna e da interferência direta do Planalto na escolha do relator – cargo considerado decisivo para o andamento da CPI.

A leitura em plenário dos 32 nomes indicados para a CPI foi feita na noite desta terça, permitindo que na quarta ocorra a primeira reunião que formalizará os nomes do presidente, vice e relator. A primeira sessão de trabalho é estimada para daqui a duas semanas, por causa do feriado de 1o de maio.

Vital afirmou que está arregimentando um time de funcionários técnicos das duas Casas com experiência em outras CPIs. Contrários à criação de subrelatorias, pelo risco de vazamentos e demora na tramitação da CPI, os dois falaram, já no primeiro encontro formal, em prorrogação da comissão, prevista para durar 180 dias.

O motivo seria o recesso parlamentar e as eleições municipais. “Eu vou perguntar ao colegiado: ‘quer parar?’, ‘quer suspender?’ e o colegiado vai decidir de uma forma madura, de acordo com a investigação”, disse Vital.